domingo, 28 de março de 2010

A NATUREZA E O HOMEM


INÉDITO

Rolam pedras das montanhas,
Caiem terras pelas falésias,
Derretem gelos dos glaciares,
Acordam revoltados os vulcões,
Estremece a Terra em convulsões,
Ardem em queixumes as florestas,
Irrompem das entranhas, erupções,
Espalham o terror e misérias.
Entre os Homens que choram,
Virando-os uns contra os outros,
Cegos de desejadas vinganças,
Impotentes que são contra a Natureza.


Triste realidade,
Sem solução.
Indiferença, ingratidão,
Infidelidade, traição,
A Natureza reage mal,
Vinga-se do Homem, sem piedade,
Ferida e ofendida por maus tratos.
Não há perdão nem retrocesso,
Longe da reconciliação, o insucesso.

O MITO DA ALVORADA


INÉDITO

Amanheceu.
A chuva parou,
Ficou o cheiro forte da água.
O tempo emudeceu.
A ninguém lembrou,
Uma lágrima, uma mágoa.


Mais um dia.
Tento minorar dores,
Surpresas dolorosas do Alvor
Sou simples e barata mercadoria,
Refém dos mercadores.
Apelo a um ser superior.


Palavras vãs,
Eco, silêncio eterno.
Para quê suplicar caridade
Contra o poder de vis titãs.
Liberto do seio materno
Só me resta juízo e maturidade.


Rumo incerto traço,
Busco amor, pão e vida
Escolhos e barreiras encontro
Caminho longo, derradeiro fracasso,
Descendente, sem subida,
O meu futuro comprometo e ensombro.


Deixei de protestar.
Não há esperança nem Alvor.
Voltou a chover com intensidade,
Os campos verdejaram, deixei de chorar.
Retornei ao antes com amor,
Cheguei ao fim do caminho, à eternidade.

VERBALJACKING

VERBALJACKING

INÉDITO

A agressão verbal tomou hoje uma dimensão de tal ordem que se tornou numa verdadeira hemorragia verbal com verdadeiras características de verbaljacking (novo termo aplicável com propriedade). Eu, que me considero comedido e contido na minha linguagem, por formação e educação de tempos menos buliçosos, constato, com tristeza, que se vulgarizou nos dias de hoje, o ataque verbal sem razões justificadas.

Somos conhecedores e, nalguns casos, testemunhas e alvos de episódios de verbaljacking que tiveram lugar nesta semana, em que traço estas linhas, nos palcos de futebol, na Assembleia da Republica, nos orgãos de comunicação social, nos blogues e de um modo geral na opinião pública. Eu próprio fui vítima inocente de dois verbaljacking e ainda vamos no princípio da semana. Uma das ocorrências deu-se ao estar para estacionar a minha viatura, quando fui confrontado com um desconhecido que me ururpou o lugar, insultando-me e ameaçando agredir-me fisicamente. O outro episódio ocorreu no âmbito da minha profissão de TOC, quando eu estava a cumprir com as regras rígidas das minhas atribuições. Acresce ainda, o que foi dito da minha pessoa, à minha revelia.

O verbaljacking vulgarizou-se por passar sem punições e sem testemunhas, em virtude destas temerem represálias. Este fenómeno atingiu tal dimensão que os seus praticantes, não se contentam em fazê-lo frontalmente, como também o fazem, cobardemente, pelas costas dos visados. Além disso, já invadiu a área familiar, para o que têm contribuído as telenovelas. Não obstante eu não seja seu espectador atento, tenho conhecimento de, pelo menos, 2 telenovelas - uma das quais terminou há pouco tempo e uma outra está a correr -, em que filhos desejam o mal do seu pai, ao extremo de tramarem a sua liquidação física.

Uma sociedade desmembrada pelas constantes agressões verbais e físicas entre os seus cidadãos - em que a justiça não sanciona -, nunca consolidará a sua estabilidade e progresso socio-económico de modo a permitir a Paz interna e uma boa imagem no Panorama Internacional,

domingo, 21 de março de 2010

IMAGINÁRIO

INÉDITO

Ao ver luz comecei a imaginar
A um Paraíso passar a pertencer,
Alimentado sonhos e projectos,
Desejando uma mulher conhecer,
Tranquilo sem me martirizar,
Ficar ligado por amor e afectos.

Fui caminhando inseguro, com fé,
Deslumbrei-me com surpresas,
Deixei-me embalar por promessas,
Passei a desconfiar sem tibiezas,
Quando fui arrastado pela maré,
Para o areal das praias desertas.


Tentei recompor-me e prosseguir,
Obstáculos continuei a encontrar,
Lutei para atingir meus ideais,
A Boa Fé serviu para me demarcar,
Fiquei isolado sem ver o porvir,
De patrimónios sólidos e reais.

