terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SILÊNCIO E PROTESTO

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Faço do silêncio o meu talismã,
Só me ouço a mim próprio,
Sei o que sou e o que quero,
Recordo com saudade, minha irmã,
Por me ter levado ao promontório,
Que dobrei esperançado e crédulo.

Do outro lado da Boa Esperança,
Descobri um novo mundo,
Deslumbrado e surpreso fiquei,
Guardando bem fundo a esperança
De desvendar o Portugal profundo,
Com que há muito tempo sonhei.

Tornei-me cavaleiro andante,
Procurei trabalho e terras,
Encontrei portas fechadas,
Fui rotulado de vil tratante,
Ergueram-me vales e serras,
Atirado para celas encerradas.

Com Fé e muita perseverança,
Não desisti do meu caminho,
Sempre honesto e trabalhador,
Mantive acesa a luz da esperança,
Acompanhado, não sozinho,
Com a família, sempre batalhador,

Passados muitos anos fui premiado,
Com netos e bisnetos ao meu lado,
Pessoa justa e bem intencionada.
Profissional competente exaltado,
Por amigos e inimigos gabado,
Passei da vida activa à reformada.
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sábado, 15 de janeiro de 2011

LÁGRIMAS


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Já não tenho lágrimas para chorar.
Derramei-as no lago da minha vida.
Amargas, ardentes e sofridas,
Procuro esquecê-las e não recordar.


Tentei a vida rever no lago,
Sem sucesso, de tão poluente,
Fiquei do futuro temente,
Morrer na cruz crucificado.


Fiquei árido como um deserto,
Boca seca, memória lavada,
Barco encalhado em enseada
Sonho desfeito, sono desperto.


Já não sei, só quero esquecer,
Todas as lágrimas derramadas,
Palavras ocas, mal interpretadas,
Que eu quis deixar morrer.


Paixões e Amores esquecidos,
Alegrias e Dores sentidas,
Amigos e inimigos, fantasias,
Projectos e sonhos preteridos.


A vida sem lágrimas, é nada.
As lágrimas são sinais de vida,
Vida intensa sofrida e sentida.
Só é vida quando muito amada.
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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

MINHA CABINDA

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No meu curto percurso literário, este é o meu
primeiro soneto, escrito com muito amor.

Terra Sagrada onde eu nasci,
Bela, rica, sereia encantada,
No teu seio acolhido, cresci,
Foste sempre a minha amada.

Embora tão longe, estás sempre perto,
Devo-te tudo o que eu fui e que hoje sou,
Das tuas excelsas virtudes estou eu certo,
As bestas não contam, são quem me roubou.

Esperanças minhas por algum dia,
Ver justiça e sucesso na minha vida,
Como marcas para o meu futuro.

Com as bestas justamente punidas,
Descansarei para sempre, de mãos unidas,
No meu jazigo, no meu sepulcro.

O ADEUS

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Deixei a Minha Terra sem dizer adeus.
Não tive tempo, desapareci.
Rumei a Norte.

Trouxe recordações da Minha Terra.
Nada do que aconteceu, mereci.
Foi o meu Desnorte.

Comigo trouxe também a família.
Mulher e quatro filhos, assustados.
Descrentes e desenraizados.

Valeu-me o engenho e a arte
Duma profissão de maltratados.
Valoroso contabilista.

Em vão, trabalho procurei 6 meses.
Recusas, acusações, humilhações.
Mal tratado, sem razões.

Desterrado fomos fixados em Tomar.
Anos de sacrifício e afirmação,
Com crença e devoção.

Venci e convenci com firmeza.
Acrescentei netos e bisnetos.
A minha única riqueza.

Não foi um Adeus para sempre.
O meu coração retornará.
Quem sabe, se lá ficará.

