quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A MAIS E MENOS VALIA DO LIXO

INÉDITO

Não nos deve surpreender o facto do lixo estar a produzir boas mais valias a certa gente, em Portugal e menos valia à maioria das pessoas. Este fenómeno é resultante dos agentes envolvidos neste desiderato, se identificarem com o próprio lixo com que recolhem avultadas mais valias.

O lixo foi sempre um elemento importante no desenvolvimento das Nações, em virtude de através dele se purificar o ar e o ambiente, desde que esse lixo seja reciclado. Todavia, nem todo o lixo é susceptível de sofrer reciclagem, pois parte dele mantém-se vivo, ficando com as mais valias do lixo reciclado. Para que o lixo vivo e implacável se mantenha indestrutível, continua uma grande parte da população anónima a suportar a factura e a empobrecer invisível mas dolorosamente, acabando, nalguns casos, por ter de recorrer à remoção dos restos e resíduos do lixo que sobra para poderem sobreviver.

O próprio País vai sofrendo a erosão desse lixo, tanto com o reciclado (que produziu avultadas mais valias a certos oportunistas) como com o lixo por reciclar que fica a poluir o ar que respiramos e o ambiente humano progressivamente mais desumano e anti-social.

Perante este panorama, há que as entidades governantes e de justiça actuarem para reciclar o próprio sistema, purificando a democracia das suas ervas daninhas e doenças endémicas, evitando que o Nosso País se transforme num grupo de indivíduos do 4.º Mundo, hipotecado e sem viabilidade. Desculpem o meu pessimismo, mas, por experiência própria, sinto na pele esse efeito nocivo.

DUAS PAIXÕES







INÉDITO




Os meus 11 anos deixavam-me sensível e atento a tudo que fosse novo e diferente. Era a idade das descobertas, do querer saber mais e mais. Por isso, quando deixei Cabinda e cheguei a Lisboa, tive a sensação de ter mudado de Mundo.

A minha viagem de barco de carga foi atribulada, pois chegou a andar à deriva, à mercê de ondas de 15 metros, numa luta titânica em riscos de afundar, mas que, por protecção divina, não se consumou a tragédia. Depois de 40 dias de viagem, chegámos finalmente a Lisboa, sendo de imediato surpreendido com a entrada da barra do Tejo, deslumbrante e misteriosa.

Ficámos instalados na Pensão Brancamp, na rua do mesmo nome, onde o edifício está inteiramente recuperado e integrado numa arquitectura moderna. À noite, na companhia de meus pais e meu irmão mais novo, fui descobrir Lisboa nocturna. Descemos a Avenida da Liberdade e um eléctrico – transporte muito utilizado naquela época -, deixou-me completamente deslumbrado, pois no meu imaginário, era uma casa com muitas luzes com rodas e a andar. O parque Mayer transmitiu-me magia com o misto de paraíso feérico de música e luzes, com muitas e curiosas diversões e principalmente fados. A voz que logo me impressionou e tocou foi da Amália que adulei durante toda a minha vida, embora também apreciasse a Hermínia Silva.

Reiniciei em Lisboa a minha vida estudantil, completando o ensino primário num colégio privado e ingressando automaticamente na Escola Comercial Patrício Prazeres cujo curso tirei em 4 anos. Os professores, o nível de ensino, a disciplina, o rigor dos horários, os recreios e os amigos deixaram-me boas recordações.

Por todas estas razões apaixonei-te eternamente por Lisboa e por Amália, dois símbolos da identidade Nacional que, para os merecermos, devemos saber respeitar e preservar para sempre.

A MINHA AMADA NOITE

INÉDITO

Espero por ti, noite amada e terna,
Quero contigo os sonhos partilhar.
Não consigo pensar nem imaginar,
Fantasias e projectos para o futuro,
Com clareza e protecção materna,
Sem o teu aconchego mudo e surdo.