Fui privado dos bens conquistados,
Por hordas de invasores ferozes,
Desapossado do património legítimo,
Dores e sofrimentos assaz atrozes,
Afastaram os projectos sonhados,
Reduziram-me a simples logaritmo.

Fui repelido para alem Atlântico,
Sem património material, só familiar,
Rumei para Portugal sem objectivos,
Encontrei obstáculos a derrotar,
Esforço hercúleo e messiânico,
Tive de empreender com malefícios.

Achei-me isolado e impotente,
Sem apoio e ideias para recomeçar,
Nem poupanças tinha para investir,
Esforcei-me por não me vitimizar,
Tornei-me sempre omnipresente,
Para objectivos procurar conseguir.

Depois de muito pela vida lutar,
Consegui educação dar aos filhos,
Netos e bisnetos me deram cedo,
Mais preocupações e sarilhos,
Não deixando de a todos amar,
Como ressurgindo do arvoredo.

OS TRÊS PATRIMÓNIOS


INÉDITO

Todo o indivíduo é detentor de três patrimónios que vai gerindo desde a nascença até à morte consoante as prioridades. Esses três patrimónios são o Familiar, o Intelectual e do Conhecimento e o Material.

Ao nascer, assume de imediato o património familiar a que se vai adaptando de acordo com a ambiência em que vive. Os seus laços familiares vão-se fortalecendo na medida da sua proximidade e intimidade e do amor e dos afectos que lhe são dispensados. Na idade que percorre até à adolescência, ignora os Patrimónios Intelectual e do Conhecimento e o Material. Depois da adolescência, com a entrada a sério nos Estudos, descobre a vertente Intelectual e vê-se confrontado com o primeiro apetite de posse que o desafia para o consumismo, subjacente ao Materialismo. Neste período começa a desvanecer-se a relação mais estreita com a família que passa para segundo lugar e tem primazia o Intelectual e o Conhecimento, ficando na terceira posição o Património Material.

Na fase intermédia da idade que se inicia com a conclusão dos Estudos e se entra na vida activa e construção de família própria, descura-se quase por completo o Património Intelectual e do Conhecimento que só interessa aos profissionais desta área e passa a dar-se atenção aos Patrimónios Familiar e Material. Estas prioridades têm poucas alternâncias até à idade da reforma, em que o Património Intelectual e do Conhecimento assume interesse relevante, enquanto que o Familiar e o Material passam para segundo e terceiro planos, respectivamente. Em certos momentos da vida, por incapacidade própria de impedir a intrusão de indivíduos sem escrúpulos e depredadores, perde-se a hegemonia e o consequente controle dos Patrimónios Familiar e Material, ficando apenas, como tábua de salvação, o Património Intelectual e o Conhecimento.

Esta é a realidade que não pode ser escamoteada por ser natural e evidente, não podendo sofrer grandes correcções, dadas as circunstâncias e condições em que o ser humano desenvolve as suas faculdades e necessidades, tanto vitais como supérfluas, em função do meio em que se acha inserido que hoje não é só local como é principalmente global.

O GRANDE PATRIMÓNIO E O HOMEM



INÉDITO

Como é óbvio, relacionar o Grande Património com o Homem é imperativo para se tirarem ilações da necessidade de serem tomadas medidas urgentes e inadiáveis correctoras dos desvios cometidos pelo Homem.

O Grande Património é todo o Universo natural que compõe a Terra, planeta que nos foi legado pelo Poder Divino para nele vivermos. Porém o Homem não deu a devida importância a esse facto, servindo-se do seu Património Natural para o delapidar e degradar no seu proveito imediato, insensato e egoístico. Essa atitude tem passado por agredir a Natureza, devastando as matas pelo seu derrube e pelas suas queimadas, desventrando as suas entranhas para extrair as riquezas minerais, extraindo dos mares a sua fauna, secando fontes de água e mudando o curso das águas correntes, poluindo o ar através das fábricas e dos transportes mecânicos movidos a combustível, etc...

Não se vislumbra um retrocesso nos comportamentos do Homem, antes sim um recrudescimento das suas acções malévolas contra a Natureza para beneficiar das mais-valias imediatas, Assim a Natureza, inconformada, rebelar-se-á cada vez mais contra os maus tratos do Homem, causando-lhe danos gravosos materiais e morais. Este estado de coisas redundará na destruição do Grande Património que o Homem não sabe nem saberá estimar.

O IMAGINÁRIO

INÉDITO
Segundo o dicionário de Português da Academia das Ciências de Lisboa, “Imaginário” é o irreal, o fictício. Esta condição está subjacente à vida pensante de todo o indivíduo, cujo cérebro funciona na base do hipotético e imprevisível.

