terça-feira, 31 de julho de 2012

QUERO IR COM O RIO PARA O MAR


Apressadas, as água do rio correm para o mar,
Ansiosas por se misturarem com água salgada,
Cansadas de viverem no interior e de esperar
Descobrir outras terras, noutro destino morar.

Gostaria de com o rio viajar também até ao mar.
Para saborear a maresia e poder ar puro respirar,
No interior nada se passa, tudo parou e o gentio
Desanimado, deseja fugir do ambiente doentio.

Gostaria que o rio me levasse para bem distante,
Na superfície das suas águas, por não saber nadar,
Correndo risco de não resistir e me poder afogar.

Em cima de jangada improvisada, fui em frente,
Passei por campos e terras, vi animais e árvores,
Despedi-me de todos, levando comigo saudades.








segunda-feira, 30 de julho de 2012

O CACILHEIRO


Vai e vem, o cacilheiro atravessa o Tejo sem parar,
Transporta consigo pessoas que vão para trabalhar,
Pessoas que levam consigo no seu sub-consciente,
Os problemas que foram acumulando na sua mente.

As pessoas dentro do cacilheiro parecem autómatos,
Não falam, não sorriem, tentam ler as notícias do dia
Que os jornais inventam e vendem, perfeita fantasia,
Tão deprimidos ficam, que vão trabalhar baralhados.

As gaivotas do Tejo saúdam aquelas pessoas, do alto,
Fazem-lhes inveja por também elas não poderem voar,
Pois desejariam antes fazerem a sua vida, livres, no ar.

No ar, ninguém do cacilheiro viverá forte sobressalto,
Pois estará livre dos imensos problemas, que em terra
Carrega consigo para seus empregos e que os espera.











ALGUÉM QUE EU CONHEÇO


Conheço alguém, mas não sei seu nome,
É alguém especial e diferente, sem rosto,
Imagem que persigo por onde eu passo,
A sua proteção deixa-me bem-disposto,
Diz-me se está certo, tudo o que eu faço.

Já não posso passar sem esse alguém,
De tanto depender dele o meu caminho
E de me segredar o que eu devo fazer,
Sinto por ele um sincero e são carinho,
Que não abandonarei antes de morrer.

Ainda me restam esperanças de conhecer,
Esse alguém que é meu dedicado amigo,
Desinteressado, sincero e bem disponível,
É ele que não me faz sentir tão sozinho,
Durará anónimo por tempo interminável.









domingo, 29 de julho de 2012

AS MUITAS LISBOAS


Descobri que tenho muitas Lisboas no coração,
Lisboas d'ontem e d'hoje entre muitas Lisboas,
A Lisboa dos pregões e dos ardinas, de então,
A dos cafés, dos fados, das tertúlias, de Pessoa.

A Lisboa moderna é mundana, vive do turismo,
Foi assediada por forasteiros que a invadiram,
Deixou-se influenciar por dinheiro, por egoísmo,
Perdeu a sua tradição, os turistas a destruíram.

Hoje, Lisboa é a confusão de carros e pessoas,
Que se cruzam diariamente, sem prioridades,
Com colisões, mortes e muitas anormalidades.

É arriscado transitar por estas outras Lisboas,
É preciso ser prudente para retomar a cidade,
Que outrora foi conquistada pela cristandade.



O ESPLENDOR DE CABINDA



Afinal onde está o esplendor de Cabinda escondido?
Está na sua harmoniosa baía, na sua granja verde,
Está nas suas colinas e na magia que não se perde,
Está nos jardins e árvores, ambiente bem protegido.

O esplendor de Cabinda existe, é único, é feiticeiro,
Encanta-me com as belas mulheres de seus panos,
Envolvendo os corpos esbeltos, com seus encantos,
E o esplendor a conservar-se vivo e de corpo inteiro.

O esplendor de Cabinda está no mercado de sabor
Tropical, com suas fartas frutas, peixes e animais,
No sorriso das vendedeiras, provocantes e fatais.

É a vida natural, fraterna que me torna admirador
E me prende a Cabinda para toda a vida, como filho
Que saiu de sua casa e nunca soube porque motivo.

sábado, 28 de julho de 2012

O CASTELO DOS TEMPLÁRIOS


Do cimo do monte, onde te ergueram, guardas a cidade,
Há nove séculos que defendes a memória de Gualdim,
Honras o nome de Portugal, protegendo da ferocidade
A terra que tu criaste e viste crescer como um jardim.

Tomar é o nome de baptismo da tua cidade, teu amor,
Com quem te acasalaste e tiveste filhos, verdadeiras
Personalidades que honraram o teu nome, com ardor,
Mas que são marginalizadas por pessoas traiçoeiras.

Aliaram-te ao Convento de Cristo para vos considerar
Património Mundial, mas menosprezaram a tua dama,
Que vive com dificuldades, com seus filhos, vil drama.

Apela aos Templários para de vez os vândalos afastar
Da tua bela e triste cidade, devolvendo-lhe a virtude
Que merece pela sua histótia e pela sua bela atitude.






CONVIVER COM O MUNDO


Dá-me a tua mão, vem comigo descobrir o Mundo,
Esse Mundo que nos absorveu, sem dó e piedade,
Vamos juntos alimentar nossos sonhos e saudade,
Por tudo que passámos e que é bastante profundo.