sábado, 1 de janeiro de 2011

JOAQUIM MAIEMBLA

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Cigarro de forte nicotina, fumado dentro da boca, expelindo de quando em vez o fumo como uma chaminé, era o prazer máximo da vida quotidiana do Joaquim Maiembla. Quando nasci, nos anos 40 do século XX, já o Joaquim era quarentão. Possante, de perfeita compleição física, de rosto oblongo e olhos dóceis, o seu cabelo de carapinha era ralo, já com salpicos brancos.
Joaquim Maiembla foi muito novo trabalhar com meu pai e especializou-se em tarefas que só ele sabia manusear com perfeição. Era ele que torrava a “ginguba” (amendoim) e o café que eram vendidos na loja, em embrulhinhos de funil de papel de jornal, por 5 tostões. Este era também o custo de uma dúzia de bananas que ligava bem com a ginguba bem torradinha. Vendia-se centenas de pacotinhos diàriamente.
O Joaquim, para além de prestimoso e fiel colaborador, era generoso e de extrema bondade, com uma postura de verdadeiro cabindês. Contou-me meu pai que o Joaquim, na sua juventude, pegava com relativa facilidade, de baixo de cada braço, saquetas de 50 kgs. de coconote (caroço do déndém, fruto da palmeira). Eu juntava-me a ele com frequência para ouvir as suas histórias e compartilhar da sua comida africana apetitosa. O Joaquim tornou-se praticamente um membro da nossa família. Fez sempre questão de residir na sua casa, numa aldeia distante de Cabinda.
Todavia, nos últimos anos da sua vida octogenária quis viver o mais perto possível do seu local de trabalho. Construímos, nos arredores de Cabinda, uma casa de madeira com as condições exigidas para uma vida tranquila e concedemos-lhe uma pensão vitalícia. Já em Portugal soube da sua norte, que me deixou muito triste por ter perdido um verdadeiro amigo.

POBRES DE LUXO - VIVER FELIZ SEM DINHEIRO E SEM AMIGOS

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Parece uma utopia, mas é a realidade com que 2,5 milhões de portugueses se vêm confrontados e a que se habituaram para sobreviverem. Muitos foram removidos da classe média e ingressaram na nova classe de “pobres de luxo”.
É verdade, “pobres de luxo” é a designação mais apropriada que se pode atribuir a 25% da população portuguesa que aufere um rendimento inferior a 411,00 € por mês. Por que razão eu classifico esses cidadãos de “pobres de luxo”? Simplesmente por de repente terem sido obrigados a aceitar de um modo paciente e conformista a gestão da sua vida material e emocional em perfeita harmonia, compatibilizando as suas necessidades mínimas com as suas verdadeiras possibilidades. Acabaram por ser esquecidos pelos pseudo-amigos e alguns familiares que desertaram e passaram à clandestinidade, tornando-se, na maioria dos casos, incontactáveis.
Nos dias conturbados que vivemos, em que uma estirpe de indivíduos disputa com ganância desmedida usufruir do exclusivo direito de dispor dos bens terrenos, os mais desfavorecidos inventaram e puseram em prática uma filosofia de vida harmoniosa, gerindo a magra parcela desses bens que lhes cabe. Não têm a preocupação de gerir riqueza para além da que dispõem para sobreviver. Contrariamente, a classe abastada vive obcecada com a ideia de poder, eventualmente perder parte ou a totalidade do seu património e mordomias.

Pertencer aos “Pobres de luxo”, é saber viver feliz, sem dinheiro e sem amigos pelo tempo que a crise durar.

ATRACÇÃO DO ABISMO PELO DINHEIRO

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De um modo geral, as pessoas gravitam à volta do dinheiro. Desde que o Mundo se materializou, a moeda passou a ter uma importância cada vez mais crescente na vida das pessoas.
Má sorte a do ser humano que, por culpa própria, se tornou irremediavelmente dependente do dinheiro. Não se consegue sobreviver sem dinheiro e este passou a fazer parte inseparável das pessoas. Toda a gente luta e barafusta por dinheiro, andando, cega e egoisticamente, numa correria desenfreada, atrás do metal cintilante, até ao abismo. São os governos, as famílias e os cidadãos de um modo geral que se deixam arrastar e arrastam a Nação para o abismo.
No meio deste caos, há uma minoria que se bate por, sensatamente, gerir os seus parcos recursos, de molde a não cair no abismo e sofrer consequências menos gravosas, embora sejam atingidos pelos efeitos nocivos provocados pelos responsáveis por tais danos irreversíveis.Relembro o meu tempo de meados do século passado, em que, pela África virgem, se professava uma filosofia de vida sem ambições desmedidas. Embora circulasse dinheiro, era dada mais importância à permuta, tanto de bens materiais como de tradições e costumes. Esta era a pedra basilar da colonização que, entretanto foi substituída violentamente pela globalização, assente na valorização desregrada do capital. No caso particular de Portugal, se todos os portugueses se unirem com o objectivo comum de, modestamente e sem intuitos de enriquecimento, aumentarem a sua produtividade, repartindo o crescimento económico pelo pagamento das suas dívidas e do Estado, então evitar-se-á o abismo e inverter-se-á a situação.