Amada noite a ti imploro e suplico,
Dai-me ideias e firme inspiração,
Para o meu pensamento e coração
Me ajudarem a idealizar e amar,
Sem pela vida carregar o crucifixo
E os meus projectos poder realizar
.
Em ti, amada noite, confio e acredito
Poderes iluminar-me o longo caminho.
Para me aqueceres e afagares com carinho,
Traçando com solidez o meu futuro,
Património familiar sublime e bendito,
Com sacrifícios construído e maduro.


Noite amada, não deixes que o dia clareie,
Tem-me no teu regaço, adormecido.
Quero sentir, noite dentro, longa ilusão,
Alimentar promessas, sonhos e ideais,
Num sono multifacetado e colorido,
Nem que sejam apenas memórias irreais.

sábado, 5 de dezembro de 2009

RECORDAÇÃO

Inédito

Silhueta de mulher esbelta e fina,
Diluída no ar perfumado do seu leito,
Fiel prisioneira da minha retina,
Corpo trigueiro, redondo, perfeito.

Preso fiquei por mil instantes,
Ardendo de tentadores desejos,
De em meus ideais exultantes,
Enviar-lhe arautos e mensageiros.

Temendo recusas e ameaças,
Pela sua lembrança me fiquei,
Sonhando e vivendo ilusões,
Como um dia a possuir desejei.

Jamais em a perder me conformei,
Para outro alguém a possuir,
Ninguém mais senão eu tentei,
Dar-lhe felicidade sem mentir.

Nunca ela o sinal compreendeu,
Do amor que tanto lhe dediquei,
Do castigo que a mim me deu,
Por toda a vida eu amaldiçoei.

Em pranto e lágrimas esquecer tentei
Da memória para sempre a dissipar,
Em vão, de meus esforços morrerei,
Sem sua silhueta da mente poder tirar.

O HOMEM ROBOT


Publicado

Logo ao nascer, o Homem torna-se um perfeito robot. Está programado para obedecer às regras e normas que a vida passa a exigir-lhe. Começa a rigidez horária seguida com os primeiros choros, a mudança das fraldas, o mamar, o banho, etc...

Na realidade o Homem, condicionado pela sua dependência da sociedade em que está inserido, tem de se sujeitar a cumprir com as exigências do protocolo rígido que a vida lhe impõe. Na sua meninice vê-se confrontado com o horário pré-estabelecido para o banho, para as refeições, para os estudos e até para brincar, pois se desobedecer expõe-se aos castigos caseiros.

Já na adolescência, começa a lidar com algumas responsabilidades como as obrigações escolares, os namoros assumidos, a escolha dos amigos a confrontação com os primeiros inimigos, etc... A transição para a vida activa, além de penosa e de responsabilidade, revela-se de uma confrontação permanente com novas realidades e normas de rigidez crescente. Como Homem a corpo inteiro, o cidadão toma maior consciência do seu lado Robot, por concluir que não pode reger só por si a sua vida, dependendo em grande parte da sociedade. Os compromissos que assume com a sua família, com a sua vida profissional, com os seus amigos, com os seus deveres cívicos e outros tornam o Homem um perfeito Robot.

Já na idade madura e idosa, o Homem mais Robot se sente, pela sua dependência se acentuar com os horários mais rígidos a cumprir com os cuidados de higiene, com a tomada de medicação, com as refeições, com as horas de descanso, com os momentos de lazer, etc... Este formato e sina a que o Homem foi moldado, não pode ser alterado por qualquer invento científico.

PRIMITIVOS?


Publicado


A minha interrogação para este tema tem a ver apenas com a dúvida que ainda pode suscitar a alguns leitores o facto de a Humanidade estar a regredir nos seus comportamentos e valores para o primitivismo. Esta é a minha visão e eu não tenho dúvidas de que este fenómeno ocorre dum modo crescente e natural.

Não se confunda o progresso técnico e tecnológico conseguido e que prossegue o seu sucesso no domínio das mais variadas ciências. Esta componente do ser humano não tem a mesma correspondência na vertente do consciente nas suas relações entre si, não evitando e até provocando ondas de choque de consequências maléficas que irradiam em cadeia, atingindo todos, sem excepção.

