domingo, 28 de fevereiro de 2010

LUZES E SOMBRAS


ONDE ESTÁ A NOSSA LIBERDADE?

Inédito

Para além das conotações políticas que o próprio nome encerra, existem factores nocivos que afectam a nossa liberdade e que fogem ao nosso controle, desvalorizando as comemorações das hipotéticass liberdades conquistadas.

Nenhum indivíduo pode assegurar que goza de inteira liberdade, porque a sua vida é condicionada e permanentemente posta à prova pela própria comunidade e sociedade em que está inserido. Desde a nossa situação sócio-económico-financeira até ao nosso património familiar, passando pelas nossas responsabilidades profissionais e sociais, pela nossas dependências políticas, institucionais e de contribuintes, pelas nossas crenças religiosas ou outras, incluindo o ateísmo, nunca poderemos ambicionar ou advogar possuirmos total liberdade. É um mito e torna-se ilusório festejar a liberdade, como se fosse um objectivo conquistado e consolidado.

Com a globalização e a crise material e moral que se instalou no Nosso Mundo, a liberdade cada vez é mais coarctada, hipotecando, em modo crescente, o futuro das novas gerações. Gastam-se milhões de euros com publicidade e propaganda, procurando convencer os menos incautos – pouco informados e esclarecidos -, que as promessas encerram fórmulas mágicas para resolver os nossos problemas, oferecendo-nos a liberdade desejada há séculos. Este processo repetir-se-à indefinidamente porque faz parte do circo da vida e ninguém tem o poder e a poção mágica de o alterar.

Se as quantias avultadas gastas com a montagem do circo fossem aplicadas no amenizar das carências e necessidades básicas dos mais necessitados, contribuir-se-ia para consolidar a nossa liberdade, indispensável ao nosso bem estar e relacionamento pacífico com o Próximo e com a Natureza.

TENTAÇÕES E OPÇÕES

Singularidades da Língua Portuesa

Inédito
Mais dois termos sempre presentes na vida de todos nós que têm total interligação. Os momentos cruciais das nossas decisões, durante a nossa vivência, são protagonizados pelas tentações e subsequentes opções que tomamos.

Sempre que uma tentação aflora à nossa mente, devemos parar para reflectir e poder concluir se a opção a tomar será a mais correcta. O que acontece é que quando a tentação é influenciada pelo raciocínio toldado, torna-se difícil clarear ideias para se tomar a melhor opção e porque o tempo é escasso toma-se a opção inadequada de que resultam consequências nefastas tanto para o decisor como para os agentes envolvidos.

Poderia citar mil exemplos das tentações que produzem as opções nocivas pela simples razão de ter testemunhado durante a minha já longa vida, casos que mais parecem irreais do que verdadeiros. Vejamos os seguintes factos: uma paixão perigosa que leva ao compromisso amoroso e até conjugal sem sucesso, culminando com o divórcio; o empregador que ousa montar uma armadilha ao seu empregado, considerado incómodo, para o despedir com justa causa; o político, inebriado pela ascensão rápida e pelo poder que, para usufruir de privilégios e mordomias, usa o cargo para produzir leis a esmo, no pior sentido prático; o professor que toma um aluno de “ponta”, prejudicando-o, sem fundamento, na sua avaliação; o aluno que se esquece que o professor, por ser seu mestre e formador, deve merecer o máximo respeito; o eclesiástico que, ultrapassando as suas competências do sacerdócio, se tenta a invadir a esfera política; o pedófilo que, movido por uma obsessão permanente, toma opções deveras nefastas e monstruosas ao lesar os direitos mais legítimos de inocentes indefesos no germinar das suas vidas; etc...

É desejável que as pessoas se esqueçam a todo o momento das tentações negativas e tomem as opções mais consentâneas com o reconhecimento dos direitos dos outros que são importantes para as suas vidas pela sua interdependência.

A ÉTICA E A ESTÉTICA

Inédito

Um tema deveras interessante para ser tratado, sem contudo deixar de tocar na sensibilidade das pessoas que se preocupam mais com a estética do que com a ética.

Nos dias actuais, a generalidade das pessoas prestam mais atenção à sua aparência do que à sua postura. Perdem tempo e dinheiro a aprimorarem a imagem, cuidando, exageradamente, do cabelo, do rosto, do vestuário, recorrendo, em muitos casos, a meios artificiais, como retoques estéticos da pele, cabelos postiços, piercings, tatuagens, etc... Além de alterarem a sua figura natural, tornam-se, por vezes, verdadeiras sombras de si próprias, quase irreconhecíveis, pondo em perigo a sua própria saúde. Estes casos são mais chocantes nas jovens que, sendo naturalmente belas, perdem todo o seu encanto para se tornarem autênticas máscaras.