Na realidade, desde os primeiros momentos da nossa vida, que o nosso imaginário desperta, levando-nos a agir e a reagir perante os desafios que nos são impostos pelo quotidiano. Passamos então a imaginar como delinear a nossa vida. Passando pelas escolas, onde buscamos aprendizagem e conhecimentos para nos permitir traçar trilhos e rumos no sentido de prosseguir objectivos.

Quanto mais elevado for o índice do imaginário, mais distante e difícil se torna concretizar os projectos que envolve, exigindo um maior empenho e competência. São muitos os imponderáveis que se interpôem, dificultando a acção e a motivação. Há os que conseguem concretizar parte do seu imaginário e há os que nunca atingem os fins imaginados. Também há os casos dos que, depois de verem o seu imaginário em vias de concretização, são surpreendidos pela usurpação dos seus direitos legítimos de propriedade, por outros que, recorrendo a um imaginário cruel e predador, passaram a ocupar o seu lugar.

A história dos tempos diz-nos que os actores de todos os imaginários têm uma existência efémera, por estarem inseridos em períodos cíclicos, com transmutações permanentes das realidades aparentes. Não nos surpreenderá se nos próximos tempos nos dermos conta de que os nossos imaginários foram tão falsos, e resultaram gorados, como doutros que nos substituíram no palco deste Mundo Desafiador e Fictício.

A CANOA


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A canoa é uma pequena embarcação africana, preferencialmente utilizada na pesca artesanal, em águas muito próximas da costa. É de construção rudimentar pelo escavar de um tronco, de madeira exótica leve e resistente. A canoa tem tradição em toda a Costa africana, referindo-me, muito particularmente ao reino do N´Goio, hoje conhecido por Cabinda, onde surgiu uma lenda que nos sensibiliza pela sua origem e significado.

Em tempos muito recuados, de há séculos, os povos africanos estavam muito virados para o interior dos seus territórios e do próprio continente, onde se abasteciam dos seus bens alimentares, consumindo particularmente caça, tubérculos e fruta, além das pequenas culturas das suas lavras. Não tinham, portanto, uma relação muito aberta com o mar.

No reino do N´Goio, certo dia, uma mulher casada, de nome Micaela, cometeu adultério. Reuniu o conselho da aldeia e o soba (chefe supremo da aldeia) resolveu puni-la, mandando atá-la a um tronco de madeira flutuante, e abandonando-a no mar largo, fora da baía. O homem, com quem ela cometeu o delito, desapareceu e nunca mais foi visto.

Passados largos meses, Micaela apareceu na baía dentro do mesmo tronco, em forma de canoa e a remar. O facto foi tomado por todos como vontade dos Deuses que, para além de a terem salvo, puseram nas mãos daquela gente um instrumento que poderia introduzi-los na pesca. O soba voltou a reunir o conselho e resolveu perdoar Micaela e o seu amante. Uma dúvida no entanto ficou no ar: não teria sido o amante que teve a ideia de cavar o tronco e entregar o remo a Micaela para se salvar? Dele nunca mais houve notícia. Para perpetuar o nome “canoa”, o soba ditou que a partir daquele momento a baía passasse a chamar-se “Baía das Almadias”. O navagedor Ruy de Sousa ao aportar ali com as naus portuguesas, pela primeira vez, em 1491, ficou surpreendido com o número elevado de canoas (almadias) que navegavam na baía.

Desde então, o povo do N´Goio e todos os outros limítrofes passaram a construir as suas canoas e a dedicar-se à faina piscatória. Os cabindeses tornaram-se uns pescadores exímios, o que representou uma mais valia importante, pois passaram a fornecer peixe aos barcos que demandavam a costa de Cabinda para se abastecerem também de frutas e água, além de fazerem permuta de outros produtos coloniais por bens de consumo europeus.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A QUITANDA



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Quitanda é a terminologia africana porque se alude ao mercado ou praça. Quitanda é mais que simples mercado ou praça onde se vendem bens de consumo. Quitanda é o Templo da convivência e dos cheiros e paladares africanos. É o ponto de encontro das forças vivas multirraciais da comunidade.

Esta introdução é obrigatória para transmitir ao leitor a importância da Quitanda a que estão ligados todos os cidadãos: os abastecedores e vendedores, os consumidores e os simples curiosos e visitadores. Vou referir-me em particular a Cabinda, realidade que eu vivi com muito prazer nos anos 40 a 60 do século XX. Era tempo de Paz, trabalho e progresso sem ameaças e sobressaltos. Aqui a Quitanda funcionava a céu aberto.