A confirmar esta minha tese, estamos a assistir, com permanência, a guerras, a assassínios, a maus tratos e violência, à pedofilia, à corrupção, ao enriquecimento ilícito, ao empolar do fosso entre ricos e pobres, às manifestações infundamentadas, aos partidarismos, às acusações mútuas, em suma, ao deficiente aproveitamento das liberdades.

Na verdade, enquanto subsistir esta filosofia de vida, o Ser Humano perderá o direito a ser considerado Inteligente, abdicando da situação privilegiada que ocupa no nosso Planeta a favor de outros seres vivos, animais e naturais que respeitam, com mais condescendência a sua diversidade e o próprio Homem. Este comportamento deveria ser um exemplo a seguir pelo Ser Humano.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

OS PARTIDOS E A FRAGMENTAÇÃO DA SOCIEDADE

(INÉDITO)

Depois do 25 de Abril de 1974, uma esperança de reconciliação da sociedade iluminou o coração dos portugueses, especialmente daqueles que mais lutaram pelas liberdades de expressão e de acção.

A breve trecho essa esperança foi-se desvanecendo, com a consolidação dos partidos cada vez mais empenhados em doutrinarem os seus seguidores com ideologias e doutrinas irrealistas e em muitos casos utópicas. Os mais esperançados no porvir de melhorias e bem-estar das suas vidas, sentiram-se enganados por promessas não cumpridas até aos dias de hoje.

Assistimos pois a um cenário nunca imaginável de mais pobreza e maior injustiça social. Quem estiver atento aos dramas que envolvem famílias e pessoas, não pode deixar de ficar tocado por situações difíceis senão impossíveis de resolver.

Houve uma fermentação da política que tornou impossível a aplicação de (leis) – princípios e regras correctoras de desvios e desrespeito que enfermam a sociedade -. Instalou-se nos espíritos um sentimento de “salve-se quem puder”, não se olhando a meios para atingir os fins malevolamente cogitados. Por este motivo, tudo continuará na mesma para servir os interesses particulares daqueles que ditam as regras.

OLHOS DE PÉROLAS

(INÉDITO)

Nesses olhos de pérolas, algo estranhos,
Busco e nada encontro, apenas um vazio,
Luto e não desisto, de tão vil martírio,
Neles descubro apenas vagos sonhos.

Encantado com tal encantamento,
Não esqueço, guardo-os com egoísmo
Receio de os perder num momento,
Por inocência e puro amadorismo.

Olhos como os teus são únicos,
Dois entre milhares que nos fitam,
Não quero os teus olhos perder,
Guarda-os para mim sempre vivos.

Os teus olhos de pérolas, são jóias
De valor incalculável e eternos,
São olhos redondos e expressivos,
Tristes e suplicantes, de sofridos.

sábado, 12 de setembro de 2009

ENSINAR E APRENDER

INÉDITO

Cada vez se torna mais difícil estabelecer uma relação pacífica entre o ensino e a aprendizagem. O resultado final não tem sido o mais desejado, devido a diversos factores que me proponho aqui abordar em linhas gerais, de acordo com a minha análise.

Antes de passar às considerações objectivas, quero estabelecer aqui uma fronteira bem marcada entre o ensino de há quatro décadas atrás, recuando mesmo até meados do século passado e a época actual. O ensino de hoje deixou de contar com os professores mais idosos que foram substituídos, como é natural, por outros de uma geração seguinte que, devido à transição do regime, após o 25 de Abril de 1974, tiveram dificuldade em manter o mesmo padrão de ensino e disciplina escolar. Por sua vez, os discípulos, da geração mais actual, devido aos progressos tecnológicos da comunicação audiovisual relegaram para segundo plano a aprendizagem dos princípios mais básicos da leitura e das contas, além dos comportamentos éticos e de civilidade.