Ainda existe um grande leque de pessoas que se preocupa mais com a ética, não descurando contudo a manutenção da sua boa aparência. Para eles é mais importante saberem relacionar-se com o próximo através das boas maneiras e do respeito que esperam ser mútuo. Infelizmente, são confrontados, diariamente, com situações anacrónicas, completamente absurdas, provocadas por aqueles que descuram a ética por estarem mais preocupados em impressionar pela aparência desvirtuada.

Destas dissonâncias resultam desentendimentos e litígios frequentes que apenas contribuem para a fricção e agravamento das relações entre os membros da sociedade, sendo este fenómeno mais relevante nas comunidades urbanas. Seria desejável que todos se preocupassem mais com a ética para serenar ânimos e transmitirem sinais de mais tolerância, compreensão e solidariedade imprescindíveis à consolidação de desejáveis tréguas.

ÁFRICA ANTES DA COLONIZAÇÃO

Publicado

Olhando para o continente africano antes da colonização e para o período seguinte, com relevância para o actual, deparamo-nos com realidades opostamente distintas. África, antes da colonização, era um continente quase primitivo, enquanto que depois dos contactos com a civilização europeia, tomou o caminho do progresso. Este, de início, lento, foi crescendo depois da abolição da escravatura e com a chegada dos verdadeiros colonos.

Os colonos, contrariamente ao que a propaganda anti-colonial fez constar, foram os principais agentes da propagação da vontade e da apetência pelo trabalho com o objectivo de alterar os recursos primitivos por estruturas, de início provisórias e mais tarde definitivas que garantissem o progresso. De um modo geral os colonos foram pacíficos nas suas acções, mantendo boas relações com os indígenas, criando um clima de integração mútua, quase total.

Em relação ao Enclave de Cabinda, esta fase próspera de África, acentuou-se no segundo quartel do século XX com o clímax nos anos 50. Gerou-se uma convivência tolerante e de interesses recíprocos entre colonos e africanos que apaziguou ânimos e veleidades de ingerência dos primeiros nas tradições e costumes dos segundos. Resultou até, em alguns casos a miscigenação das raças branca e negra, que deu como fruto o mulato. Juntos fizeram crescer um território que até aquela época pouco tinha evoluído, dado os propósitos colonialistas das potências estrangeiras, antes dos portugueses terem merecido a preferência do povo cabindês.

Não há dúvida que o quadro geral de África mudou completamente de aspecto, com o progresso que os colonos lhe imprimiram e dinamizaram, utilizando os seus conhecimentos e métodos de modernidade ocidentais, quer através de bens úteis, como dos idiomas e religião unificadores e aglutinadores das tribos. Destas iniciativas surgiram aldeias recuperadas, novas vilas e cidades e até eventuais Novos Estados na verdadeira acepção do termo e não como hoje se apresentam.

SONHOS

Inédito

Passaram os anos e não parei de sonhar,
Os sonhos foram muitos e coloridos
Encheram-se de ar e aos céus subiram
Não consegui os sonhos agarrar,
Fugiram e tornaram-se diluídos
Invisíveis e vazios, muitos sucumbiram.

Outros sonhos tentei imaginar,
De esperanças conseguir realizá-los,
Inimigos opuseram-se a tal fim
Impedindo de me deixar pensar.
Sonhos ideais vilmente contrariados,
Destruídos, sem culpas para mim.

Os poucos sonhos que restaram,
Entreguei a meus filhos e netos,
Para esses sonhos realizarem,
Obras e pontes eles edificaram,
Legando herança aos bisnetos,
Para esses sonhos imortalizarem.

Mantenho bem viva a esperança.
Os sonhos virem dar frutos,
Seus detentores são fiéis herdeiros,
Cheios de coragem e perseverança,
Peito aberto, lutadores e astutos,
Combatendo inimigos desordeiros.

No meu leito de fim de vida,
Ainda tenho consciência lúcida.
Dos sonhos continuarem vivos,
Bem guardados em memória viva,
Mercê da arte, manha e astúcia,
Dos meus herdeiros sãos e sobre vivos.

