domingo, 31 de julho de 2011

OS SABORES DA LEITURA

(INÉDITO)

Por achar a leitura a base da boa formação cívica e intelectual de todo o ser humano, sinto-me motivado a escrever algo sobre a leitura e os seus sabores. Considero o sabor da leitura como o sexto sentido, contribuindo para a arquitectura da nossa personalidade.

Quem tem o prazer de ler, sente os seus sabores próprios de acordo com a sua personalidade e de acordo com o tipo de leitura que faz. As preferências são muito diversas, passando pelo histórico, sociológico, político, económico, artístico, religioso, etc. O prazer da leitura depende do tipo de leitor e do género de leitura. Deve haver a preocupação de seleccionar a boa leitura, ignorando os textos viciados e nocivos. A leitura é independente e não sofre a influência da própria escrita. Esta é exclusiva dos vocacionados. A leitura é livre e está ao alcance de todo o indivíduo que saiba ler.

Tal como os alimentos que depois de saboreados, são ingeridos e digeridos, também a leitura deve ser digerida e sujeita à nossa própria análise e crítica. No meu caso particular, descobri que tenho grande sensibilidade para a poesia. Quando a leio, estou sempre a descobrir a verdade da vida e da natureza. Através do Facebook temos hoje acesso à mais variada poesia e a poetas anónimos que são virtuosos na sua feitura.

É indiferente que a leitura seja em papel ou pelos meios virtuais tecnológicos, pois não perde a sua essência e magnetismo.

Em tempos recuados de meados do século XX, o ensino primário passava pela leitura obrigatória, em voz alta, na aula, de um texto. Eram exigências principais a dicção e a entoação, passando pela análise e interpretação do texto. Estou convencido que se perderam estas regras de ensino, contribuindo para a desmotivação e ausência do gosto pela leitura.

Os hábitos da boa leitura são fundamentais na formação da pessoa humana. Dá-lhe uma visão realista da vida e uma ideia mais consistente e assertiva da dimensão universal do relacionamento e concórdia entre os homens.

PESADELO (I)

(INÉDITO)

Águas de prata,

Horizontes de ouro,

Céu de topázio,

Recordações boas e más

Que ficaram para trás.


Estendo a mão,

Tento alcançar,

Algo invisível,

Pura ilusão, sem solução,

Apenas pesadelos.


Fecho os olhos,

Adormeço inebriado,

Com visões coloridas,

São fantasias mal vividas,

Ornamentos do meu ego.


A multidão é barulhenta,

Confusão semeia,

A desordem incendeia.

Colhe os frutos maduros,

Impuros e venenosos.


Sinto-me arrastado,

Desventrado,

Torturado,

Impotente para lutar,

Fraco e sem armas.


Finalmente, acordo.

Nada sinto,

Nada vejo,

Apenas um sonho desfeito,

Para esquecer até morrer.

AS NOSSAS AMARRAS


(INÉDITO)

Todos nós temos amarras que nos prendem não só à vida, mas principalmente a projectos e objectivos, que se pretende atingir.

As amarras começam a surgir logo que temos vida no ventre da nossa mãe. À nascença, libertamo-nos dessas amarras e automaticamente nos agarramos a outras. São amarras que vão desde o aleitamento, passando pelo crescimento, pela instrução, pela adolescência e por toda a vida activa. Na idade da reforma, essas amarras ficam muito curtas e com pouca margem de mobilidade, ficando condicionadas pela eventual fragilidade dos seus próprios suportes e pelas condições de vida de cada um de nós.

As nossas amarras, hoje, não têm qualquer consistência, por serem afectadas pelas más condições sócio económicas que estamos a atravessar. Só uma auto-gestão muito rigorosa das nossas acções poderá consolidar as nossas amarras. Temos de estar atentos ao comportamento das nossas amarras, porque também estão sujeitas a actos maliciosos de terceiros que tentarão, por motivos diversos, cortá-las, deixando-nos à deriva. Este fenómeno é muito frequente acontecer e torna-se difícil, senão impossível, anular e repor a estabilidade perdida.

Sei que muitos leitores que tenham tido o incómodo de ler mais esta minha crónica, comentem que é tudo “narrativa delirante”, igual a muitas outras da minha lavra, mas sinto-me a vontade ao escrevê-las porque a minha disponibilidade actual de tempo, dá-me um maior poder de observação e análise dos fenómenos sociais que nos dias de hoje invadem as nossas vidas, tão diferentes e castradoras dos nossos mais elementares direitos, não obstante, por ironia, vivermos numa época considerada de “democracia”.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

AS RIBEIRAS DO COENTRAL

(INÉDITO)

Abraçadas à serra, namoram,

Correm cristalinas e velozes,

Ansiosas de se beijarem,

Apaixonadas e cúmplices,

Após no sopé se juntarem.


Os seus encantos e beleza,

Guarnecem a paisagem,

São o orgulho da natureza,

Como sonho e miragem.


Benditas águas que brotam

Das fontes naturais das fragas,

Dão vida aos peixes e plantas,

Curam maleitas e chagas.


Depois do enlace nas Sarnadas,

Chegam ao poço da Corga,

Em lua de mel de missa cantada,

Ao som de instrumentos de corda.