A dificultar o aperfeiçoamento do ensino, aliando o tradicional à inovação, a tutela reguladora do ensino oficial introduziu alterações constantes e a esmo, com a profusão de directivas e exigências tão desajustadas como imponderadas. Esta indefinição permanente de um ensino objectivo e prático fomenta o choque inevitável entre os professores e os alunos e os próprios auxiliares de educação e os pais dos alunos.

Para que haja um reencontro com a boa qualidade do ensino, há que manter tudo o que era positivo no ensino de outrora (leia-se décadas de 40 a 60) e o que importa modernizar com a realidade de hoje (leia-se avanços tecnológicos), não deixando de considerar a vertente de disciplina escolar, fazendo cumprir rigorosamente os horários e presenças tanto dos docentes como dos alunos. Só assim será possível atingir metas mais audaciosas de sucesso na preparação das gerações actuais e futuras que terão de dar continuidade ao projecto de salvaguarda da Identidade Nacional de Portugal.

A FAMÍLIA, PATRIMÓNIO INALIENÁVEL


INÉDITO

Desde sempre a Família foi considerada ancestral e sagrada por ser um bem único e inalienável. As famílias, no seu conjunto, compõem as comunidades que devem servir de pilares consistentes de suporte da Nação.

Por os dirigentes da Nação subestimarem as famílias, não criando todas as condições imprescindíveis à sua consistência e bem-estar, acabam muitas por se desmembrarem. Daqui resulta uma dispersão de esforços, com muitos desvios da linha matriz da família, tendo como consequência o aproveitamento de malfeitores e mal intencionados dentro e fora da Nação. A fragilidade desta coloca-a à mercê das regras da concorrência global, posicionando-se em lugares da retaguarda, com indicies de atraso de tal ordem que se tornam difíceis de recuperar.

Em virtude de tardar que apareçam Novos Dirigentes capazes de revitalizar as famílias através de políticas mais adequadas, não se vislumbra para Portugal o posicionamento que merece na conjuntura socioeconómica actual do Globo, de acordo com as suas tradições históricas. Essas políticas são notórias e sobejamente conhecidas, passando pela educação, saúde, justiça, cultura, formação, inclusão, etc...

Para suprir estas falhas, devem as famílias envidar o máximo de esforços para conseguirem remover todas as dificuldades e obstáculos, devendo manter-se unidas com a ideia bem vincada e sempre presente de que são inalienáveis, por qualquer preço, mesmo que o seu rendimento per capita seja modesto.

CONTABILISTA, PROFISSÃO DE FÉ E DE RISCO


Publicado na "Cidade de Tomar", em 04/09/09

Perante casos frequentes de perdas prematuras de profissionais qualificados da minha classe profissional, não posso remeter-me ao silêncio, quando me apercebo, pela própria vivência e por relatos e desabafos de colegas, que a profissão de contabilista, para além de não ser valorizada, é exercida com muita entrega e fé e elevado grau de pressão e risco.

Estou convicto que muitos dos que se derem ao trabalho de ler esta minha crónica, não a tomem muito a sério, achando que há algum exagero, mas os factos são indesmentíveis na defesa da minha tese. A nossa profissão congrega cerca de 80.000 profissionais, obrigatoriamente membros da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, considerada a maior instituição profissional de Portugal.

Não obstante estarmos protegidos por algumas regalias concedidas pela nossa Câmara, as regras e o rigor deontológico a que estamos sujeitos são bastante exigentes, implicando penalidades, no caso de quaisquer infracções. As nossas responsabilidades já ultrapassaram as puras funções contabilísticas e passaram a abranger a co-responsabilidade com os nossos clientes em actos de pura gestão administrativa e fiscal, que vai brevemente estender-se ao cumprimento das obrigações junto do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. A própria aplicação do Plano Oficial de Contabilidade vai sofrer uma profunda remodelação a partir de 2010, por uniformização e imposição da UE com novo Plano que vai obrigar à substituição do software actual. Esta fase vai coincidir com a passagem da nossa Câmara a Ordem, o que vai acrescer as nossas responsabilidades.