SÓSIAS, CLONES E PLAGIÁRIOS

Singularidades da Língua Portuguesa

Inédito

De um modo geral, o ser humano tem tendência para decalcar e deixar-se imitar. São excepção, os de criatividade original, pois é destes que partem as descobertas científicas e o evoluir da civilização.

Actualmente, temos assistido a uma crescendo dos casos em que as pessoas se preocupam mais com o que se passa com o seu semelhante, procurando apropriar-se das suas patentes e propriedades, em vez de, per si, encontrarem soluções inovadoras e próprias, contribuindo, deste modo, para uma mais valia pessoal e da sociedade. A contrafacção do que já existe apenas serve para gerar não só a estagnação da criatividade, mas também a conflitualidade permanente entre os actores deste processo irregular.

As imitações quando feitas de padrões válidos podem ser consideradas proveitosas e de interesse para o evoluir da sociedade, mas quando provêm de origens viciadas e deformadas, tornam-se perniciosas e contraproducentes.

Dos três actores referenciados no título desta crónica, os sósias são os mais inocentes por serem pessoas de fisionomia parecida com as de outros, embora possam ter mentalidades e personalidades completamente distintas, podendo não ser conflituosas. Os clones já têm as mesmas componentes e acham-se iguais e unidos para enfrentar a concorrência no bem e no mal. Por último, temos os plagiários que constituem o grupo mais danoso para a sociedade, pois vive da contrafacção e imitação, apenas com intenções de aproveitamento pessoal, descurando acintosamente, os interesses da sociedade e dando lugar ao confronto e litígio permanentes. É esta classe que alimenta o regredir da civilização. Torna-se imperioso combater a existência dos Plagiários (Imitadores).

BOA E MÁ CONDUÇÃO



Publicado

Receoso de conduzir a minha viatura para além de Tomar, desliguei-me dos fantasmas da condução e da estrada e pus-me a caminho de Leiria. O dia, embora chuvoso, prometia melhorar pela tarde.

A minha idade madura aconselha-me a conduzir defensivamente. Por isso, prossigo a minha viagem a uma velocidade moderada que nunca ultrapassa os 70 kms/hora, nas melhores condições de piso e pista. Pelo retrovisor, sigo, atentamente, os carros que me precedem. Rolam a velocidade superior ao meu, pelo que estão constantemente a ultrapassar-me. Alguns condutores habituaram-se a conduzir agressivamente, não respeitando quem conduz com prudência e civismo, chegando ao desaforo de ultrapassarem o meu carro, a uma curta distância, invariavelmente da esquerda para a direita como da direita para a esquerda, na iminência de provocarem uma colisão. É assustador.

Esta introdução é apenas para o tema servir de comparação com o ritmo de vida que levamos. Tal como na condução da nossa viatura, também temos de ser racionais e comedidos na condução da nossa vida. Devemos saber refrear os ânimos e aprender a ponderar e tomar as decisões mais adequadas sem atingir direitos de terceiros. A idade ainda imatura não pode servir de justificação para se ser irreverente e desalinhar, traçando o caminho menos ordeiro e pacífico.

Esta a razão porque muitos, dos que não conseguem refrear a sua ambição impetuosa de atingir objectivos mal calculados, prejudicam terceiros e acabam por não chegar ao fim. Estes ambiciosos desmesurados devem aprender a desacelerar e pôr travões a fundo nos momentos mais tentadores evitando velocidades excessivas e ultrapassagens perigosas dos seus concorrentes.

OS PILARES DA NAÇÃO

Idédito

É da mais elementar e inverosímil lógica que a nação é o resultado de uma amálgama de células familiares em redor de um símbolo de identidade própria incomparável e inconfundível com centenas de outras nações existentes no Mundo em que coexistimos.

É conceptual e incontestável que reside na família o sentimento agregador de vontades e ambições de projectos e realizações comuns cujos resultados obtidos revertem para si e para a Nação. As funções do Estado não devem ser de dominador da Nação e, consequentemente, dos cidadãos, mas tão só de regulador e disciplinador das regras por que deve a sociedade reger-se. Essas regras são definidas por leis justas e práticas que devem criar condições para que as famílias se consolidem o melhor possível. Estas medidas têm a ver com boas políticas de educação, de saúde, de justiça, de trabalho, criando leis que não favoreçam as já por si debilidades matrimoniais e o incentivo à dependência dos subsídios, não perdendo em vista o conceito da união familiar. Se fosse possível atingir-se a concretização destas premissas, teríamos uma Nação consistente e cada vez mais orgulhosa da sua Identidade e Independência.