O BOM POVO E O MAU ESTADO

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Porque razão coloco, neste tema, o Povo à frente do Estado? Simplesmente porque o Povo representa a verdadeira identidade da Nação. Todavia, a forma e o modelo em que o Estado está organizado, permite-lhe ter supremacia e dominar o Povo, tratando-o mal.
O Estado criou o seu sistema de organização como um verdadeiro escudo impenetrável, isolando completamente o Povo e protegendo as suas classes preferenciais colaborantes: os poderes político e financeiro. O Povo, marginalizado e sujeito às regras e directrizes emanadas do Estado, não tem condições para poder fazer as suas opções mais consentâneas com as suas verdadeiras capacidades. As exigências do Estado são castradoras dos mais elementares direitos do Povo. Essas exigências passam pelos impostos directos e indirectos, pelo consentimento do emprego precário, a recibo verde, pelo ensino técnico subaproveitado, pela inacessibilidade à justiça, pelo desincentivo à iniciativa individual, etc...
Por esta razão todo o crescimento económico que o Povo produz tem uma sub-mais-valia, Além disso essa deficiente mais-valia é absorvida pela máquina do Estado, com as suas despesas correntes e juros da sua dívida, aumentando, por outro lado, o enriquecimento de todo o sistema financeiro e político. As sobras são para o Povo que, por serem insuficientes, vão aumentando o seu estado de pobreza. Resta a esta classe a solidariedade do próprio Povo que compartilha os seus parcos rendimentos com os mais necessitados, através de várias iniciativas, quer individuais, quer em grupo, como a campanha permanente do Banco Alimentar e outras Organizações de Solidariedade.
Como conclusão, enquanto o Estado continuar a concentrar todo o seu poder de decisão no seu sistema, ignorando o Povo, cavar-se-á cada vez mais o fosso entre os ricos e os pobres, como o reconheceu, recentemente, o próprio FMI. Todavia, este caminho poderá levar à recessão e à própria falência da Nação, que eu não desejo para os meus descendentes.

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DOUTRINAS E PRINCÍPIOS

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Um olhar sobre a Democracia – No Aniversário da morte de Francisco Sá Carneiro

Depois de bastante reflectir sobre o estado da Democracia, cheguei à conclusão que a Democracia está comprometida com Doutrinas e não com Princípios. A viciação da Democracia existe genericamente em todos os domínios: na política, na religião, nas empresas, nas associações, nos sindicatos, nas próprias famílias e na sociedade de um modo geral. Os princípios são seguidos pelos grupos de solidariedade social, pelas pessoas de bem e por todos os humanistas.
As Doutrinas têm sido, através dos tempos, impostas pelos seus líderes, que, demagogicamente, exigem a obediência aos seus desejos e ideais. Constituem núcleos duros, dentro da sua esfera de acção, subjugando os cidadãos que professam Princípios e resistem, ingloriamente, às Doutrinas. Uma figura paradigmática defensora de Princípios, é Francisco de Sá Carneiro que sempre rompeu com as Doutrinas que os regimes lhe quiseram impor, e que ele sempre rejeitou, com determinação muito forte, até à sua morte misteriosa.
É devido às Doutrinas disseminadas, como uma teia, por toda a sociedade, que o estado das Nações se agrava progressivamente, criando e agravando as injustiças sociais. São estas que impedem o progresso mediante a distribuição da riqueza, mais equitativa, e a erradicação da iliteracia Como consequência final, é a própria Nação que fica fragilizada, tanto internamente, como externamente, perdendo património e credibilidade, para mal das gerações vindouras.


