segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ODE A CABINDA


SONETO

Cabinda, jardim de verdura equatorial,

Tens uma fauna e flora incomparável,

Encerras história e vida indecifrável,

Dignas de um valioso e rico memorial.


Com amizade e carinho tu aceitaste,

Os colonos que por fim enfeitiçaste.

Deste e recebeste em troca abraços,

Gerando herdeiros de comuns traços.


Intrusos por ciúmes te assediaram,

Forçaram os teus humanos direitos,

Defendeste os merecidos respeitos.


Teus ideais a resistir te encorajaram,

Foste ao limite de toda a resistência,

Manténs o brio da honra e decência.

domingo, 30 de outubro de 2011

OS MENINOS DE CABINDA


Fui menino de Cabinda como outros meninos,

Juntos convivemos e crescemos,

Amigos traquinas e ladinos,

Sempre nos entendemos.


Éramos meninos brancos, pretos e mulatos,

Audazes, solidários e irreverentes,

Fugíamos aos maus-tratos,

Éramos negligentes.


Apanhávamos passarinhos vivos ou à fisga,

Fazíamos judiarias às rãs e sapos,

A praia era a nossa amiga,

Os pais os mais chatos.


Nas sanzalas, com meus amigos me juntava.

Para as suas comidas saborear,

De minha casa desertava,

Só pensava em brincar.


Para fugir à catequese, às aulas ousava faltar,

Acompanhavam-me os meus amigos,

Para juntos podermos reinar,

Arriscando perigos.


Os meninos de então, tinham poucos brinquedos,

Entretinham-se a jogar à macaca,

Às escondidas, aos segredos,

Ou ainda à apanhada.


Como pena para as nossas diabruras e gazetas,

Ficávamos na escola de castigo,

Carpíamos as nossas tristezas,

Sem ar arrependido.


De meninos a adultos de repente passámos,

Romperam-se os laços que nos uniam,

Uns partiram, outros ficaram,

Os sonhos se sumiram.


Tenho saudades do tempo de menino de Cabinda,

Com os momentos de crianças inocentes,

Longe de imaginarmos ainda,

Tempos futuros repelentes.

sábado, 29 de outubro de 2011

EXPIAÇÃO

Cansado da Terra e das suas contradições,

Resolvi rumar às Estrelas,

Tomei lugar numa nave,

Parti como uma ave.


Migrei sem rumo para o longínquo espaço,

Em busca de Paz e sossego,

Encontrei almas errantes,

Com máscaras berrantes.


Reconheci terráqueos condenados por delitos,

A expiar seus crimes cometidos,

Sem defesa e punidos,

Por tempos indefinidos.


Senti-me traído por promessas de expiação,

Mera fantasia, pura ilusão,

Apenas terrível vingança,

Sem me dar esperança.


Da minha aventura de tentativa libertadora,

Achei que se continuasse na Terra,

Teria mais facilmente escapado,

A ser injustamente castigado.

SAUDADE MINHA

SONETO

A saudade é minha companheira,

Vive comigo desde a nascença,

Foi a minha eterna mensageira,

Deu-me maturidade e sapiência.


A saudade desvendou o futuro,

Do que havia de me acontecer,

Tornou-me mais crente e seguro,

E atingir boas metas sem sofrer.


Sei que a saudade não é maldade,

É meu bálsamo, musa inspiradora,

Fiel amante, amiga enternecedora.


Já não consigo viver sem a saudade,

Viverei com ela toda a minha vida,

Até chegar o dia da eterna partida.

O MAR


Ó Mar, és tão grande, que me falta engenho

Pra cantar o teu pulsar, neste meio terreno.

Encerras tantos mistérios e tais riquezas,

Que me faltam palavras pra te enaltecer

E inspiração para descrever tuas belezas,

Receando se sirvam de ti para enriquecer.


Embora não tenha nunca sido marinheiro,

Nasci à tua beira, numa terrasinha africana,

Nas tuas águas quentes, banhos saboreava,

Secava-me deleitado à sombra do cacaueiro,

Sonhava com uma mulata, linda filigrana,

Que almejava vir a ser a minha namorada.