Por sua vez, as famílias deverão acautelar a educação de seus filhos, não permitindo excessos e condutas menos próprias e adequadas ao civismo e respeito por si próprios e pelo próximo. Esta perspectiva advém: do abandono escolar; da frequência alienatória dos jovens, de ambientes de diversão nocturna até de madrugada; o livre consumo de estupefacientes; a prostituição livre e selvagem (não regulamentada); etc.. Estes males apenas servem para desmembrar as famílias, enfraquecendo, como consequência, os pilares em que assenta a Nação.

Esta é mais uma reflexão profunda que requer a atenção dos dirigentes deste país e das próprias famílias para que sejam mais vigilantes e exerçam uma política e doutrina consentâneas com os nossos verdadeiros valores, herdados de um passado valoroso e dignificante que devem merecer o reconhecimento e o exemplo de Todos Nós.

O ANTES...O AGORA!!! E O DEPOIS?

Publicado
Este tema é muito actual pelo que merece ser abordado em linhas gerais para avivar a memória dos portugueses para a sua história passada, presente e futura. O Antes de Portugal tem a ver com o Passado e é rico em factos e acontecimentos de onde se pode extrair um manancial de bons exemplos a aplicar no Agora, do Presente e prolongá-los no Depois do Futuro. E é do Presente que se parte para o Futuro.

Uma professora de História que tive nos anos 50, embora de origem francesa, vibrava e emocionava-se ao narrar-nos passagens da Nossa História. Dizia ela que a História de Portugal era das mais completas, multifacetadas e belas do Mundo.

No meu modesto entendimento, desejaria que os nossos governantes avaliassem, seriamente, a possibilidade de ser criada uma comissão de 6 a 10 deputados que tivesse como missão exclusiva estudar os momentos mais positivos da Nossa História, adaptando essas politicas de antanho ao presente, para imprimir ao exercício actual da governação uma lógica mais formal e cívica, produzindo leis potencialmente simples, práticas e justas. Este seria um contributo muito positivo para a consolidação da Democracia e o relançamento de todas as políticas no sentido de amenizar as perturbações do Presente e criar condições para o Futuro.

Estou convicto que se derrubariam muros e guetos, tornando a sociedade mais igualitária, instruída e com melhor auto-estima, ingredientes indispensáveis ao progresso de Portugal, colocando-O no patamar mais elevado, ombreando com alguns países do Mundo.

PERDIGÃO PERDEU A PENA...MAS NÃO A RAZÃO...

Inédito

Será pura coincidência o nome do personagem desta crónica confundir-se com o “Perdigão” dos versos de Camões. A única semelhança está no facto deste Perdigão também ter perdido a pena, não obstante ser uma figura real, de nome próprio e nosso contemporâneo.

O Perdigão que eu conheço atravessou os últimos três quartéis do século XX, assistindo, perplexo, a uma transformação profunda da sociedade, com a inversão completa de valores de 180º.O percurso da sua vida sofreu os atropelos e vicissitudes próprios das transformações das sociedades, em que há perdedores e vencedores injustos. Perdigão sentiu que toda a sua acção ia sofrendo interferências à medida que tentava construir o seu futuro honesta e meticulosamente. Os anos foram passando e a sua vida de projectos e ideais que admitia legítimos foi-se constrangindo e diluindo em decepções e frustrações.

Perdigão foi assistindo ao desmontar de valores que assimilara nos bancos da Escola com verdadeiros Mestres do Ensino e da Cultura. Sentiu-se impotente para enfrentar os tentáculos reformistas que o envolviam e manietavam. Os seus projectos deixaram de lhe causar expectativas positivas legitimamente criadas na adolescência. Tudo o que construiu e tentou resguardar das cobiças de terceiros, acabou por desabar e cair nas mãos dos noveis conquistadores. Fez várias tentativas para se reerguer e caminhar em frente, mas nunca lhe surgiram oportunidades válidas. As poucas vias que se abriram, depressa se fecharam, inviabilizando qualquer veleidade empreendedora, honestamente arquitectada. Razões estranhas e ocultas fizeram de Perdigão um simples espectador, não interventivo, da sociedade, retirando-lhe toda a apetência pela reconstrução da sua vida.