Também a Administração Fiscal tem transferido para os TOC, a responsabilidade da disponibilidade imediata da maior parte da informação para efeitos de controle e fiscalização tributária, cujo incumprimento, por qualquer circunstância ou factores imponderáveis, dará lugar a coimas a que os TOC não poderão escusar-se perante os seus clientes.

Por último, perfilam-se os clientes, de características muito diversas, a maior parte desorganizados e fragilizados por estruturas deficientes e sem fundos de maneio, exercendo a actividade empresarial de improviso e sujeitos à concorrência feroz das grandes superfícies. Estas deficiências são transferidas para os TOC que se vêm obrigados a ser imaginativos e infalíveis nas mais diversas soluções. Inversamente, as remunerações dos TOC não são proporcionais e compatíveis com o seu trabalho e as suas responsabilidades inerentes.

Estas e outras considerações que ficaram por enumerar, levam-nos a concluir que não compensa aos Contabilistas sacrificarem-se por uma demasiada dimensão das suas tarefas e da carteira de clientes, agravando o stress e a ansiedade perante a permanente vigilância que as escritas de sua responsabilidade impõem, não lhes valendo sequer a Fé perante os sérios riscos de saúde a que ficam expostos.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

PALAVRAS

(INÉDITO)

As palavras fluem e correm como rios,
Brotam do meu âmago quando respiro,
Aquecem os meus neurónios frios,
Refrescam o meu ego de vil martírio.

São cúmplices dos meus monólogos,
Já que desabafar não tenho com quem,
Apontam-me caminhos teatrólogos,
De encenação pessoal para ninguém.

Revejo-me nas minhas palavras ardentes,
Reencontro-me nas minhas mensagens,
Vivo na busca de surpresas permanentes,
Descubro, surpreso, respostas selvagens.

Insistente vou às palavras descobrir,
O que me atormenta é cego e mudo,
Tento sempre desabafar e não mentir,
Não recebo notícias, continuo sisudo.

Nas palavras encontro inspiração,
Para a vida enfrentar de peito aberto,
Conforto, coragem e transpiração,
Dizem em segredo que estou certo.

Não desisto, continuo a ler e a soletrar
As palavras que minha inspiração revelam,
Para sempre olhar, recordar e amar,
Tudo o que mal intencionados verberam.

Das palavras fiz obras por alguns admiradas,
Por outros lidas mas não reconhecidas
Resta-me o conforto das obras declamadas
Por mim construídas, ditas e sentidas.

Das palavras não desisto, eterno amor,
Construirei mil ideias e desejos irreais,
Fluir e flutuar no imaginário, sem temor,
Por toda a vida gravadas em memoriais.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A SOCIEDADE, O REGIME E O SISTEMA

(Inédito)

O futuro de Portugal e da maioria das Nações depende destes três arquétipos. A sua interacção resulta de uma cumplicidade e dependência permanente. O Regime e o Sistema, contrariamente ao que se imagina, devem a sua existência à Sociedade. Esta está segmentada na Sociedade Civil e na Sociedade Política. A primeira é a maioria, mas, por inúmeras razões, tem pouca participação activa, deixando esta acção e intervenção à Sociedade Política que permite a criação do Regime que por sua vez instala o sistema para servir de seu sustentáculo.

Os cidadãos, forças vivas, algo moribundas, acabam por perder as suas reais e legítimas capacidades de influenciar o regime nas políticas a adoptar, por motivos de ordem diversa, como o medo, a ignorância, a percepção da perda de poder e de influencia nas decisões, o sentimento de se sentir controlado e contribuinte líquido coercivo do Regime, através do seu braço dominador, o Sistema.

Por não se rever no Regime e repelir o Sistema, a Sociedade Civil manifesta o seu desagrado, declarando-se ausente das Eleições que lhes são impostas sem a sua audição prévia sobre os principais problemas que a afecta. Eis a razão porque houve um elevado grau de abstenção nas últimas Eleições Europeias e que virá a repetir-se nas futuras e próximas Eleições. Ninguém confia, nem acredita, sentindo-se simples espectadores e marionetas.