Naveguei muitas vezes sobre as tuas ondas,

Atravessei o Equador com o teu baptismo,

Irado, revoltaste-te com algumas afrontas,

Que os homens te lançaram com egoísmo.

Barcos puseste em risco de naufragarem,

Mobilizando as ondas para te vingarem.


Ainda hoje não decifrei a tua vil atitude,

Quando o barco que me trazia a Portugal,

Ficou sem rumo, batido pelo mar bravio,

Que atiraste sem piedade contra o navio.

Passei por momentos de medos e susto,

Poupaste-me à morte, tornaste-me astuto.


Fiquei-te grato e a admirar-te ainda mais,

Tens sido generoso, amigo e eloquente,

Ajudas o Homem com os teus recursos,

Em troca pedes que ele seja consciente,

Navegando tranquilo até atracar ao cais,

Sem cometer provocações, nem abusos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

MAIOMBE


Farol verde do Mundo em Cabinda

 
Palavra misteriosa que desperta curiosidade,
Maiombe é floresta, domínio da natureza,
Reflecte o seu ar de majestade,
É uma verdadeira fortaleza.
 
Ainda é para as multidões impenetrável e virgem,
Encerra fauna e flora incomparáveis,
Mantendo segredos da sua origem,
Para sempre indecifráveis.
 
Sou dos poucos que conheceram o seu interior,
Vi gentes primitivas, animais e pássaros,
Vi repteis e anfíbios de vida superior,
Vidas sem sobressaltos.
 
Gostaria de viver no teu seio, acarinhado e defendido,
Longe das multidões ávidas do consumo,
Distante de ofensas e ataque imerecido,
Provocador e absurdo.
 
Para os seus protectores, Maiombe é indestrutível,
Defendida de todas as suas riquezas,
Pérola de Cabinda inconfundível,
Desconhece fraquezas.
 
Maiombe é e será eterna, até ao extinguir da Terra,
Protegerá e será protegida sem tréguas,
Pelos seus habitantes em guerra,
Contra as cegas feras.
 
As minhas palavras são modestas e não tão justas,
Como a tua grandeza merece e justifica,
Gostaria que fossem tão argutas,
Como o teu nome glorifica.
 
 
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PENSAR SEM PECAR

SONETO

O pensamento é mordaz e traiçoeiro,
Traz consigo o pecado e a maldição,
Chega sem avisar, mudo e matreiro,
Entra em surdina e com provocação.
 
É uma utopia pensar em silêncio,
Sem o nosso pensamento pecar,
Mudo e indiferente vem provocar,
Momentos de ofensa e de desafio.
 
Finalmente o pensamento despertou,
Apercebeu-se que estava a pecar,
Deixou de a todo momento abjurar.
 
O pensamento a outro estado passou,
Ficando só com as boas lembranças,
Confiando então em boas esperanças.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

EQUÍVOCOS


SONETO


Quero esquecer muitos equívocos,

Produto dos inúmeros mexericos,

Que me iludiram por muito tempo,

Sem me aperceber do contratempo.


Gostaria de desfazer os equívocos,

Que vivi em tempo de malefícios,

Enganando-me a mim e aos outros,

Sem proveito próprio nem dos tolos.


Depois de muito tempo me esforçar,

Por mensagens de alguém recebidas,

No meu subconsciente escondidas,


Acabei por meus equívocos decifrar,

Pedindo perdão por males causados,

A todos quantos foram confrontados.

RIO CONGO


(Versos sem rimas, mas sentidos)

Rio das minhas memórias, de tamanha grandeza,

És o sétimo maior do nosso Mundo,

Banhas terras férteis,

Do berço do Homem.

Vives em África.


Nasceste nas Montanhas do Vale do Rift, na Zâmbia,

Onde foste batizado de Lualaba,

Desceste à floresta e à planície,

Passaram a chamar-te Congo,

Na Foz és o Zaire.


As tuas águas quentes de muita força e volume,

Regam as imensas terras produtivas,

Repartes a beleza e os cheiros,

Das margens que abraças,

Com sedutor mistério.