Na verdade, Perdigão foi perdendo a pena, mas manteve intacta a sua memória e a razão que nunca o abandonaram, antes, pelo contrário, foram-se avivando com o passar dos anos. Este é o único legado que Perdigão vai deixar aos seus descendentes, já que o seu património material se perdeu nas mãos dos injustos. Estes estão a ser julgados e continuam a ser justiçados pela Providência Divina.

POSTAL A PRETO E BRANCO DE THOMAR


PUBLICADO

Resolvi escrever dois postais sobre a cidade Nabantina, sendo o primeiro a preto e branco (negativo) e o segundo colorido (positivo). Ambos são escritos sem pontuação para lhes imprimir mais autenticidade e ritmo, num encadeamento de imagens fiéis do que me foi dado observar nos meus dois percursos pedestres pela cidade.

Despertei como habitualmente pelas 8 horas com o ruído incomodativo dos carros na minha rua e depois do meu preparo demorado saí de casa directo ao posto das apostas mútuas para arriscar 2 moedas de um euro no meu número habitual que raramente me contempla com quintos prémios seguindo para o “banco dos pensionistas” que um dia destes passa a “banco dos abastados” quando se der a tão anunciada privatização que no meu caso por vício vou ver se o saldo da minha conta não desceu abaixo da linha d’água compensando o meu pessimismo com o sabor de um café especial que tomo no meu café preferido que baptizei de “Café da Esquina” após atravesso a “Ponte Velha” de origem romana que o rei D. Manuel mandou recuperar com benefícios relevantes para a cidade e fico impressionado por duas visões deprimentes pois do lado direito deparo-me com a requalificação mal conseguida do Estádio Municipal sem bancadas de um pavilhão desportivo inadequado um estacionamento subterrâneo inaproveitado um parque de campismo mal ressuscitado e referenciado e do lado esquerdo impressiona-me o abandono do património histórico constituído por “Os Lagares d`El Rei” que parece suplicar ajuda para a sua recuperação e utilização continuo preocupado ao percorrer a Corredoura pois apenas me cruzo com outros passantes e observo as lojas que teimosamente ainda estão abertas mas sem clientes restando o “Café Paraíso” como ex-líbris da cidade finalmente chego ao coração de Thomar a “Praça da Republica” sob o olhar atento e austero do seu fundador “Gualdim Pais” e olhando para o alto da colina sobranceira à Câmara Municipal contemplo o Nosso e Mundial Património do “Castelo e Convento de Cristo” a reclamar a sua ligação directa à cidade via funicular contrariando a vontade dos bravos defensores de antanho que travaram recontros sangrentos com os mouros expulsando-os para sempre e devolvendo o Castelo aos seus súbditos e passo pela irreconhecível Rotunda Alves Redol sem água e relva e os pisos interior e exterior degradados subindo depois a Avenida do General Norton de Matos que quis preparar Angola para uma independência multirracial choca-me ver o espaço do mercado municipal orfã de uma remodelação geral apercebendo-me de “capim” ervas e matos que cobrem o local de vestígios arqueológicos a aguardar a construção do “Forúm” com projecto já aprovado entro então na minha “Rua dos Cavaleiros de Cristo” nome de grande dignidade e tradição onde há 36 anos circulavam e estacionavam uma dúzia de viaturas e hoje se tornou numa via perigosa para os peões e residentes dado o volume de tráfego e a alta velocidade a que circula e a falar de carros cheguei ao fim da linha não sem referir que o meu carro e de mais três utentes terem rebentado pnéus junto ao Cire numa cratera do asfalto que lá permaneceu cerca de dois meses tal como noutros pontos da cidade perante a passividade da autarquia.

E QUANDO...

Inédito

Quando tudo desabar e se perder
Quando já nada acontecer
Quando a vontade esmorecer
Quando já não apetecer viver
Quando se atingir o fim da linha
Quando a triste sina é minha
Quando os amigos desertarem
Quando os pais e tios já partiram
Quando os filhos e netos desistirem
Quando o Céu escurecer
Quando as nuvens aparecerem
Quando o Sol já não aquecer
Quando a Lua desistir do Luar
Quando as Estrelas embaciarem
Quando o céu da boca arrefecer
Só restará deixar-me crucificar.