Unidas numa única ribeira,

Chegam frias e tranquilas,

À atraente Castanheira de Pêra,

Dando vida à Praia das Rocas,

Com honras de bela princesa.

domingo, 24 de julho de 2011

OS NOSSOS SEGREDOS

(INÉDITO)

A vida intensa e preenchida que hoje todos vivemos, não nos permite perceber que há momentos que automaticamente guardamos na nossa caixa de segredos. Aqui permanecem eternamente até ao fim da nossa vida, sem serem revelados.

Na minha percepção considero que não há ninguém que consiga escapar a este desígnio, pois faz parte da natureza humana, o que revela que o ser humano é imperfeito, egoísta e não solidário. Com este comportamento, resguardamo-nos do julgamento público dos nossos pensamentos e acções e permite-nos acusar o próximo de defeitos e atitudes menos sérias e normais. As pessoas julgam-se únicos senhores da verdade e menosprezam os outros, considerando-nos pecadores e de baixa moral.

Por outro lado há casos em que a partilha de segredos por pessoas consideradas amigas – que merecem absoluto sigilo –, acabam por ser revelados por estas ainda em vida dos seus confidentes e mais descaradamente depois do falecimento dos mesmos confidentes. Fica demonstrado que o interesse do mediatismo na revelação dos segredos se sobrepõe à amizade, pelo que se conclui que não há verdadeira amizade.

Chega-se à triste conclusão que cada vez se verifica mais guardar os segredos na nossa própria caixa, levando-a para a eternidade e correndo o risco de Lá ser aberta e sermos julgados por aquilo que pecadoramente construímos e gerimos

sexta-feira, 22 de julho de 2011

TRÊS TELEFONEMAS

(INÉDITO)

Em pleno verão, passei a noite quase em vigília, atormentado pela temperatura de cerca de 40º que se fazia sentir no interior da minha casa. Com dificuldade em retomar o sono, veio-me à ideia, manhã cedo, vasculhar a minha agenda antiquária, onde tinha, registados, uns quantos nomes de meus ex-colegas da Escola Comercial dos anos 50.

Durante cerca de 60 anos, perdi o contacto completo com esses meus amigos, por exigências profissionais e familiares. Também tive a limitação imposta pela barreira geográfica do Oceano, quando regressei a África e, posteriormente, o meu desterro para o interior de Portugal com o distanciamento do litoral, absorvido pelos meus deveres profissionais assaz exigentes.

Como eu tinha os nomes completos e locais de residência de então, através da PT, consegui localizar uns quantos. Liguei então para o José Luís, para o José Miguel e para o Rogério. As surpresas foram distintas. O José Luís, a pesar dos seus 76 anos ainda trabalha, pelo que só conseguimos falar às 22H00. Nós compartilhámos da mesma rua e da mesma escola, mas o José Luís não tinha já uma ideia clara da minha pessoa. Fez-me uma série de perguntas para se certificar de que eu era de facto o seu amigo Rui, mas permaneceu com dúvidas. Achava que eu seria mais um vigarista que estava a telefonar-lhe. Despedimo-nos, mas no dia seguinte fui surpreendido com um seu telefonema, dizendo-me que depois de ter pesquisado na Internet, tinha-me encontrado no Facebook, pelo que me pedia desculpa por ter duvidado. Marcámos então um próximo encontro em Lisboa para nos revermos.

Quanto ao José Miguel reconhecemo-nos logo como antigos amigos, mas não conseguimos alongar a conversa porque ele sofre de surdez e o aparelho produzia-lhe ruídos auditivos. Ficou adiada também a nossa conversa para um encontro pessoal.

Depois destas tentativas frustradas de voltar a abraçar os meus amigos, senti-me desmotivado a prosseguir as minhas pesquisas para localizar outros que ainda andarão a penar por este mundo irreal, completamente diferente daquele em que nós vivemos há meio século.

O caso que mais me penalizou, foi o do Rogério. Este era um dos meus melhores amigos. Depois de se ter extinguido a C.N.N (Companhia Nacional de Navegação), onde ele era chefe das reservas de passagens, o Rogério transitou para outra empresa marítima, mas foi de imediato saneado, tendo a sua vida entrado em retrocesso. Deixei de ter o seu contacto. Quem me atendeu de sua casa, foi a sua mulher. Deu-me a triste notícia de que o Rogério havia falecido há cerda de ano e meio. Fiquei ainda mais pesaroso por saber que o Rogério estava ligado ao Museu Ferroviário do Entroncamento e que se deslocou por vários vezes ao Entroncamento e a Tomar, sem nunca o ter reencontrado.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ENERGIAS RENOVÁVEIS

(PUBLICADO EM 09/10/09,
NA "CIDADE DE TOMAR")

Nas minhas romagens e visitas frequentes às terras de origem de meus pais, apercebo-me, com sensibilidade crescente, de que vou beber naqueles locais uma forte dose de energias. Estas energias irradiam da natureza fértil e pura da sua flora e fauna impares. Recentemente, outras energias se vieram juntar a estas, de efeitos secundários, mas de real impacto pelo seu contributo para uma melhor qualidade de vida: refiro-me à energia eólica. Esta é gerada pelas dezenas de turbinas de vento que se enquadram na cumeeira da Serra da Lousâ.