A ROTINA E OS RITUAIS

(Inédito)

A nossa vida é permanentemente uma rotina diária que utilizamos para levar a cabo a concretização da nossa ocupação e consequente realização pessoal. Durante a nossa rotina adoptamos e utilizamos rituais a que nos fidelizamos e com os quais nos passamos a identificar, dando verdadeiro sentido à nossa vida.

Os rituais, que vivemos com mais ou menos intensidade, mas com muito empenho e carinho, tornam a rotina mais suportável e menos fastidiosa. Com a progressão cultural e material ou a regressão que a vida poderá proporcionar-nos, alguns dos rituais vão-se aperfeiçoando e refinando no primeiro caso e perdem-se ou perdem qualidade no segundo caso.

Com o crescer da idade, este processo de transformação também vai aumentando, ficando pelo caminho parte dos rituais e com muito custo e sacrifício se vai adiando a sua exclusão por já não ser possível mantê-los. Este é o momento oportuno para que o idoso sinta os seus rituais supridos por outras compensações que os seus descendentes devem proporcionar-lhes, não os deixando ao abandono e esquecidos no seu canto. Deve estar sempre presente a consciência de que a rotina e os rituais constituem um processo natural que passa pela vida de todas as gerações.

DESCULPA...

SINGULARIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA

(Inédito)

Esta crónica vem no seguimento da busca encetada no Dicionário da Língua Portuguesa de termos polémicos para divulgação e reflexão das pessoas.

Há breves dias fui surpreendido pelo meu neto mais novo, Afonso, de 4 anitos. Na sequência duma brincadeira entre nós, magoou-me ligeiramente, mas a sua reacção foi pronta e surpreendente: “desculpa”, disse-me ele. Comovido, dei-lhe um beijo de agradecimento

Achei que este momento era digno de ser trazido a lume para servir de exemplo a muitos adultos que baniram para sempre do seu vocabulário este termo muito nobre da Nossa Língua. É pouco corrente escutar-se um pedido de desculpas por qualquer falta consciente ou inconscientemente cometida por alguém em prejuízo de terceiros. Antes, pelo contrário, os eventuais prevaricadores acham-se com razões para não se desculparem e exigirem justificações da parte verdadeiramente ofendida.

Esta atitude irresponsável e menos civilizada de se saber lidar com a verdade, recorrendo aos bons princípios que devem reger os nossos actos, são frequentemente esquecidos por quem se acha acima do convívio pacífico com a sociedade e comunidade em que está inserido. Por ficarem pedidos de desculpa no ar, o termo “DESCULPA” corre o risco de extinção, tal como outros princípios que foram relegados para segundo e terceiro planos. É mais uma das singularidades da Língua Portuguesa que se impõe preservar, através das novas gerações que o meu neto personifica.

INSÓLITO

SINGULARIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA

(Inédito)

Entre os milhares de vocábulos da Nossa Língua, o que serve hoje de mote à minha crónica é dos mais esquecidos, embora, por ironia, esteja sempre presente no quotidiano das nossas vidas.

Ao folhear os jornais ou fazer zapping pelos telejornais da televisão, somos surpreendidos permanentemente com notícias, comunicados, entrevistas, reportagens e imagens que são o insólito das realidades. Os personagens geradores destes acontecimentos deveriam ter reflectido sobre o significado do termo “Insólito”, antes de terem tomado decisões precipitadas, ofensivas e contrárias à normalidade dos seus actos, evitando contribuir para a deterioração de relacionamentos pacíficos com o seu próximo.