CABINDA - UM PORTO DE MAR E O FUTURO


Publicado em 2 jornais


Nas Comemorações dos 125 anos do Tratado de Simulambuco

Escrever sobre Cabinda, é o meu dever, não só por ter lá nascido - e ter conhecimennto da sua verdadeira realidade histórica e actual -, mas também para assinalar as comemorações dos 125 anos da celebração do Tratado de Simulambuco com Portugal. Cabinda, não obstante estar a cerca de 5.390 km de Portugal Continental, nunca deixou de ser um pedaço de Portugal implantado em África, por nunca ter sido feita a sua verdadeira descolonização. Para melhor entendimento, passo a citar os artigos 3º e 9º do Tratado de Simulambuco celebrado entre os régulos e duques Cabindeses e a Coroa Portuguesa:
“Art.º 3º:- Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu protectorado; Art.º 9º:- Portugal respeitará e fará respeitar os usos e costumes do país.”

Foi em 1482 que Diogo Cão aportou pela primeira vez àquelas paragens, fundeando as suas naus na magnífica e bela “Baía das Almadias”. Eram então ocupantes, alguns franceses, holandeses e ingleses que se dedicavam ao tráfego de escravos. Com a chegada dos portugueses, houve lugar à disputa da liderança do comércio, com a permuta de produtos coloniais por mercadorias a que os portugueses se dedicaram com um elevado sentido de expansão dos nossos costumes, encetando uma nova fase de colonização por via da abolição da escravatura. Por estas razões, os países então ocupantes tiveram de deixar o território, vendendo as suas propriedades aos portugueses que ali se radicaram, pacificamente. A institucionalizar esta nova realidade política foi então celebrado o Tratado de Simulambuco, no dia 1 de Fevereiro de 1885, perfazendo este ano 125 anos.
O problema de Cabinda não é como se pretende fazer crer, apenas de natureza política, mas advem, muito principalmente, de razões socioeconómicas. Desde há mais de seis décadas que o povo de Cabinda clama por um porto de mar que permita a acostagem de barcos de longo curso - cargueiros e de passageiros -, de molde a facilitar e intensificar o manuseamento das mercadorias que chegam e dos produtos coloniais que são exportados. Se este porto tivesse então sido construído a par de investimentos dos Estados de Portugal ou e de Angola, noutros domínios (destacando como principais, uma rede completa de estradas, escolas e saneamento), ter-se-ia ido de encontro às necessidades e ambições das populações, apaziguando os seus ânimos e protestos. Surgiria um desenvolvimento geral do território, com uma penetração mais pacífica e sustentada do interior e o consequente crescimento do produto interno bruto mais redistributivo. O turismo assumiria um papel de relevo na economia do Enclave, pois mais do que Angola ou São Tomé e Príncipe, receberia grandes paquetes com turistas que iriam deslumbrar-se com as Florestas (das mais densas do Mundo), com as planícies e savanas, com os lagos e montanhas. Apreciariam o verde vivo da vegetação e as ricas e abundantes flora e fauna equatoriais.. Por outro lado, esse mesmo porto iria servir a economia da Republica Democrática do Congo (Kinshassa – ex-Congo belga), que também carece dum porto atlântico.
Dada a múltipla utilidade do porto, este pagar-se-ia por ele próprio, através das taxas que seriam cobradas pela sua utilização.
Não são as efémeras reservas petrolíferas que irão assegurar o futuro de Cabinda, pois além de limitadas, são exploradas intensivamente sem o retorno justo e proporcional a favor de Cabinda e da sua população. Estou persuadido que se esta obra se concretizasse seria dado um grande passo para a resolução do problema de Cabinda que carece e merece usufruir de Paz e Progresso.

Nota: - Os argumentos aqui apresentados na defesa do
porto de mar também são aplicáveis e justificam a cons-
trução de um aeroporto internacional.

O Pato-marreco

Publicado

Esta história nunca foi escrita, nunca foi inventada, nunca foi por mim contada aos meus filhos e meus netos, não por falta de inspiração, mas apenas por falta de tempo. Quando estive na iminência de a contar a meus filhos, as circunstâncias então vividas, com a minha vinda forçada para a Pátria Mãe impediram-me de fazê-lo. Hoje, na pacatez do meu recato caseiro, brotou em mim o desejo de narrar a história verdadeira do Pato-marreco que deixou os meus descendentes presos de curiosidade até à sua maioridade.

O Pato-marreco existiu na realidade durante a minha adolescência, No quintal da minha casa colonial, existia uma pequena poça d´água sombreada pela folhagem de um coqueiro empertigado e vaidoso abraçado pelos cocos, seus filhotes. O Finório – nome porque era tratado um pato preto, de asas e patas brancas –, chafurdava naquele minúsculo lago, em cumplicidade comigo que me entretinha a brincar com barcos de papel por mim construídos.