Visitas grandes países de África, também Angola,

Misturas-te com as praias de Cabinda,

Perdes a tua castidade com o petróleo,

Que te espera na porta de entrada

Do oceano Atlântico.


Não esqueço o barulhar da tua poderosa corrente,

O arrastar dos aromas das tuas margens.

Do teu assédio à fauna e flora,

Que te rodeia e é impotente,

P´ra te evitar.


Foi para mim marcante, quando tu me aceitaste,

No teu dorso forte e possante,

Permitindo que eu atravessasse,

As tuas margens distantes,

P´ra Cabinda alcançar.


Das minhas memórias que guardo de África,

A par da minha abençoada Cabinda,

Tu és a minha rainha, sem coroa,

Com a monarquia substituída,

P´la Republica falida.

domingo, 23 de outubro de 2011

SENTIMENTOS

SONETO
 
Os Sentimentos são misteriosos,
Difíceis de por vezes controlar,
De sinais e avisos contraditórios,
Deixam-nos entre odiar ou amar.
 
Os sentimentos levam a pecar,
Quem não sabe amar alguém.
Devem os sentimentos ajudar,
Quem ama mais que ninguém.
 
Aprendi com a idade controlar,
Os sentimentos que restam,
Sempre que se manifestam.
 
Jamais eu quis voltar a pecar,
Por achar que os sentimentos,
Devem dar-nos nobres alentos.
 
 
 
 

sábado, 22 de outubro de 2011

AS MINHAS LÁGRIMAS

SONETO

As lágrimas por mim vertidas,
Apareceram não sei eu porquê,
De máscaras e trajes vestidas,
Deram-me sensações pra quê?

Sei que chorei de muita alegria,
Também lacrimejei de tristeza,
Lágrimas com gosto a maresia,
Viajando em ondas de afoiteza.

No mar revolto da minha vida,
Naveguei às lágrimas agarrado.
Pelo farol dos deuses guiado.

A paragem final foi conseguida.
Passei a suportar com mais amor,
As lágrimas vertidas com fervor.

ESTAR DISPONÍVEL

(INÉDITO)

Nunca na minha vida estive tão disponível como agora. Desde que me reformei que fiquei mais liberto para mim e mais à disposição da minha família. Os meus netos e bisnetos monopolizaram as minhas atenções. Deram uma outra dimensão às minhas prioridades que passam pela minha sensibilidade espiritual em detrimento do interesse material.

Hoje, passei a encarar a vida como um meio para se cultivarem laços sólidos de solidariedade com os outros seres humanos e o respeito por todas as forças da natureza.A maneira mais eficaz para o conseguir, no que me diz respeito, é servir-me da literatura, publicando mensagens através de crónicas e versos. Sei que sou um simples curioso e amador da escrita, mas esforço-me por me fazer compreender. Pena tenho que o elevado índice de iliteracia seja um obstáculo à divulgação dos meus textos, que são lidos por apenas 1% dos residentes na minha comunidade.
Este obscurantismo, em que a maior parte das pessoas vive, contribui em grande parte para o atrofiamento do nosso País. Devido à insuficiência de informação, as pessoas não podem tomar as decisões mais ponderadas e úteis, quando são chamadas a pronunciar-se. Instala-se nos espíritos pensamentos confusos que toldam o raciocínio e a consequente participação na vida comunitária.

Deixam-se as decisões ao critério prepotente das elites que se esquecem dos que lhes proporcionaram esse privilégio. E assim perpetua-se no tempo e no espaço a doutrina imposta pelos “iluminados”, com consequências nocivas para o progresso sustentável do nosso País.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A MINHA DOR

SONETO
A dor é tão intensa, já não a sinto,
É passageira mas perdura,
Existe, tento ignorar, mas pressinto,
Que vai ser a minha tortura.
 
Tento embrulhar a dor em fantasia,
De papel de laços coloridos,
Para aliviar meu mal, a minha azia.
De todos momentos sofridos.
 
Quando eu já presente não estiver,
Neste Mundo mui conturbado,
O embrulho será desdobrado.
 
Para os descendentes poderem ver,
Todas as sensações que vivi.
Verão que jamais lhes menti.
 
