sábado, 12 de abril de 2008

POSTAL GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DE CABINDA


Provérbio Cabindês: “ Nzingu Kikanga Nzambi: Muntu limonho pódi Kikútula ko.”-
Liana que Deus amarra: O homem não a pode desamarrar.

Na minha perspectiva, Cabinda é uma ilha continental, autêntico Éden Equatorial. O meu amigo e patrício, já falecido, André Mingas, que foi assessor da Presidência da República de Angola, dizia, com muito orgulho, que Cabinda poderia ser a “Suiça Africana”.
Na realidade, a sua singular localização geográfica mereceu-lhe a atribuição da designação natural de “Enclave”, por ter como fronteiras, a Norte a República do Congo (ex-congo francês), a Leste e Sul a Repúplica Democrática do Congo (ex-congo belga) e a Oeste o Oceano Atlântico, A separá-la de Angola, além de território estrangeiro, ainda tem o Rio Zaire (Congo), o 2.º maior rio de África, a seguir ao Nilo.

ESBOÇO DO LIVRO "FILHOS DE UM PARAÍSO PERDIDO - HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA CABINDESA DE COLONOS"

INTRODUÇÃO

Provérbio Cabindês: “Kupódi túmuka ko. Nti ava kaménina”. (Ninguém pode arrancar: A árvore adulta que já tem raízes).

Ao abraçar a missão de escrever este livro, tenho como única finalidade concretizar três objectivos: a)-fazer justiça ao colono cabindês; b)-evidenciar e valorizar a família Serrano (personificada pela figura de meu pai, Comendador Artur Henriques Serrano), na sua missão altruísta simultânea de colono e missionário civil; c)-demonstrar que a sua obra, embora veladamente reconhecida como meritória, foi injustamente premiada com a confiscação de todos os bens da nossa família.

Desta última circunstância, resultaram danos gravíssimos para o nosso bem-estar com a deriva e o colapso totais, sentindo-nos traídos dos valores porque tanto lutámos, não reencontrando espaço e ambiente propícios ao desenvolvimento de projectos e concretização de objectivos inatingíveis.

O desenraizamento precoce de meus filhos para terras lusitanas em convulsão, privou-me dos meios materiais e emocionais bastantes que me permitissem a sua reimplantação cuidada e assistida de molde a poder assegurar-lhes o futuro de que eram merecedores. Perante o permanente confronto com a rejeição e bloqueio implacável a que fomos sujeitos nunca nos foi possível reiniciar a vida como seria justamente desejável.

As barreiras eram constantes, as portas fechavam-se umas a trás das outras e, não fosse a estrutura humana que caldeava a nossa vontade férrea de vencer, baseada nos princípios da sobrevivência africana, teríamos sucumbido a todas as contrariedades. Graças a Deus, soubemos persistir honesta e humildemente sem compensações relevantes, apenas suficientes para permitirem a nossa sobrevivência, enquanto os nossos bens de um milhão de contos continuam na posse ilegítima e ilegal dos senhores do poder, perante a indiferença e o beneplácito dos sucessivos governos de Portugal.

À nossa família sobra saúde, laços de união e fé inquebrantáveis e mais alguns anos de vida para assistir, cá na Terra, ao julgamento e justiça que a Providência se encarregará de fazer para que seja reposta a legalidade exigida.

Deixo um apelo aos meus familiares para que tenham Fé em melhores dias que a Aurora da nossa verdadeira Terra Africana nos indicia que prossigamos sem fraquejar.




segunda-feira, 7 de abril de 2008

A NOSSA BIBLIOTECA E A INFORMAÇÃO A AVULSO

( Publicado )

Os livros que vamos arrumando nas prateleiras do nosso espaço constituem um espólio importante para a nossa permanente actualização e avaliação das realidades vividas. Na informação a avulso, recorremos às revistas e jornais e outros meios de comunicação, como veículos informativos apelativos, pelo deslumbramento da sua apresentação plástica e da sua fácil assimilação.

São duas realidades distintas, em que a nossa biblioteca é muito mais valiosa sob o ponto de vista de formação e do conhecimento, do que as notícias do quotidiano. Os livros encerram toda a verdade realista e ficcionada sobre os factos vividos e prováveis de viver. A informação diária, embora mais mediática, tem os seus vícios de criação que, por motivos comercialistas, falseia e fantasia a verdade dos factos e dos acontecimentos.

Há o interesse sedento de estarmos informados a todo o momento, através dos mais diversos meios de comunicação, mas, inadvertidamente, acabamos por ficar confusos com tanta informação difusa e variada, sobre os mesmos assuntos, duvidando da sua credibilidade. Temos de reconhecer que esta prática se tornou automática e rotineira. Será, todavia, aconselhável e desejável que estes hábitos sejam preteridos para plano secundário, em alternativa pela leitura de bons livros, de autores de reconhecido mérito, cujos temas neles tratados, mesmo escritos há centenas de anos, são sempre actuais. Constitui excepção a imprensa regional que mantém a sua genuinidade e nos dá conhecimento de acontecimentos locais de interesse e oportunidade, para além dos artigos de opinião e crónicas sobre temas abrangentes.

Não é por acaso que os jovens, na idade da adolescência, manifestam maior interesse pela leitura em busca dos mistérios que o mundo lhes revela, despertando-lhes o desejo ardente e permanente de fazerem descobertas. Normalmente, essa apetência pela leitura acaba por se esbater, à medida que a sua incursão pela vida profissional activa, os vai absorvendo sofregamente. Esporadicamente, vão lendo um ou outro livro mais publicitado, mas o verdadeiro gosto pela leitura perde-se completamente, sendo substituído pela televisão, pela Internet e em muito menor escala pelos jornais, por ser o método mais simples, cómodo e rotineiro de estarem informados. Já na última fase da vida reavive-se nos espíritos o desejo e a apetência de regressar à leitura dos livros que permanecem intocáveis nas suas bibliotecas, baluartes do seu saber e conhecimento.

PENSAMENTOS/REFLEXÃO

(Inédito)

»Assistir impávido à auto-destruição da humanidade é negar a nossa própria existência. Muitos iluminados servem-se da política, pensando que é a única via para a solução dos problemas que afligem a humanidade. Mas, sem se aperceberem, ou, apercebendo-se da inviabilidade e ineficácia dessa acção, acabam por tirar proveitos próprios que, egoisticamente, prejudicam gravemente os indefesos.
»Quem se colocar de fora do sistema instituído, nunca conseguirá concretizar os seus projectos leais e únicos possíveis de congregar, num projecto de justiça e solidariedade, os mais oprimidos.
»É aberrante e demasiado chocante assistir ao sacrifício de vidas humanas por todo esse Mundo, com particular incidência no Hemisfério Sul, onde, a par da predominância da riqueza das matérias-primas, mal repartida, ainda se acentua mais a escravidão pela privação de direitos humanos e de justiça social, aumentando o já elevado índice de pura sobrevivência.
»Neste quadro desolador e chocante, sobressai Africa, por ironia, geradora do povoamento da Terra, que, por ter optado manter-se fiel às sua tradições genuínas, deixou-se ultrapassar por colonialistas e neocolonialistas que a exploram com o desassombro da maior desumanidade e humilhação, embora com a conivência de alguns actores da cena política africana.