Bruscamente, do alto do coqueiro, precipitou-se um coco que vinha, fulminante, na minha direcção. Num ápice, o Finório que foi o primeiro a aperceber-se da catástrofe, da qual eu seria a vítima, deu-me uma bicada para eu saltar e protegeu-me do impacto do coco, que acabou por atingir o seu frágil corpo. Do seu acto instintivo de coragem resultou eu ter sido poupado a um acidente de consequências graves, enquanto que o Finório ficou imobilizado, em tratamento intensivo, durante um mês. Não escapou à sina de ficar marreco, tornando-se conhecido para sempre como o “Pato-marreco”.
Este é o exemplo mais flagrante de que um indefensável animal, consegue ser humano, quando arrisca a sua própria vida, retribuindo a protecção que o seu protector e amigo lh presta, neste caso, eu próprio.

O MAÇO DE TABACO

Publicado

Foi na idade pré-adolescente que tive a primeira percepção da maldade e da mentira. Num qualquer dia de brincadeiras com os meus amigos, Alberto, Jorge, Carlos e João, deu-se um episódio marcante na minha vida. Decorria a década de 40 em Cabinda.

Brincávamos à macaca no chão de terra fronteiro ao casarão de madeira que meu pai adquiriu aos ingleses, nos primórdios do século XX, quando o Jorge me lançou um repto:”Rui, vai à tua loja e tira um maço de tabaco para nós fumarmos.” A casa onde nasci fora construída pelos ingleses no início do século XX e era uma obra de arte colonial, de madeira e coberta a zinco, sem forro, em que coabitávamos com baratas, osgas, ratos e até por vezes cobras. Não vou descrever os pormenores arquitectónicos deste monumento - hoje inexistente por imposição do regime colonialista -, mas direi apenas que era coberta a zinco, sem forro e que dispunha de uma loja a abranger toda a parte da frente, emoldurada por uma varanda guarnecida com um gradeamento de madeira. Esta casa consta dos livros de postais de Cabinda e Angola do século XX.

Respondi-lhe, determinado: “Não penses nisso que meu pai não vai deixar que o faça e depois castiga-me”. Jorge insistiu sugerindo que para despistar devia servir de pretexto recolher “ginguba” (amendoim) e banana para o meu lanche habitual. Para me manter fiel e agradar à minha turma de amigos, arranjei coragem e segui o esquema delineado. Entrei na loja e coloquei a ginguba no bolso esquerdo dos calções e descasquei a banana, tirando o maço de tabaco. Quando me esgueirava para o exterior da loja, senti uma mão agarrar com firmeza o meu braço esquerdo e a voz acusadora de meu pai: “Anda cá meu maroto, pensavas que eu não dava pela tua malandrice?” Sem perda de tempo deu-me uma série de sopapos que me deixaram em pranto, não tanto pela dor mas pela vergonha de ter sido surpreendido num acto reprovável em que perdi de momento a confiança de meu pai.

Este episódio teve uma influência decisiva na minha vida, por ter tido pela primeira vez conhecimento da maldade e mentira dos homens e ter passado a abominar definitivamente o consumo de tabaco, nunca tendo fumado, dando por boa e decisiva a acção correctiva de meu pai, quando me apercebi mais tarde e hoje que há muitas vítimas do consumo destemperado do tabaco.

DÚVIDAS

Inédito

Duvido de tudo, de nada e de algo,
Duvido do que sou e não sou,
Duvido do passado, do presente
E do futuro, gosto amargo,
Duvido onde estive e onde estou,
Duvido de estar sempre ausente.


Duvido dos inimigos sem rosto,
Duvido dos colegas sem ética,
Duvido dos vizinhos olheiros,
Duvido dos amigos ao Sol posto,
Duvido das frases sem métrica,
Duvido dos infiéis e matreiros.


Duvido das mulheres submissas,
Duvido das prostitutas carinhosas,
Duvido das artistas e modelos,
Das suas plásticas movediças,
Duvido das misses bechigosas,
Das tatuagens nos tornozelos.


Duvido de promessas falsas,
Duvido de políticas erradas,
Duvido da Justiça e da Saúde,
Duvido de puras trapaças,
Duvido de ideias truncadas,
Duvido de elogios amiúde.