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

JÁ NADA MUDA

SONETO

Já nada muda na minha vida,

Tudo o que havia para mudar,

Já mudou, por eu acreditar

Que a vida está já exaurida.


Tentei ainda a vida vir a mudar,

Forças estranhas o impediram,

No meu íntimo me agrediram,

Ameaçaram bem me maltratar.


Desisti por fim de mudar a vida,

Sem os objectivos concretizar,

Por os impossíveis eu acreditar.


Não alcancei a terra prometida,

Que à nascença me propuseram,

E no fim da vida me retiraram.

A MINHA CAMA

SONETO
A minha cama é só minha,
Nela me deito com prazer,
Descanso a minha espinha,
Mimoseia-me o meu lazer.
 
Não prescindo da minha cama,
Ela dá-me longo repouso,
Oferece-me imenso gozo,
Como se fosse a minha dama.
 
A minha cama é minha confidente,
Sabe segredos por nós guardados,
A sete chaves em baú fechados.
 
De assédios e ciúmes temente,
De paixões e pecados vividos,
Até ao fim da vida escondidos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

OS MOMENTOS DA VIDA


(REFLEXÃO)


Os momentos são muitos e diversos,

Que vivemos sós ou acompanhados,

Tristes e alegres, surgem dispersos,

Deixam-nos a vida toda, esperançados.

UM POEMA PARA TI

SONETO
Não te conheço, és a minha inspiração.
Para este poema te oferecer,
Escrito com muito amor, com o coração,
Para aliviar meu triste sofrer.
 
Navego em ondas de muitas tormentas,
Com o meu pensamento em ti,
Sem leme, sem rumo, para as calendas,
Foi assim que sonhando, vivi.
 
Quero com os meus versos te conquistar,
Chegarmos a porto seguro,
Vencendo tormentas e todo apuro.
 
Este é o poema que te propus dedicar,
Escrito com muito sentimento,
Desejando-te comigo neste momento.
 
 

domingo, 16 de outubro de 2011

A CIDADE DE GUALDIM PAIS

SONETO


A cidade de Gualdim é também minha,

Chama-se Thomar, é histórica e bela,

Foi criança, adulta e pura donzela,

Passou de princesa a eterna rainha.


Acolheu-me no seu azado colo,

Deu-me algum trabalho e apego,

Esperanças de viver em sossego,

Aumentar a família no seu solo.


A cidade de Gualdim Pais foi traída,

Nabantinos e futuro comprometidos,

Meus projectos, meu orgulho feridos,


Perdeu seus bons cidadãos de saída,

Para longe, no estrangeiro tentarem

Trabalhar a sério e a crise debelarem.

sábado, 15 de outubro de 2011

COMO DEIXEI A MINHA TERRA

(INÉDITO)

Aproximava-se o dia da proclamação da Independência de Angola. Com o contencioso político de Cabinda por resolver, a minha apreensão pela paz e segurança aumentava na razão inversa do tempo que passava. Eu era confrontado, diariamente, com o assédio dos revolucionários sobre a minha permanência ou não na minha terra. Inversamente, exigiam que eu aderisse ao movimento pró-independência de Angola, que eu rejeitei.

Impunha-se tomar uma decisão que corria contra o tempo. Via passarem as semanas, os dias e um impulso repentino decidiu pela minha razão. Ainda hoje me interrogo por que motivo resolvi deixar a minha terra. Acho que na altura, o que imperou na minha decisão, não foi o medo, mas apenas a família que já se encontrava em Portugal. Todavia, acho que os perigos e privações por que poderia ter passado não teriam sido maiores do que as vicissitudes e humilhações a que viria estar sujeito em Portugal.

Seguiram-se noites de vigília alternada com sonos breves e a odisseia de encaixotar os meus objectos de uso pessoal que não podia abandonar. O maior recheio da minha casa ficou porque tencionava regressar logo as circunstâncias o permitisse. Para garantir a preservação dos meus bens domésticos e a manutenção da posse da minha casa, deixei a habitá-la um meu colaborador africano Cabindês. (Passados 6 meses foi desalojado devido à nacionalização dos meus bens). Por faltarem apenas 3 dias para a Independência, tornou-se difícil conseguir um lugar no avião de carreira da TAP. Ao embarcar para Luanda, passei pelo momento emocional mais complicado da minha vida, pois iria deixar a terra que me viu nascer, sem a certeza de que regressaria.