Na verdade, quem visitar as aldeias situadas no sopé daquela Serra, particularmente, Coentral Grande e Gestosa Fundeira, onde nasceram meus pais na última década do século XIX, fica agradavelmente surpreendido com a beleza agreste e multi-colorida das suas encostas que ainda conserva. As encostas da serra que circundam a aldeia do Coentral Grande são acariciadas por dois cursos de água cristalina e gélida que se enleiam num namoro permanente, acabando por se acasalar no lugar das Sarnadas. São as ribeiras das Quebradas e das Quelhas. Daqui, fundidas num único corpo e alma, tomam o nome de ribeira de Pêra que prossegue o seu caminho, aumentando o seu caudal para alimentar o Lago das Rocas, na bela vila de Castanheira de Pêra, sede de Concelho.

Todo o panorama de que se desfruta, desde a Serra e suas encostas e desfiladeiros até ao vale, é de uma beleza estonteante e saudável, insuflando-nos um reforço da nossa auto-estima para enfrentarmos os desafios da vida quotidiana. Por isso, recomendo que, em alternativa à praia, optem por aquela e outras zonas do interior, não sendo necessário subirem ao Gerez e Terras do Bouro para usufruírem de cenário igual.

POSTAL A CORES DE TOMAR (PARTE II)

(INÉDITO)

Introdução:

Este texto é a sequência do que escrevi na primeira parte, intitulado “Postal a preto e branco de Thomar” que era “negativo”, enquanto que este é positivo, pelo que no meu segundo percurso pela Cidade encontrei de bem conseguido e pelo que desejo e ambiciono ver construído. Para ser mais genuíno e não haver quebra de ritmo e cadência na sua feitura está também escrito sem pontuação.

Hoje acordei com os feixes de um Sol radioso e intenso que penetrou indiscretamente no meu quarto a par dos acordes do chilrear dos passarinhos que voam nervosamente entre a ramagem das árvores que separam o meu 3º andar da Escola Santa Maria dos Olivais depois do meu ritual matutino sigo para a Alameda Um de Março a fim de cumprir com os meus deveres matinais das apostas mútuas passando por espreitar a minha magra conta bancária e saboreando o café da manhã fico atento ao que de positivo a cidade me oferece começando pela Ponte Velha sobressai na margem direita a paisagem harmoniosa do acasalamento das árvores cinquentenárias de matizes outonais variadas com o rio correndo tranquilo beijando as suas margens e a convivência pacífica quotidiana dos patos e peixes enquanto do lado esquerdo antevejo um grande complexo turístico de hospedagem e restauração com esplanadas sobranceiras ao rio e com vocação museológica de todo o espólio e história de Tomar percorro então a Várzea Pequena que me encanta pela suavidade e doçura da sua paisagem no enquadramento com a Estalagem, o Hotel, a Roda do Mouchão o Coreto e o jardim divirjo então o meu percurso para a Praça da Republica impressionando-me positivamente com a requalificação geral possível da praça e conjunto de edifícios bem assim o Museu Judaico a Casa Museu Lopes Graça, o antigo Hospital da Misericórdia a Casa dos Cubos antevejo o Mercado recuperado e ampliado com mais um piso e estacionamentos definidos contornando o Cemitério Velho abre-se uma perspectiva moderna de Tomar com a Ponte Nova do Flecheiro o nivelamento do rio com um espelho de água que ambiciono ver prolongar-se até São Lourenço com animação e barcos de recreio e gaivotas com uma iluminação colorida e profusa ao correr de todas as margens do rio desde São Lourenço até ao Hotel dos Templários seguindo o meu trajecto agrada-me ver a recuperação da Escola Jácome Ratton o Pavilhão Polivalente o Centro de Saúde de Marmelais e o Complexo Desportivo das Piscinas e Campos de Ténis para além da requalificação do Bairro dos Bacelos entro então na minha Rua dos Cavaleiros de Cristo e gostaria de ficar com a ideia de não ter visto as Ruas esburacadas, os passeios com dejectos dos caninos os contentores cheios de lixo as ruas por varrer e lavar para o meu passeio ter sido bem sucedido e por desejar ver a minha Cidade atractiva e acolhedora como merece.

POSTAL A PRETO E BRANCO DE THOMAR (PARTE I)

(PUBLICADO EM 19/03/2010,

NA CIDADE TOMAR)

Introdução:

Resolvi escrever dois postais sobre a cidade Nabantina, sendo o primeiro a preto e branco (negativo) e o segundo colorido (positivo).

Ambos são escritos sem pontuação para lhes imprimir mais autenticidade e ritmo, num encadeamento de imagens fiéis

do que me foi dado observar nos meus dois percursos pedestres pela cidade.