Duvido eternamente de tudo,
Duvido do Aquém e do Além.
Duvido de todos que cá estão,
Dos que foram para o Outro Mundo,
Duvido de quem muito e nada tem,
Duvido e duvidarei, eis a questão.

O GRANDE PATRIMÓNIO E O HOMEM

Publicado

Como é óbvio, relacionar o Grande Património com o Homem é imperativo para se tirarem ilações da necessidade de serem tomadas medidas urgentes e inadiáveis correctoras dos desvios cometidos pelo Homem.

O Grande Património é todo o Universo natural que compõe a Terra, planeta que nos foi legado pelo Poder Divino para nele vivermos. Porém o Homem não deu a devida importância a esse facto, servindo-se do seu Património Natural para o delapidar e degradar no seu proveito imediato, insensato e egoístico. Essa atitude tem passado por agredir a Natureza, devastando as matas pelo seu derrube e pelas suas queimadas, desventrando as suas entranhas para extrair as riquezas minerais, extraindo dos mares a sua fauna, secando fontes de água e mudando o curso das águas correntes, poluindo o ar através das fábricas e dos transportes mecânicos movidos a combustível, etc...

Não se vislumbra um retrocesso nos comportamentos do Homem, antes sim um recrudescimento das suas acções malévolas contra a Natureza para beneficiar das mais-valias imediatas, Assim a Natureza, inconformada, rebelar-se-á cada vez mais contra os maus tratos do Homem, causando-lhe danos gravosos materiais e morais. Este estado de coisas redundará na destruição do Grande Património que o Homem não sabe nem saberá estimar.

EGOÍSMO

Inédito

Palavra odiosa que enfrento,
Soa a um troar de canhão,
Dilacera e mata à distância,
Tempo de borrasca e trovão
É do seu dono seu sustento,
A minha inteira discordância.


A minha defesa é o desprezo,
Ignorando tão vil tratamento,
Esperar pela lei sagrada,
De um divino chamamento,
Ao deixar o egoísmo surpreso
Senil, divorciado e com tara.


O Egoísmo é falso e inimigo,
É vampiro de sangue devorador,
Vive dos outros até morrer,
Revela-se gigante adamastor,
Olha só para o seu umbigo,
Goza a ver as vítimas sofrer.


O Egoísmo é cobra venenosa,
Ninguém o consegue destruír,
O seu veneno é mau e mortífero,
Impossível de travar e impedir,
Torna a vida difícil e tormentosa,
Actua como droga e soporífero.


Para de vez matar o egoísmo,
Deverá ser usado um antídoto,
Mais poderoso que o seu veneno,
Eficaz, de efeito breve e maldito,
Usando armas contra o terrorismo,
Indiferença, silêncio e desprezo.

DINHEIRO COM ASAS

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Parece um tema tirado do “Conto Fantástico”, mas é simplesmente a imagem das características especiais que o dinheiro assumiu de há algum tempo para cá.

Gente com muito, pouco ou quase nada de dinheiro, esqueceu-se que o dinheiro tem de estar bem resguardado e investido com segurança para evitar que levante voo e não mais regresse. Contrariamente, constata-se que se descura esse cuidado, deixando que o belo prazer e sonhos cor-de-rosa alimentem e permitam a libertinagem do despesismo, para satisfação de prazeres pessoais. Assim, o dinheiro levanta voo e segue o seu rumo para destino incerto e definitivo. Por muitos apelos e choros que se manifestem à posterior nunca mais o dinheiro regressa. Só um “golpe de sorte” ou de “habilidade” poderá recuperá-lo.

De facto, a maior parte das pessoas acha-se inebriada com os euros (poucos ou muitos) que tem e não se sente mentalizado para o gerir de acordo com as suas necessidades mais urgentes, delapidando-o irremediavelmente. A ausência de um orçamento pessoal ou familiar está na base do descontrolo absoluto e irremediável. Na maioria dos casos, a inversão e reabilitação de atitudes passa por um redobrar de esforços dos aflitos, evitando que se torne tardia e impossível de conseguir.

Eis a razão porque cada vez há mais apostadores em jogos de azar, há mais desemprego, há mais subsídios, há mais conflitos, há mais protestos, há mais egoísmos, há mais invejas, há mais ambições desmesuradas, há mais descontentamentos, há mais fragilidades, convergindo toda esta amálgama de anátemas no sentido de se culpar única e exclusivamente o Estado que não é mais nem menos do que a incorporação de todos Nós.