Em Luanda, à fome e à mercê da alta temperatura que se fazia sentir, aguardei um dia e uma noite por uma vaga no avião da TAP. A agravar a situação, um piquete do MPLA revistava a bagagem, recolhendo objectos, como rádios, artesanato, ouro e dinheiro. Tive a sorte de ser atendido pelo piquete das autoridades portuguesas que partilhavam a fiscalização. Apenas me preocupava o rádio Hitachi, minha companhia inseparável, que deixaram passar.

Por fim lá entrei no avião e, já em pleno voo, ainda deitei um último olhar emocionado a Luanda e às suas ilha e bela baía, antes de mergulhar num sono prolongado para recuperar das dezenas de horas perdidas a dormir com intermitências. O que me aconteceu em Lisboa, após a minha chegada, e as surpresas que os dias, meses e anos me aguardavam, ficam para relatar numa segunda crónica.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

COMPROMISSO DA VIDA

Soneto
Viver é prazer, é sofrer sem condições,
É receber surpresas e motivações,
Dar-nos alegrias e algumas tristezas,
Para a vida suportarmos sem tibiezas.
 
A vida oferece-nos afectos e amor,
Sensibiliza-nos a desvalorizar a dor,
Ensina-nos sermos mais solidários,
Encoraja-nos trabalhar sem horários.
 
Devemos aproveitar o bom da vida,
Com espírito altruísta e conciliador.
Não ofendermos alguém com rancor.
 
Chegarmos de bem à Terra Prometida,
Felizes e realizados por ter cumprido,
O compromisso com Deus assumido. 
 
 
 
 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MARINHA MERCANTE


(INÉDITO A PUBLICAR)

A marinha mercante portuguesa teve uma importância relevante na economia do País nas décadas de 40 a 70 do século XX. A marinha mercante abrange a marinha de comércio e a marinha de pesca. Vou apenas debruçar-me sobre a primeira, que era o único transporte de mercadorias e passageiros e de correio.

A marinha mercante comercial desempenhou sempre um papel fundamental na ligação entre Portugal e as suas províncias ultramarinas. A utilização dos meios aéreos só veio a tomar corpo na década de 50, embora o primeiro voo da TAP se tenha realizado em Dezembro de 1947. Os seus custos ainda eram elevados. Com a vulgarização deste meio de transporte e as independências dos territórios ultramarinos, Portugal abandonou a Marinha mercante ao puro ostracismo.

Esta introdução à minha crónica visa enquadrar o tema no momento que se vivia em Cabinda entre os anos 40 e 60. Nessa época, Cabinda dispunha apenas de um cais de acostagem de batelões e embarcações de pequeno calado. Os navios de carga ficavam fundeados fora da baía, por falta de calado e os produtos de consumo e passageiros eram transportados para a ponte cais, respectivamente, através dos batelões e lanchas. De retorno, recebiam da mesma forma produtos coloniais e passageiros.

Os navios eram exclusivamente de carga de bens e dispunham apenas de meia dúzia de camarotes para passageiros. Os barcos exclusivamente de passageiros, ditos paquetes, não escalavam Cabinda por o número de passageiros reduzido não o justificar. Entre Cabinda e Portugal e vice-versa, os barcos de carga faziam, esporadicamente, escalas pelos portos de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Canárias (muito raramente) e Madeira. As viagens duravam de 3 a 4 semanas, consoante o estado do mar e do tempo. Aportavam Cabinda uma vez por mês, um ou dois navios, neste caso, quando se justificava, para receberem produtos coloniais, principalmente madeiras exóticas em toros e serrada.