Despertei como habitualmente pelas 8 horas com o ruído incomodativo dos carros na minha rua e depois do meu preparo demorado saí de casa directo ao posto das apostas mútuas para arriscar 2 moedas de um euro no meu número habitual que raramente me contempla com quintos prémios seguindo para o “banco dos pensionistas” que um dia destes passa a “banco dos abastados” quando se der a tão anunciada privatização que no meu caso por vício vou ver se o saldo da minha conta não desceu abaixo da linha d’água compensando o meu pessimismo com o sabor de um café especial que tomo no meu café preferido que baptizei de “Café da Esquina” após atravesso a “Ponte Velha” de origem romana que o rei D. Manuel mandou recuperar com benefícios relevantes para a cidade e fico impressionado por duas visões deprimentes pois do lado direito deparo-me com a requalificação mal conseguida do Estádio Municipal sem bancadas de um pavilhão desportivo inadequado um estacionamento subterrâneo inaproveitado um parque de campismo mal ressuscitado e referenciado e do lado esquerdo impressiona-me o abandono do património histórico constituído por “Os Lagares d`El Rei” que parece suplicar ajuda para a sua recuperação e utilização continuo preocupado ao percorrer a Corredoura pois apenas me cruzo com outros passantes e observo as lojas que teimosamente ainda estão abertas mas sem clientes restando o “Café Paraíso” como ex-líbris da cidade finalmente chego ao coração de Thomar a “Praça da Republica” sob o olhar atento e austero do seu fundador “Gualdim Pais” e olhando para o alto da colina sobranceira à Câmara Municipal contemplo o Nosso e Mundial Património do “Castelo e Convento de Cristo” a reclamar a sua ligação directa à cidade via funicular contrariando a vontade dos bravos defensores de antanho que travaram recontros sangrentos com os mouros expulsando-os para sempre e devolvendo o Castelo aos seus súbditos e passo pela irreconhecível Rotunda Alves Redol sem água e relva e os pisos interior e exterior degradados subindo depois a Avenida do General Norton de Matos que quis preparar Angola para uma independência multirracial choca-me ver o espaço do mercado municipal orfã de uma remodelação geral apercebendo-me de “capim” ervas e matos que cobrem o local de vestígios arqueológicos a aguardar a construção do “Forúm” com projecto já aprovado entro então na minha “Rua dos Cavaleiros de Cristo” nome de grande dignidade e tradição onde há 36 anos circulavam e estacionavam uma dúzia de viaturas e hoje se tornou numa via perigosa para os peões e residentes dado o volume de tráfego e a alta velocidade a que circula e a falar de carros cheguei ao fim da linha não sem referir que o meu carro e de mais três utentes terem rebentado pnéus junto ao Cire numa cratera do asfalto que lá permaneceu cerca de dois meses tal como noutros pontos da cidade perante a passividade da autarquia.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A GUERRILHA E O CERCO

(PUBLICADO EM 13/03/2009,

NA "CIDADE DE TOMAR")
Se nos transportarmos às épocas dos lusitanos, deparamo-nos com duas grandes figuras que foram os verdadeiros obreiros e precursores da Nação Portuguesa. No ano 147 a.C. surgiu o primeiro líder dos lusitanos, Viriato, que, nos Montes Hermínios, actual Serra da Estrela, organizou um grupo de resistência à ocupação dos romanos, adoptando a táctica da “guerrilha”, com a qual conseguiu êxitos sucessivos sobre os pretorianos de Roma. Posteriormente, já no século XII d.C., outra enorme figura lusitana floresceu para conduzir os lusitanos, definitivamente, à fundação da nossa nacionalidade. A táctica utilizada, que se tornou em estratégia, foi o “cerco” que aplicou em todas as suas incursões ao inimigo. Foi através desta estratégia que D. Afonso Henriques levou a cabo todas as suas conquistas, mais particularmente, aos mouros. Depois de longos dias, meses e até anos, atingiu os seus objectivos com sucesso, provocando a rendição e a expulsão das terras lusitanas, dos infiéis que as ocupavam ostensivamente.
Esta abordagem a um tema tão evidente quanto actual e matematicamente eficaz, vem a propósito de Portugal ter herdado dos seus principais mentores e criadores os estigmas da “guerrilha” e do “cerco”, como os melhores veículos para sobreviver como Nação e como Império Colonial. Estas estratégias por serem congénitas, tornaram-se crónicas, instalando-se em todas as vertentes da vida nacional, sendo mais visível e eficaz nos meios políticos que passaram a adoptá-las como desígnio nacional para dominar a situação. Nos dias de hoje, a guerrilha e o cerco estão vivos e presentes na vida de todos nós. Sentimo-nos verdadeiramente cercados e espartilhados pelas leis que nos regem, com a obediência implacável ao seu cumprimento, sujeitando-nos ao controlo absoluto das nossas ideias e dos nossos rendimentos, sem direitos totais sobre o nosso património. Até este, que eventualmente, nos pode ser legado por herança, não nos pertence sem prestarmos contas ao Estado. Aquelas estratégias são extensivas ao sistema bancário, à religião, à nossa actividade de trabalho, às Escolas e mesmo ao nível familiar. Estamos sujeitos a regras e condutas que, criteriosamente, não deveriam existir por tornarem inibidores os nossos legítimos direitos, de livres opções e consequentes liberdades.
Enquanto permanecerem irredutíveis e inalteradas as estratégias adoptadas será a privação eterna dos mais elementares direitos do cidadão - que serve de sustentáculo e um dos pilares que constitui e suporta a Nação -, não permitindo que esta se torne tão sólida quanto seria o desejo dos seus filhos, por completa desmotivação.