A NOSSA AGENDA

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Desde tenra idade que me senti atraído pelas Agendas. Eram de vários tamanhos e mais ou menos sofisticadas e dei-lhes sempre muita importância. A Agenda sempre representou para mim, para além de uma ferramenta, um objecto de culto.
Através da minha já longa vida a Agenda tornou-se inseparável e a minha experiência diz-me que todo o ser humano devia ter uma agenda pessoal. É na nossa Agenda que nós devemos registar todos os nossos compromissos tanto a pequeno como a médio e a longo prazos. Esta norma é determinante para que se cumpram caminhos e metas na nossa vida. A agenda pode ser criada no computador, no telemóvel ou em papel, de acordo com a vontade de cada um.
A Agenda foi uma boa fonte de informação diária das minhas obrigações profissionais no desempenho das funções de gestor das minhas empresas, nomeadamente enquanto contabilista liberal. As muitas obrigações declarativas fiscais e de informação empresarial, tinham datas rígidas fixadas que a minha Agenda me ajudou a cumprir rigorosamente, evitando penalidades.
Constato que a maior parte das pessoas vive ao sabor das eventualidades e circunstâncias consideradas inevitáveis das suas vidas, descurando agendar um elenco de prioridades a seguir. Por isso, a maior parte dos seus projectos intempestivos, não agendados, acabam por falhar, não colhendo resultados positivos.
Convém esclarecer que não se deve confundir livro de “Memórias” com “Agenda”. As memórias são consequência da nossa agenda e esta deve ser diariamente actualizada, fazendo dela constar, com primazia, o orçamento pessoal, que hoje, mais do que nunca, impõe que seja delineado. Tenho absoluta convicção que se as pessoas se preocupassem com a organização da sua Agenda pessoal, transparente e sociável, as relações humanas seriam mais consensuais e justas, sem ferir interesses e direitos de terceiros. Haveria mais Paz e Concórdia Universal.

JÁ CHEGA DE MOLEQUE. MAIS...NÃO

INÉDITTO

Segundo o dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, “Moleque”, significa “criado”, “serviçal”. É um termo muito vulgarizado em Angola, em que o colaborador mais novo de qualquer empresa, ou o membro mais novo de uma família, é submetido a uma discriminação em termos de direitos e obrigações, sendo-lhe atribuídas as tarefas mais exigentes e desqualificadas, mas de responsabilidade.
Esta filosofia discriminatória generalizou-se e hoje quase a totalidade dos cidadãos é “moleque”, pois depende de ordens superiores que condicionam a sua liberdade de pensamento e de acção. É um puro engano quando se pensa ou diz que vivemos hoje em democracia, com liberdade plena de pensamentos e de expressão. Ao nível familiar, profissional, político, sindical, em fim, da própria comunidade, somos moleques do sistema e da hierarquia imposta. É impossível fugir desta doutrina, pois o contrário era adoptar princípios mais justos e livres.
O quotidiano da nossa vida é demonstrativo da nossa total dependência de terceiros que nos impõem a sua vontade, por acharem que a sua opinião deve ser prevalecente por servir exclusivamente os seus interesses pessoais, mesmo reconhecendo que resulta em prejuízos notórios de terceiros. Eu próprio durante toda a minha vida me achei “moleque”, quer da família, quer do sistema político, conseguindo libertar-me quase totalmente desse pesadelo, quando já reformado. Para atingir esta matriz tive de abdicar de veleidades e ambições, na busca de mais rendimentos ou mediatismos, exclusivos dos mandantes.
E assim se eclipsa definitivamente a vida de quem tudo fez e não conseguiu alterar o sistema que tão mal o tratou e impediu de contemplar uma Nova Aurora. Que pelo menos essa perspectiva seja diferente para os nossos descendentes.

APARÊNCIAS E EVIDÊNCIAS

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Vivo em permanente conflito comigo próprio porque desde que me conheço, assisto a uma dualidade de interpretações da vida, em que as aparências prevalecem em detrimento das evidências.
As pessoas andam tão entretidas e distraídas com as Aparências que se esquecem das Evidências. Estas existem e mantêm-se porque as verdades ficam por dizer e encobertas. A preocupação mais evidente dos mensageiros das aparências é entreter os destinatários com promessas de um futuro promissor.
Todas as mensagens por nós captadas têm sido no sentido de apenas, ilusoriamente, alimentarem perspectivas desfocadas de cenários hipotéticos e irrealistas que nos querem fazer crer de profícuas. As aparências são-nos transmitidas especialmente pela classe política dominante, interessada no prolongamento indefinido das ilusões.
Estas aparências já contagiaram uma parte da sociedade civil que também passou a viver com as aparências, não assumindo a realidade das evidências. Quando se aperceberem de que as evidências condicionam a evolução positiva das suas vidas, na maior parte dos casos, já será tarde para arrepiarem caminho.