Hoje ninguém poderá invocar que a sua vida se rege por parâmetros de inteira normalidade, pois é exaustivamente confrontado com situações absolutamente “Insólitas”. Não seria necessário recorrer a exemplos, mas passo a ilustrar algumas anomalias absurdas que surpreendem e atormentam injustamente a tranquilidade dalgumas pessoas: é insólito, os atentados suicidas frequentes; é insólito o apetrechamento crescente das nações com armamento cada vez mais sofisticado; é insólito, as confrontações bélicas, violentas, entre seres humanos ditos “racionais”; é insólito ouvirmos e assistirmos partirem da boca de garotos insultos a um 1º ministro; é insólito um departamento do estado abrir um processo a um seu servidor por este ter desabafado com o Presidente da República sobre os seus dramas; é insólito, os senhorios estarem a pedir rendas excessivas pelo aluguer de espaços comerciais, inviabilizando muitas actividades, no actual contexto de crise geral; é insólito ver o crescimento incontrolável dos implantes mamários em pessoas que perdem a sua identidade física normal; é insólito o herdeiro de uma herança que se encontra por resolver em tribunal ser obrigado a pagar o imposto sucessório sobre a sua quota-parte que ainda não foi sentenciada; etc...etc...etc...

Se cada um de nós fizer uma análise aos factos com que diariamente se vê confrontado, verificará que é vitima de casos insólitos que poderiam ser evitados pelos seus causadores se estes reflectissem e ponderassem sobre o verdadeiro significado do termo “INSÓLITO”. Seria desejável que este vocábulo da nossa Língua entrasse em desuso e até pudesse ser banido do dicionário, deixando de ser uma das singularidades da Língua Portuguesa.

domingo, 17 de maio de 2009

ESCREVER... POR ESCREVER

(INÉDITO)

Sento-me à frente da minha secretária e encaro de imediato com o meu computador. Concentro-me no que poderei fazer a partir de uma qualquer ideia. Nada me ocorre de imediato, mas o meu pensamento é desviado com insistência para a vida e os seus actores. Questiono-me o que é que se transmite de verdade e aquilo que se oculta por conveniência e hipocrisia. Nada do que se vê e se ouve é consistente e construtivo. Outrossim, é aleatório e deprimente para o homem comum.

As consciências sãs têm dificuldade em conviver com as realidades duma sociedade corrompida pelas ambições desmedidas e as regras viciadas impostas. Por muita vontade e boas intenções que se tenham para enfrentar com sucesso esta situação degradada, não se vislumbra o alcance duma meta saudável e prometedora de melhores dias.

Há os que escrevem por prazer, para lerem e relerem os seus próprios artigos, há os que escrevem por deveres profissionais para cumprirem com obrigações deontológicas, com alguma paixão ou por intencionalidade crítica, há quem escreva para exercitar a utilização da Língua de Camões, por mim considerada a mais bela do Mundo, contribuindo intencionalmente para a sua divulgação e expansão e há ainda, os anónimos que são obcecados e apaixonados pela escrita, sem pretenderem ser reconhecidos.

Como me acho incluído no grupo daqueles que escrevem mais para si do que para o público - por achar que as minhas mensagens não têm efeitos concretos - vou arranjar ânimo para construir mais um texto à minha maneira, sem a preocupação de agradar a quem não os tolera, mas apenas a quem se revê nas entrelinhas das minhas mensagens, pois é, na sua essência o escrever… por escrever…

EU

(INÉDITO)

Já não sei quem sou Eu,
Eu penso, mas já não sinto,
Sou alguém que não morreu,
Eu quero e tudo pressinto,
De justiça Eu ando faminto.

Ser Eu é uma vera utopia,
Não me permite sonhos realizar,
Tudo não passa de pura teoria,
Apenas sonhos para acalentar,
Obras e projectos para adiar.

Eu não desisto, porque acredito,
A vida poder entretanto mudar,
Eu a mim desculpo e me permito,
Por um futuro melhor conquistar,
Nem que Eu tenha de muito lutar.

Eu e toda a minha família,
Temos os mesmos ideais e projectos,
Não sabemos o que é a mordomia,
Estamos ligados por muitos afectos,
Protestamos por actos e sem manifestos.

Eu feliz, crente e lutador devo ser
Para a meta desejada alcançar,
Sem fantasmas e monstros temer,
Antes reunir forças para os dominar,
Afastando imagens para não recordar.