OS ESPOLIADOS

(PUBLICADO EM 05/03/2010,

NA "CIDADE DE TOMAR")

Este grupo de cidadãos recebe aqui a designação mais apropriada da sua verdadeira condição e nele estão incluídos os “retornados” e os “refugiados”. A designação de “Espoliados” é a que, com mais propriedade e autoridade, se deve aplicar às pessoas que perderam os seus bens, total ou parcialmente, por incapacidade da Nação Portuguesa ter exercido o seu dever, protegendo os seus bens e as suas vidas da voragem de agressão e apropriação indevida dos seus direitos legítimos por parte de hostes sedentas de pseudo vinganças e enriquecimentos fáceis e imediatos, ilícitos.
Os espoliados, eram brancos, mestiços e africanos e deixaram as províncias ultramarinas portuguesas, rumando a diversos destinos, desordenada e inesperadamente, impelidos pela auto-defesa da sua integridade, deixando, contrariados, os seus bens que não conseguiram pôr a salvo em devido tempo. Esta atitude resultou do facto de terem sentido a ausência efectiva da protecção, que lhes era devida, pela sua própria Pátria que os abandonou literalmente no momento mais crucial das suas vidas.
Os seus destinos foram os mais variados, individualmente, em grupos familiares completos ou desmembrados. Alguns foram para a África do Sul, Rodésias e Namibe, outros para o Brasil, América e Canadá e a maior parte para Portugal “Continental”, país de origem e que representava a matriz da Pátria, tanto para africanos como para colonos e seus descendentes.
Os espoliados que optaram por destino, Portugal Continental, passaram pelas mais variadas situações sócio-económicas, consoante o seu habitat de acolhimento. Uns foram acolhidos por familiares, outros em pensões e residenciais – enquanto durou a ajuda do Estado –, e ainda bastantes que, não conseguindo acolhimento em organizações de apoio aos sem abrigo, se perderam por barracas, pelas estações do metro, pelas ruas, pelos vãos de escada, além dos casos extremos de demência e dos que desistiram de viver.
Os que teimaram em sobreviver abraçaram um calvário que passou a fazer parte da sua vida quotidiana, enquanto a sua presença era considerada como intrometida numa sociedade marcada por uma ditadura opressiva de décadas. A mudança levou tempo a processar-me e passou por os espoliados provarem por actos e palavras que eram pessoas capazes, com qualidades de trabalho, conhecimento e visão indispensáveis para transformarem as mentalidades instaladas. Gradual e progressivamente foram impondo os seus direitos e razões, inculcando um impulso na reactivação da economia e modernização de Portugal.
Ao fim de cerca de três décadas a integração foi quase total, à excepção de um grande número de casos identificados pelo seu desenraizamento abrupto das suas terras natais, que não conseguiram assimilar em pleno, nem parcialmente, as novas micro-sociedades comunitárias onde se instalaram. As famílias identificadas com esta situação, por motivos de fragilidades económico-financeiras e dificuldades de integração, sentiram-se desestruturadas, passando duma classe média para uma classe pobre. Estas circunstâncias não permitiram nem permitem que estes espoliados consigam alguma vez superar os efeitos negativos que lhes causam as realidades actuais dos seus países de origem, cujas políticas viciadas continuam a defraudar as perspectivas legítimas dos seus naturais que ambicionavam a sua libertação efectiva.

PALAVRAS E PESSOAS

(PUBLICADO EM 13/02/2009,
NA "CIDA DE TOMAR")

Porque ligo as palavras às pessoas?
Será porque as palavras falam das pessoas,
Ou porque as pessoas falam das palavras?

As pessoas utilizam as palavras para ferir,
As palavras servem-se das pessoas para ler,
Quem mais lucra deste jogo encoberto,
São as pessoas que tentam emergir,
Ou as palavras que guardam o saber?
Num Mundo de Medo e Desértico?

Com as palavras constroem-se ideias,
Inventam-se histórias falsas e verdadeiras,
Fazem-se declarações de Fé e Amor,
Pelas palavras protege-se e dá-se tareias,
Dão-se flores brancas de amendoeiras,
Fazem-se promessas e traições sem temor.

Com as palavras as pessoas ofendem,
Abusam das palavras sem consentimento,
Utilizam-nas como prostitutas fáceis,
Acham que das palavras não dependem,
Mas imploram piedade e arrependimento,
Nos momentos difíceis e menos hábeis

As palavras têm sempre razão
As pessoas julgam tê-la., mas não,
Da prova de força entre as duas,
Surgem verdades muito cruas,
Dando razão às palavras sinceras,
E culpando as pessoas megeras.

Com as palavras constroem-se lindas histórias.
Reais ou de ficção, o enredo não interessa,
Sonhos e aventuras as pessoas imaginam.
As palavras guardam para sempre as memórias,
Permitem que a vida em si não esmoreça,
Transmitem às pessoas vida, não intimidam.

Declarações de amor e promessas constantes,
Ameaças e vinganças de alvo indiscriminado,
Enganos e desenganos danosos e ferozes,
As palavras são hábeis e mortificantes,
Atingem todos e tudo, o mais amaldiçoado,
As palavras não perdoam, são atrozes.

Entre as pessoas e as palavras não à Paz,
Ambas se combaterão para sempre,
Sem tempo e espaço para reconciliação.

terça-feira, 12 de julho de 2011

SOLIDÃO (Homenagem ao Idoso)

(PUBLICADO EM 06/02/2009,
NA "CIDADE DE TOMAR")
O que fora um sonho tornou-se numa realidade endémica

Sinto um vazio cheio de emoções,
Não sofro nem lamento as feridas,
Vivo e entranho sonhos e ilusões,
Projectos, ideias e obras preteridas.

Atento, ouço o eco do som do meu ego,
Tento acordar de um sonho profundo,
Abro os olhos, mantenho-me cego,
Permaneço só, isolado do Mundo.