O dia da chegada de um navio era efusivamente festejado por toda a população- A sua aproximação à baía assinalada pelo toque dos sinos do Palácio do Governo e da Capitania.situados em dois morros da vila. Adultos e miúdos, homens e mulheres, exultavam de contentamento porque iriam, ainda no mesmo dia, poder saborear a sardinha, o carapau, o queijo da serra, o bacalhau, as frutas e legumes e demais alimentos frescos. Todos este produtos eram importados e esgotavam durante uma parte do mês, até chegada de nova remessa. A alfândega, por vezes, trabalhava noite dentro para desembaraçar os produtos alimentares acabados de chegar. Os colonos também aguardavam sofregamente as cartas das famílias e comerciais que só chegavam de mês a mês, às quais respondiam para seguirem no mesmo barco.

A garotada, amigos inseparáveis das brincadeiras, brancos, pretos e mulatos, corria em competição, em direcção ao palácio, para poder contemplar a entrada do navio na orla da baía. Iam divisando no horizonte, em crescendo, o mastro, seguido do convés e terminando no casco do navio até à zona da água.É uma imagem única que ainda hoje guardo com agrado na minha retina e que me faz reviver os momentos simples da vida de então, comparados com os momentos complexos de hoje.

De facto, actualmente, Portugal só ficou a perder com o abandono da marinha mercante, tanto de comércio como de pesca, que poderia contribuir sobremaneira para o crescimento económico do País, não só pela produção de riqueza como pela criação e manutenção de postos de trabalho. Bastava ter-se convertido os navios em porta contentores para utilização do País e eventual angariação de fretamentos.


DOUTRINAS LÚCIDAS E TRANSLÚCIDAS

(INÉDITO A PUBLICAR)

As doutrinas são muitas e de variadas origens. São produzidas como regras a seguir por razões práticas e consensuais, no caso das doutrinas lúcidas ou por razões ideológicas, impostas, tratando-se das doutrinas translúcidas.

Ao longo de todos os tempos, a humanidade viveu sempre condicionada pelas doutrinas: as lúcidas que dificilmente foram seguidas por ausência de clima e ambiente favoráveis e as translúcidas que, por serem impostas, foram aceitem sob submissão e contra vontade das pessoas. As doutrinas translúcidas, decretadas, tiveram sempre efeitos negativos na formação de sociedades justas e equilibradas, pela simples razão de que nunca puderam ser contestadas. Apenas as doutrinas lúcidas tentaram fazer o contra ponto, mas sem sucesso. As barreiras eram muitas, indo ao extremo da censura as impedir de chegarem aos destinatários – cidadão comum –, para evitarem que fossem assimiladas.

Se as doutrinas lúcidas vingassem, desmoronar-se-iam os sistemas e passaria a haver maior igualdade e justiça. Esta nova situação colidiria com os interesses económicos e financeiros instalados e seria o princípio da destruição da globalização. Esta serviu-se precisamente das doutrinas translúcidas para substituir a colonização. Passou assim a fazer uma nova colonização de efeitos mais danosos para os países globalizados. Enquanto os povos colonizados viram as suas economias evoluírem e as suas estruturas melhoradas, os povos globalizados (como Portugal, Grécia, Irlanda e outros) assistem ao seu enfraquecimento económico e financeiro e de inteira dependência dos países globalizantes. Em muitos casos, as doutrinas translúcidas conduzem os Países, seus cúmplices emissores, a caírem em governos totalitários.

Tarde ou cedo, estes governos acabam por ceder às doutrinas lúcidas que, ao longo dos tempos, vão exercendo uma acção corrosiva, denunciando e pondo a descoberto as fragilidades e debilidades dos princípios das doutrinas translúcidas. Esta é a razão porque, mais recentemente, temos assistido a transformações profundas nos modelos de alguns regimes que vêm esgotados os seus tempos de supremacia e totalitarismo.

IDEOLOGIAS

(INÉDITO A PUBLICAR)
 
Ombros vergados por cabeças cheias de ideologias, 
Não fico surpreendido, apenas pasmado,
Momentos mal vividos, desperdiçados,
Ideários mal intencionados.
 
As ideologias são muitas e bastante activas,
Passam pelas políticas, financeiras,
Económicas, religiosas, raciais,
Familiares e muitas mais.
 
Tudo suspenso de mudanças em nome das leis,
Fabricadas por ideólogos visionários,
À busca da terra prometida,
Algures invisível e perdida.
 
