quarta-feira, 24 de junho de 2009

A SOCIEDADE, O REGIME E O SISTEMA

(Inédito)

O futuro de Portugal e da maioria das Nações depende destes três arquétipos. A sua interacção resulta de uma cumplicidade e dependência permanente. O Regime e o Sistema, contrariamente ao que se imagina, devem a sua existência à Sociedade. Esta está segmentada na Sociedade Civil e na Sociedade Política. A primeira é a maioria, mas, por inúmeras razões, tem pouca participação activa, deixando esta acção e intervenção à Sociedade Política que permite a criação do Regime que por sua vez instala o sistema para servir de seu sustentáculo.

Os cidadãos, forças vivas, algo moribundas, acabam por perder as suas reais e legítimas capacidades de influenciar o regime nas políticas a adoptar, por motivos de ordem diversa, como o medo, a ignorância, a percepção da perda de poder e de influencia nas decisões, o sentimento de se sentir controlado e contribuinte líquido coercivo do Regime, através do seu braço dominador, o Sistema.

Por não se rever no Regime e repelir o Sistema, a Sociedade Civil manifesta o seu desagrado, declarando-se ausente das Eleições que lhes são impostas sem a sua audição prévia sobre os principais problemas que a afecta. Eis a razão porque houve um elevado grau de abstenção nas últimas Eleições Europeias e que virá a repetir-se nas futuras e próximas Eleições. Ninguém confia, nem acredita, sentindo-se simples espectadores e marionetas.

A ROTINA E OS RITUAIS

(Inédito)

A nossa vida é permanentemente uma rotina diária que utilizamos para levar a cabo a concretização da nossa ocupação e consequente realização pessoal. Durante a nossa rotina adoptamos e utilizamos rituais a que nos fidelizamos e com os quais nos passamos a identificar, dando verdadeiro sentido à nossa vida.

Os rituais, que vivemos com mais ou menos intensidade, mas com muito empenho e carinho, tornam a rotina mais suportável e menos fastidiosa. Com a progressão cultural e material ou a regressão que a vida poderá proporcionar-nos, alguns dos rituais vão-se aperfeiçoando e refinando no primeiro caso e perdem-se ou perdem qualidade no segundo caso.

Com o crescer da idade, este processo de transformação também vai aumentando, ficando pelo caminho parte dos rituais e com muito custo e sacrifício se vai adiando a sua exclusão por já não ser possível mantê-los. Este é o momento oportuno para que o idoso sinta os seus rituais supridos por outras compensações que os seus descendentes devem proporcionar-lhes, não os deixando ao abandono e esquecidos no seu canto. Deve estar sempre presente a consciência de que a rotina e os rituais constituem um processo natural que passa pela vida de todas as gerações.

DESCULPA...

SINGULARIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA

(Inédito)

Esta crónica vem no seguimento da busca encetada no Dicionário da Língua Portuguesa de termos polémicos para divulgação e reflexão das pessoas.

Há breves dias fui surpreendido pelo meu neto mais novo, Afonso, de 4 anitos. Na sequência duma brincadeira entre nós, magoou-me ligeiramente, mas a sua reacção foi pronta e surpreendente: “desculpa”, disse-me ele. Comovido, dei-lhe um beijo de agradecimento

Achei que este momento era digno de ser trazido a lume para servir de exemplo a muitos adultos que baniram para sempre do seu vocabulário este termo muito nobre da Nossa Língua. É pouco corrente escutar-se um pedido de desculpas por qualquer falta consciente ou inconscientemente cometida por alguém em prejuízo de terceiros. Antes, pelo contrário, os eventuais prevaricadores acham-se com razões para não se desculparem e exigirem justificações da parte verdadeiramente ofendida.

Esta atitude irresponsável e menos civilizada de se saber lidar com a verdade, recorrendo aos bons princípios que devem reger os nossos actos, são frequentemente esquecidos por quem se acha acima do convívio pacífico com a sociedade e comunidade em que está inserido. Por ficarem pedidos de desculpa no ar, o termo “DESCULPA” corre o risco de extinção, tal como outros princípios que foram relegados para segundo e terceiro planos. É mais uma das singularidades da Língua Portuguesa que se impõe preservar, através das novas gerações que o meu neto personifica.

INSÓLITO

SINGULARIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA

(Inédito)

Entre os milhares de vocábulos da Nossa Língua, o que serve hoje de mote à minha crónica é dos mais esquecidos, embora, por ironia, esteja sempre presente no quotidiano das nossas vidas.

Ao folhear os jornais ou fazer zapping pelos telejornais da televisão, somos surpreendidos permanentemente com notícias, comunicados, entrevistas, reportagens e imagens que são o insólito das realidades. Os personagens geradores destes acontecimentos deveriam ter reflectido sobre o significado do termo “Insólito”, antes de terem tomado decisões precipitadas, ofensivas e contrárias à normalidade dos seus actos, evitando contribuir para a deterioração de relacionamentos pacíficos com o seu próximo.

Hoje ninguém poderá invocar que a sua vida se rege por parâmetros de inteira normalidade, pois é exaustivamente confrontado com situações absolutamente “Insólitas”. Não seria necessário recorrer a exemplos, mas passo a ilustrar algumas anomalias absurdas que surpreendem e atormentam injustamente a tranquilidade dalgumas pessoas: é insólito, os atentados suicidas frequentes; é insólito o apetrechamento crescente das nações com armamento cada vez mais sofisticado; é insólito, as confrontações bélicas, violentas, entre seres humanos ditos “racionais”; é insólito ouvirmos e assistirmos partirem da boca de garotos insultos a um 1º ministro; é insólito um departamento do estado abrir um processo a um seu servidor por este ter desabafado com o Presidente da República sobre os seus dramas; é insólito, os senhorios estarem a pedir rendas excessivas pelo aluguer de espaços comerciais, inviabilizando muitas actividades, no actual contexto de crise geral; é insólito ver o crescimento incontrolável dos implantes mamários em pessoas que perdem a sua identidade física normal; é insólito o herdeiro de uma herança que se encontra por resolver em tribunal ser obrigado a pagar o imposto sucessório sobre a sua quota-parte que ainda não foi sentenciada; etc...etc...etc...

Se cada um de nós fizer uma análise aos factos com que diariamente se vê confrontado, verificará que é vitima de casos insólitos que poderiam ser evitados pelos seus causadores se estes reflectissem e ponderassem sobre o verdadeiro significado do termo “INSÓLITO”. Seria desejável que este vocábulo da nossa Língua entrasse em desuso e até pudesse ser banido do dicionário, deixando de ser uma das singularidades da Língua Portuguesa.