Escuto o palpite do meu coração,
No tempo, inebriante e vertiginoso,
Cavalgando, sem parar, em vão…
Fugindo do supérfluo e malicioso.

Solitário, não triste, mantenho-me vivo,
Recordo a vida que passou e não vivi,
Ganhei força e ânimo, ainda sobrevivo,
Vivendo feliz e grato pelo que sofri.

Alheio de mim, atento ao Mundo,
Vejo rostos felizes e amargurados,
Imagens velozes passam ao segundo,
Na mente do meu ideário fecundo.

Rugas, cicatrizes de golpes sofridos,
Transparecem sem disfarce justificado.
Sinais brancos e negros esculpidos,
No meu rosto sombrio, triste e fechado.

Tudo que me rodeia, ruídos e silêncios,
Marcam a minha história curta e longa.
Verdades e mentiras, ódios tensos,
Perdidos no oceano como uma onda.

AS ÁRVORES DAS PATACAS

(PUBLICADO EM 30/01/2009,

NA "CIDADE DE TOMAR")

As “Árvores das Patacas” estiveram conotadas com os emigrados para as ex-colónias, incluindo o Brasil. Era corrente ouvir-se dizer que os colonos tinham descoberto a “Árvore das Patacas”, porque deixavam transparecer uma qualidade de vida melhor que aquela que tinham em Portugal Continental.
Todavia, era completamente desconhecida a vida de sacrifícios e muito trabalho que esses colonos aplicavam na procura constante de melhores condições de vida e progresso das terras que os acolheram. A sua “Árvore das Patacas” era a labuta intensa e profícua no contacto com os bens da natureza e as verdadeiras “Árvores das Patacas” de que me lembro, eram, apenas, entre muitas, o cafezeiro, a palmeira, a bananeira, o coqueiro, a mangueira, o abacateiro, a goiabeira, o cajueiro, o embondeiro, entre outras, que produzem frutos deliciosos e, como inspiração da beleza africana, as acácias, vaidosas das suas flores, a sublime rosa de porcelana ou a misteriosa welwitschia, do deserto do Namibe (Angola), única no Mundo. Os ditos usufrutuários das imaginárias “Árvores das Patacas” foram aqueles que, pelas paragens por onde andaram e se fixaram, ergueram vilas, cidades e países, produto de toda a mais valia da sua vida de trabalho.
Nos dias que correm, as verdadeiras “Árvores das Patacas”, inspiradas naquelas utópicas e míticas árvores de antanho, proliferaram por todo o planeta, tendo-se fixado, as de maior porte, nos offshore, nos grupos financeiros, nas multinacionais e nas Oligarquias dos regimes políticos instalados. As de menor porte também se espalharam pelas classes burguesa e média alta de todo o Universo. Os seus beneficiários enriqueceram à saciedade, imaginando que as ditas árvores eram como que “galinhas de ovos de ouro” inesgotáveis. Todavia, foram bruscamente surpreendidos por uma epidemia que grassou por todas elas, começando nas de maior porte, e atingindo todas as outras. A maior parte delas secou, umas quantas esforçaram-se por se reabilitar mas a maior parte não tem cura possível.
As grandes, médias e pequenas fortunas ficaram fortemente abaladas, sentindo o efeito nocivo da epidemia, tendo a maior parte sucumbido, enquanto que os dois milhões de pobres existentes em Portugal, conscientes da sua marginalidade, assistem ao espectáculo, sem quaisquer receios e arrependimentos, porque a sua vida foi sempre pautada por orçamentos de rigor e escassez de meios. Estes cidadãos são os únicos que têm um sono mais tranquilo por não terem que se preocupar com as tais “Árvores das Patacas”.

SABOREAR A NATUREZA

(PUBLICADO EM 09/01/2009,
NA "CIDADE DE TOMAR")

Como é bom sentir o gosto da Natureza,
Desfrutar da sua beleza e harmonia,
Admirar a sua enorme singeleza
Protegida pela sua própria hegemonia.

Saborear a Natureza é um dom
Sensível ao tacto, cheiros e olhares,
Privilégio dos Homens de bom-tom,
Amantes do céu, plantas e mares.

Saborear a Natureza, é senti-la próxima
À nossa pele colada, revelando-nos segredos,
Queixumes, maus-tratos e provocações,
Apelando por respeito, afecto e outros zelos.

Saborear a Natureza é sentir-nos pequenos,
Impotentes, ingratos e caprichosos,
Não crendo ver nela valores terrenos,
Antes atitudes e comportamentos maliciosos.


Saborear a Natureza é contrário de odiar,
Invejar, maltratar, violentar e desprezar.
É não caminhar para o abismo sem olhar,
É na sua pureza mergulhar e acreditar.

PORQUE ESCREVO

INÉDITO

Porque escrevo eu, porquê?
Escrevo porque gosto das palavras.
As palavras são minhas amigas,
São as minhas confidentes
Por outros mal tratadas
Como se fossem inimigas.
Para mim são belas e atraentes.

Com as palavras digo o que penso,
As palavras são o meu sentimento,
Converso com elas a todo o momento,
São cúmplices dos meus humores,
Companheiras de luta sem temores,
As palavras são a minha vida.
Uma vida vivida e sofrida.