As multidões são arrastadas por uma liberdade,
Mascarada por mentiras orquestradas,
Com sangue abundante derramado,
Em vão desperdiçado.
 
Os mensageiros da libertação arrasam nações,
Afugentam populações para longe,
Criam fome, sede e doenças,
E entre irmãos malquerenças.
 
Desmembram famílias, rompem amizades,
Destroiem patrimónios ancestrais,
Fazem por prazer terra queimada,
Para disso colher nada.
 
Os meus cabelos brancos foram espectadores,
De uma realidade prolongada e dolorosa,
De episódios e quadros negros,
Impostos por métodos severos.
 
Enganadas, as vítimas rebelam-se vingativas,
Aprisionam os seus perseguidores,
Libertam-se da longa escravidão,
Dissipando a escuridão.
 
Nunca mais confiarão nos pseudo-profetas, 
De paraísos imaginários ondeantes,
Descobrindo pura mentira,
Provocando enorme ira.
 
Quando as ideologias forem da terra erradicadas,
Os homens perderão o medo e serão
Para sempre mais felizes e solidários,
Acabando com ideólogos e ideários.
 
 
 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

MORTOS

(INÉDITO)

Porque é que os mortos morreram?

Porque se cansaram de viver?

Por desgosto ou por doença?

Sabem só que não mais sofreram,

Optaram por não mais sobreviver

Preferiram a morte à indiferença.


Morreram de ilusão, no Paraíso

Encontrarem um Outro Mundo,

Para ajustarem as suas contas,

Com os criminosos sem siso,

Que deixaram o seu submundo,

Com as suas ideologias tontas.


Os maus acharam ser absolvidos,

Dos sofrimentos que infligiram,

Cá na Terra aos seus irmãos.

Passaram a momentos sofridos,

Como nunca antes sentiram,

Por lhes fugirem entre mãos.


Afinal os mortos no Julgamento,

Se confundiram, sem identidade,

Uns inocentaram-se sob juramento,

Outros negaram alguma maldade,

Sem apelo nem agravo, castigados,

Todos foram pelo fogo, imolados.

sábado, 8 de outubro de 2011

MÃO ESTENDIDA

(INÉDITO)

Do meu canto, estendi a mão,

Tentei alcançar alguém,

Não encontrei ninguém,

O meu gesto foi em vão.


Fiz muitas e desesperadas tentativas,

Apenas tive muitas recusas,

Achei as atitudes absurdas,

De escusas não merecidas.


Refugiei-me no meu próprio castelo,

Falei com meus objectos,

Segui os meus trajectos,

Desisti de qualquer duelo.


Fui escutado pela minha cadelinha,

Interagindo por monólogos,

Com momentos teatrólogos,

Minha companhia amiguinha.


O meu IPad tornou-se meu espelho,

Onde revejo o andamento

Do Mundo em tormento,

Ficando triste e mais velho.


Faço uma última tentativa,

Para alguém alcançar,

Recebi nova negativa,

Da minha mão aceitar.

DÚVIDAS E CERTEZAS

                                             
(INÉDITO)
 
São mais as dúvidas que as certezas.
As dúvidas me confundem,
As certezas me iludem.
 
São tantas e distintas as dúvidas,
Agressivas e provocatórias,
Que as retenho em memórias.
 
As certezas são poucas, mas sérias.
Ajudam-me a escolher caminhos,
Sem contudo me indicar destinos.
 
Tento nas dúvidas ver os defeitos
Meus e de muitos anónimos.
Só vejo números e sinónimos.
 
As certezas temem as dúvidas,
Não as quere enfrentar,
Nem sequer algo tentar.
 
Assim vivo entre dúvidas e certezas,
Até ao fim da minha vida,
Sem solução conseguida.
 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PAZ DESEJADA

(INÉDITO)

Que o Mundo se reconcilie por um dia,

As pessoas dêem as mãos,

Deixem de ser más.

Que parem as guerras, usem a sabedoria,

Sejam verdadeiros cristãos,

Construam a Paz.


Que o Homem saiba conviver com a Natureza,

Protegendo-se mutuamente,

Para o Mundo serenar.