Os abastecedores, simultaneamente vendedores, eram as famílias africanas que levavam das suas lavras os produtos agrícolas como: bananas (maçã, ouro, macaco e outras), laranjas, tangerinas, ananases, abacates, cocos, fruta-pinhas, mamões, papaias e muitas mais e ainda o dendê para confecção da moamba. Da pecuária, apenas animais vivos como, galinhas e frangos, patos, cabritos e pombos verdes. A matriarca da família era quem tratava do cultivo e recolha dos produtos, enquanto que o seu homem se ocupava duma profissão extra-caseira. Os filhos mais velhos cuidavam dos mais novos e contribuíam para manter as suas casas limpas e asseadas, tendo a especial missão de as manter sem mato ou capim, num perímetro de 100 metros, para evitar os percalços das queimadas. Também eram abastecedores e vendedores, os pescadores que, ao terminarem a sua faina nocturna, apareciam bem cedo com os peixes mais variados como: a corvina, os malévos, a taínha, o carapau, o tubarão, os chocos, os polvos, os caranguejos, as lagostas, etc... Eles eram muito profissionais, pois enfrentavam por vezes o mar revolto, com coragem e determinação, em frágeis canoas (troncos de árvore cavados).
Os consumidores ficavam inebriados pelo colorido e aroma dos produtos, especialmente das frutas, comprando um pouco de tudo. Finalmente os visitadores eram simples curiosos que por vício se deslocavam à sua Quitanda para terem o prazer de compartilhar dos mesmos aromas e cores, a que se juntavam a variedade dos panos coloridos com desenhos apelativos, que as mulheres exibiam vaidosamente, envolvendo os seus corpos esculturais do peito ao tornoselo. Estas sensações agradáveis eram reforçadas pelo cheiro da forte maresia que vinha da baía e se mesclava com todo o ambiente do Templo. Eis a razão porque ao fim de tantos anos se sente com profundo sentimento a Saudade e o Feitiço Africanos.

O HOMEM E O COSMOS


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Dos muitos emails que vêm parar às minhas caixas de correio electrónico, destaca-se um que se reveste de relevante importância por reproduzir todo o esplendor do Sistema Estelar e Planetário a que o Homem e a Terra inevitavelmente pertencem.Com a ajuda do telescópio espacial Hubble foi possível perscrutar uma grande parte do Universo, descobrindo novas galáxias com novos planetas e seus satélites e estrelas extintos e a formar-se, transformando o nosso planeta numa reduzidíssima insignificância

Esta introdução é fundamental para se perceber que o Cosmos é divinamente superior e comanda todos os corpos vivos e inertes que nele permanecem. Sendo o Homem um ser vivo pensante, tomado como inteligente, porque razão não aceita a sua condição de pequenez e declarada fragilidade perante um Universo tão vasto e complexo? Porque razão o Homem anda permanentemente em busca de conflitos com o seu semelhante, para lhe ter supremacia, tanto pelo poder como economicamente? Porque razão o Homem é egoísta, ciumento, vingativo, ambicioso, não olhando a meios para atingir os seus ideais egoístas? Porque razão o Homem se acha diferente do seu semelhante, agredindo-se mutuamente com actos tendenciosamente contranatura?

Quando observei o Cosmos através do olho mágico do Hubble, achei-me ridículo e inútil por pertencer a um micro planeta do Universo em que impera o pecado. As imagens que a minha retina reteve deixaram-me esmagado perante tanta grandiosidade e perfeição do Universo, não encontrando respostas para a Vida tão Aviltante e de conflito permanente em que o Homem vive. Deveria recorrer à sua inteligência para corrigir os seus defeitos e tentações. Fica uma pergunta no ar, sem resposta: qual será o futuro do Homem e da Terra no conjunto heterogéneo do Sistema Estelar e Planetário?

segunda-feira, 1 de março de 2010

EU

Inédito

Já não sei quem sou Eu,
Eu penso, mas já não sinto,
Sou alguém que não morreu,
Eu quero e tudo pressinto,
De justiça Eu ando faminto.

Ser Eu é uma vera utopia,
Não me permite sonhos realizar,
Tudo não passa de pura teoria,
Apenas sonhos para acalentar,
Obras e projectos para adiar.

Eu não desisto, porque acredito,
A vida poder entretanto mudar,
Eu a mim desculpo e me permito,
Por um futuro melhor conquistar,
Nem que Eu tenha de muito lutar.

Eu e toda a minha família,
Temos os mesmos ideais e projectos,
Não sabemos o que é a mordomia,
Estamos ligados por muitos afectos,
Protestamos por actos e sem manifestos.

Eu feliz, crente e lutador devo ser
Para a meta desejada alcançar,
Sem fantasmas e monstros temer,
Antes reunir forças para os dominar,
Afastando imagens para não recordar.