Para não me afogar no mar das tormentas,
Apelo às palavras para me socorrer,
Elas logo vêm ao meu encontro,
De inspiração e criação sedentas,
Impedem que eu viva a sofrer,
Com elas falo com desassombro.

Troco segredos com as palavras,
Escutam atentas os meus queixumes,
Sugerem as minhas mensagens,
Por mim aceites e acarinhadas,
Por outros desejadas por ciúmes,
Vestidas de vistosas roupagens.

As palavras serão para sempre,
As minhas melhores amigas,
Viverei com elas até ao fim,
Enquanto for sã a minha mente,
Evitando serem pelo mal traídas,
Protegidas e amadas por mim.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PEREGRINAÇÃO A Nª. Sª. DE FÁTIMA

INÉDITO

Lua Cheia a oeste, descendo no horizonte,
O Sol a nascente ainda escondido,
Os meus passos cadenciados,
Os carros velozes a passarem.

Meu pensamento fixo na Imagem Sagrada,
Meus olhos observando o límpido céu,
Os meus passos acelerados,
Para a encosta poder subir.

Lembranças de momentos passados,
Vidas vividas de sonhos perdidos,
Meus passos de cansaço moderados,
Paro a meio da serra agreste.

Peito a arfar de ar puro e muita Fé,
Ânsia de adorar Nossa Senhora,
Contemplo a singela Natureza,
Paz de espírito, pleno de sossego.

Absorvido com o final da caminhada,
Deixei de ver, só ouço os carros
Passarem desabridos por mim,
Atirado sem dó para a berma.

Assustado com o ladrar dos cães,
Com as águas a correrem deliciado,
O amanhecer chega vermelho,
Com o Sol a despontar no horizonte.

Chego enfim ao Santuário,
Respiro fundo de alegria,
Nossa Senhora sorri para mim,
Como agradecendo por me ver.

Sinto que cumpri com o meu dever,
Há muito guardado e prometido,
Rezar a Nossa Senhora no Santuário,
Depois do caminho percorrido.

terça-feira, 5 de julho de 2011

CONTRA NATURAM - UM MAL DA HUMANIDADE

(PUBLICADO EM 26/12/08,

NA "CIDADE DE TOMAR")

Todos nós somos actores e, simultaneamente, espectadores deste fenómeno que assume cada vez maior relevância na vida inter-social das pessoas.
A contra naturam apossou-se das pessoas que agem de maneiras estranhas e divergentes das regras sociais de respeito e solidariedade impostas pela civilização avançada.
Assistimos, diariamente, a acontecimentos que são a confirmação desta verdade insofismável e que abrange, necessariamente, seres humanos de todas as idades, credos e raças, familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos.
Esses acontecimentos envolvem actos de insensatez que se revestem, na maior parte dos casos, de manifestações de loucura, umas vezes disfarçada outras vezes declarada.
Pelos meios de comunicação somos permanentemente informados e confrontados com os mais inimagináveis actos de violência e imoralidade que se passam, por vezes, à nossa porta, deixando-nos intimidados e apreensivos por não conseguirmos descortinar o que se esconde por trás de certos rostos, autênticas máscaras, com quem somos obrigados a privar.
O progresso e aperfeiçoamento das sociedades dependem de procedimentos correctos e consensuais de todos os cidadãos que as compõem, com o objectivo comum e unânime de não haver leis discricionárias e restritivas dos direitos mais simples, puros e naturais que assistem a todos. Estas afrontas aos mais simples e legítimos princípios civilizacionais acabam por atingir e comprometer mais directamente as gerações futuras que acabam por divergir por caminhos ínvios, por não vislumbrarem objectivos definidos promissores.

DOIS SÍMBOLOS DE TOMAR

(PUBLICADO EM 31/10/08,
NA "CIDADE DE TOMAR")


Não se dá a devida atenção a dois símbolos da nossa cidade Nabantina, que ao longo de muitas décadas têm marcado o palpitar e o ritmo de vida que envolve os seus residentes e visitantes. Refiro-me à sirene dos Serviços Municipais de Bombeiros e ao sino do ex-colégio “Nuno Álvares”. Acho oportuno escrever sobre estes emblemas que ornamentam a sonoridade palpitante e encantadora de Tomar.

A sirene dos bombeiros tem funções úteis que se traduzem não apenas pelos alarmes de incêndios ou acidentes ocorridos na área do nosso concelho, mas também pelo aviso das 12 horas que, na ausência doutra marcação horária, poderia alargar o seu toque de aviso a outros períodos do dia, podendo ser, por exemplo, as 08 horas, as 17 horas e as 19 ou 20 horas, mediante toques apropriados. Seria uma maneira de tornar a nossa cidade viva e organizada em termos horários a que muita gente não dá importância e que tem influência na articulação das actividades e prestação de serviços eficientes e oportunos.

Quanto ao sino do ex-colégio “Nuno Álvares” que em tempos, não muito longínquos, era preponderante na sinalética sonora horária da cidade, tão útil aos seus habitantes, deixou de desempenhar a sua missão, com o silêncio absoluto coincidente com a decadência do colégio e o degradar do próprio edifício. Seria útil e apaixonante voltar a ouvir-se o velho sino do ex-colégio dar as suas horas, transmitindo ao mesmo tempo à cidade a mensagem de que ainda se mantém bem vivo. O ressuscitar deste símbolo deveria ser considerado no projecto de recuperação do Edifício que está previsto para breve.