Sabendo gozar tudo que ao redor emana beleza,

Amando profundamente,

Para os ânimos acalmar.


Desejarem que o dia de Paz permaneça eterno,

Para que todas as gerações,

Tenham esperanças,

Envolvendo-se num ideal e projecto fraterno,

Cessando as provocações,

Obtendo mudanças.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

OS CASAIS E AS QUATRO ESTAÇÕES

(INÉDITO)

O dia era primaveril. Floresciam as árvores com todo o esplendor dos matizes das suas folhas. Grupos de jovens namorados, com a cumplicidade dos bancos do jardim, ou transitando pelas veredas, entrelaçavam-se em abraços e beijos, perdidos e achados em voluptuosidade e prazer. Viviam momentos únicos das suas vidas.

Em pleno verão, aquecidos pelos raios solares, a subida de temperatura proporcionou-lhes momentos tórridos de intimidades e carícias compartilhadas com sofreguidão e egoísmo. A maturidade das suas vidas aguçou-lhes o libido e o desejo., estimulando-lhes a vontade insaciável de não perderem esses momentos deliciosos.

Com o cair da folha, chegou o Outono. Arrefeceram os ânimos e surgiram as alergias. Alergias que afectaram os sentidos e tornaram-se sentimentos mais impermeáveis. Os anos também se tinham multiplicado e começaram a despontar alguns cabelos brancos e rugas indeléveis. As crises pré-anunciadoras da meia-idade esmoreceram as atitudes, as acções e o relacionamento, acompanhando a temperatura mais baixa da estação.

As manhãs frias e os dias cinzentos assinalaram a chegada do inverno.Os espíritos deprimiram-se e os corpos tornaram-se mais tensos e pesados. Tenderam a recolher-se ao aconchego do seu lar. Penetrou nas suas vidas a televisão. O convívio e os carinhos passaram então a ser partilhados com os seus netos e bisnetos. Estes assumiram o prolongamento das suas vidas e irão assegurar a renovação da árvore genealógica da família.

(esta crónica pretende descrever a trajectória da vida dos casais, através das diferentes fases das suas vidas, inseridos nos ambientes próprios das quatro estações, à margem do contexto socioeconómico e financeiro da crise actual)

REFÉNS

(INÉDITO)

Nos tempos que correm, a condição humana caiu numa teia universal que transformou cada um e todos os seres humanos em reféns. Por todas e nenhumas razões, estamos presos a regras e leis impostas pelo próprio ser humano, que funcionam contrariamente aos fins para que foram criadas.

Todos nós nos apercebemos que estamos reféns do poder que é tanto político como financeiro. São eles que decidem e põem em execução as leis - boas ou más - que nos impõem e fazem cumprir, sob eventuais penas. De um modo geral não nos é conferido e reconhecido o direito de reclamar e reivindicar a aplicação da justiça.

Como reféns, deixamos de ser elementos úteis para o aperfeiçoamento e consolidação da democracia tão desejada e proclamada. Esta situação desmotiva o cidadão comum - com relevância dos mais jovens - a delinearem e atingirem objectivos.Ficando por alcançar os ditos objectivos, deixa de se organizar a Nação e esvaziam-se os cérebros e as competências. Estas tentam outras oportunidades fora das fronteiras, onde vêm, na maioria dos casos, reconhecido o seu mérito.

Quando todos nós, os prestáveis e laboriosos, defensores da justiça. sentirmos que estamos a deixar de ser reféns, então será possível sermos intervenientes no sentido de encontrar o rumo certo e construir um Portugal Uno, Próspero e Moderno.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

FLORES DO MEU JARDIM

Soneto


Tenho muitas flores no meu jardim.

De todos tamanhos, cores e cheiros.

Elas são tudo do melhor para mim,

Passaram a ser amigos verdadeiros.


Coloco as flores nos meus vasos,

Afim de as admirar e poder adorar.

As flores são inspiração e fados

P’ra minha vida eu poder cantar.


Guerreiros ocultos lançam ataques,

P’ra do meu jardim se apossarem,

Tentando destruir-me e matarem.


Salvam-me as flores dos trastes,

Com espinhos e fortes cheiros,

Substituindo balas e morteiros.