É possível que alguns desprendidos das tradições não estejam em consonância com esta minha singela mensagem, mas, tendo eu tomado Tomar como meu segundo berço, há algumas décadas, não acho justo subestimar-se o que de genuíno nos ofereceu a nossa Cidade nos seus tempos florescentes.

PESSOAS E COISAS

(PUBLICADO EM 31/10/08,

NA "CIDADE DE TOMAR")

É cada vez mais evidente que as pessoas se confundem com os objectos de uso diário. Por ironia, essa interacção é accionada pelo próprio homem que passou a escravo do progresso das novas tecnologias. São estas, através das máquinas – seus agentes de acção -, que dominam o ser humano.
Se atentarmos na nossa vida quotidiana, verificaremos que as decisões que tomamos se direccionam sempre no sentido oposto a uma aproximação humana e racional ao nosso próximo. Essa relação é frequentemente interrompida pela interposição dum objecto ou duma máquina que se apodera da nossa vontade e liberdade. Para ser mais conclusivo, cito a nossa viatura, o nosso computador, o telefone, o cartão de Multibanco, o televisor, o fogão, a máquina de lavar louça, o microondas, o esquentador, etc. Poderia alongar-me numa lista interminável de aparelhos e objectos de que somos escravos e dependentes.
Ficando este fenómeno apenas pela relação homem/máquina, não haveria a perigosidade de se perder a identidade humana. Infelizmente, o que há a temer, é o facto do homem estar a assimilar, inconsciente e gradualmente o domínio do objecto sobre o humano, passando a tratar-se mutuamente, como se fossem simples objectos. Assim, o comportamento humano para com o seu próximo deixou de ser pacífico e assumiu uma permanente confrontação de egoísmos e ambições que transcendem o normal e razoável, enveredando pelo domínio materialista. Podemos sintetizar esta relação em duas envolventes que se tornaram como prioridades para muita gente : a “ganância e a corrupção”.
Este procedimento tem uma grande dimensão nos interesses que se prendem com o aproveitamento das riquezas terrestres, minerais, agrícolas, florestais e a breve prazo dos oceanos e do espaço, que transcendem a capacidade de regeneração natural desses recursos, por serem ultrapassados os limites desejáveis. Como consequências profundamente nefastas, existem milhões de deslocados, de carenciados, de portadores de doenças epidémicas condenados à extinção prematura que passaram a ser tratados como simples “coisas”-
Depois da análise fria deste fenómeno real e presente, fazemos a seguinte pergunta: se Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque razão amamos as coisas e não as pessoas?!!! Enquanto esta mentalidade doentia subsistir, continuarão a haver crises sociais permanentes e cíclicas, com sérios e graves prejuízos para as classes desprotegidas, em prol das mais favorecidas que enriquecem ilegal e impunemente.


A NATUREZA, AS SENSAÇÕES E OS AFECTOS

(PUBLICADO EM 15/06/07,

NA "CIDADE DE TOMAR")

O Ser Humano tem muita dificuldade em conviver harmoniosamente com estas três envolventes, ao não aceitar e reconhecer, com humildade e respeito, a co-existência com a natureza e o seu semelhante.
A Natureza é perfeita e rica de bens vegetais e animais que nos transmitem com premência, através dos mais diversos sinais e manifestações de comportamentos simples e naturais, exemplos do perfeito equilíbrio que sustenta em confronto e contraste com o Ser Humano. A resposta deste é provocatória, inconformista e ingrata, rejeitando a harmonia e a beleza que a Natureza nos oferece, diariamente. Esta dificuldade de bom relacionamento do Homem com a Natureza gera automaticamente um mau estar no seio da Humanidade que, não respeitando a própria natureza, deixa de se respeitar a si própria.
Compete ao Homem explorar e aproveitar as sensações e os afectos que o invadem, colhendo deles os frutos maduros deliciosos de saborear. Para o conseguir tem o Homem de sentir e gozar as sensações do agradável e do útil que produz, não guardando egoistamente para si essas sensações, antes, porém, transmitindo-as e repartindo-as pelo próximo. Dessas sensações advêm, inevitavelmente, os afectos, que, de tão sublimes, devem ser preservados e mantidos indefinidamente para evitar uma quebra de laços de solidariedade e tolerância. Poderá questionar-se sobre o facto dos afectos não matarem a fome dos famintos, mas é dos afectos que se alimentam as almas dos mortais, durante toda a sua vida terrena. É na mútua compreensão e tolerância que se fundem as sensações de afectos e entreajuda para um melhor relacionamento inter-humano e com a própria Natureza.
Os animais são o melhor exemplo dos afectos que sabem criar e resguardar entre as suas tribos e castas, tendo o sentido inteligente de, através dum relacionamento pacífico, os transmitirem ao ser humano. Devemos perceber que os animais sabem reconhecer com gratidão o que fazem por eles, guardando e devolvendo o tratamento nobre e carinhoso que lhes é dispensado, tanto por outros animais como pelo Homem.
O Ser Humano devia reger-se pelos parâmetros da Natureza e dos Animais, aproveitando as boas Sensações vividas e os Afectos criados, pugnando pela justiça, de molde a permanecer eternamente feliz consigo próprio e de bem com o Mundo que o rodeia.