O Mundo tem de belo e de mau, é surpreendente,
Temos de saber viver com ele sem algum receio,
Dependemos do Mundo e ele é nosso dependente,
Temos os três de conviver sem qualquer atropelo.

Se nós não acarinharmos o Mundo, sem egoísmo,
Ficamos sujeitos à sua vingança cruel, sem retorno
E isolados seremos banidos com visível transtorno.

Temos de fazer um esforço e com muito altruísmo
Cumprir com regras da boa convivência e verdade,
Para nossas almas merecerem Paz e tranquilidade.





NÁUFRAGO DE SONHOS


O meu barco carregado de sonhos afundou-se,
Naufraguei e para não me, afogar, assustado,
Agarrei-me aos escombros que ainda flutuavam.
Abandonado, só com mar na linha do horizonte,
Esperançado estava de ver surgir a minha Terra,
Que eu deixara há bastante tempo lá muito longe.

A minha Terra não apareceu, apenas vi uma ilha,
Com o farol a indicar-me o caminho para chegar
Onde outros náufragos lutavam para sobreviver.
Não encontrei ninguém conhecido, como merecia,
Apenas máscaras de rostos marcados por chorar
Lágrimas amargas das ondas que eu perseguia.

Isolados ficámos por muito tempo naquela ilha,
A passar fome e sede, bem longe da civilização,
Ninguém nos procurou, não acharam oportuno,
O mundo deixou de nos dar a atenção merecida
Por puro egoísmo e desmedida e cruel ambição,
E para não nos devolver o legítimo património.

















AS OLIMPÍADAS


Movimento, cor, juventude, idosos, todas as raças
E credos se juntaram para celebrar a vida comum,
Com cânticos, danças e representações nas praças,
Num espectáculo de rara beleza e cenário incomum.

Seu símbolo helénico de há séculos, o facho de fogo,
Transportado pelos atletas, relembra tempo passado,
E atravessa os Países participantes, sinal inspirado,
Irá desfilar no estádio olímpico, sem perder fôlego.

Todos os desportos serão festejados sem desânimo,
De elevada harmonia, plasticidade e de perfeito ritmo,
Com a beleza gravada para sempre no nosso íntimo.

As olimpíadas têm lugar de quatro em quatro anos,
Ficarão na lembrança de todos seus participantes,
Com a celebração da Paz Universal, como dantes.






terça-feira, 24 de julho de 2012

UM HINO Á VIDA


Cantemos todos juntos um hino à vida,
Gozemos o que ela tem de bom, a magia
Dos animais, do sol, da água, do ar,
Da natureza, do céu azul, do respirar.

Celebremos todos os dias a nossa vida,
De mãos dadas, o nascer de outro dia,
A vida é para ser vivida com alegria,
Não como se fosse para sempre banida.

Vive a vida que é tão bela e amiga,
Beija a vida, dá-lhe mimos, ternura,
Estima a tua vida que é apenas uma.

A vida saberá recompensar-te ainda,
Na Terra ou no Além, nunca é tarde,
Assim, tu descansarás na eternidade.




JÁ SEI PORQUE EXISTO


Sobre a minha dúvida porque existo, surgiu uma luz,
Ela veio num raio de sol e penetrou no meu espírito,
Segredou-me o que eu queria saber, achei esquisito
Saber que existo porque nasci para carregar a Cruz.

A Cruz tenho carregado, não me queixo como Cristo,
Meu dever é viver com a Cruz, que Cristo me deixou,
Lutar por ela, pela minha vida, acho que não desisto,
Levando a Cruz às costas como Cristo se crucificou.

Tenho de me habituar a não me lamentar, é a vida
Que nos oferece o caminho a seguir com coragem,
Tomando o exemplo de Cristo como boa mensagem.

Fiquei a saber que a minha sorte é a mais merecida,
Devendo lutar e amar por ela, sem ninguém odiar,
E merecer a benção de Deus, quando ao céu chegar.





NÃO SEI PORQUE EXISTO


Muitas vezes me interrogo pela razão de eu ter nascido.
Não tenho resposta, faço as minhas próprias deduções.
Será que Deus me quis castigar para eu fazer orações,
Ou será porque fui posto à prova da vida, desprotegido.

Por muito que me esforce não encontro uma explicação,
Só deparei com contrariedades, inimigos e dificuldades,
Não me revejo em nada, nem em ninguém, como irmão,
Vivo com tanta mentira, insultos e nenhumas verdades.

Vou fazer um esforço para saber o motivo de eu existir,
Sei que vai ser impossível chegar a qualquer conclusão,
Porque os obstáculos são muitos, sinto grande pressão.

Passei a vida inteira em busca da verdade, sem desistir,
A vida martirizou-me com muito trabalho e sofrimento,
Tirou-me tudo, deixou-me sem resposta que eu lamento.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

TER ASAS PARA VOAR


Queria ter asas para voar,
O Mundo poder sobrevoar,
A Minha Terra visitar.

Queria ter asas para voar,
Ao à Minha Terra chegar,
A poder libertar.

Queria ter asas para voar,
P’ra minha família alcançar,
E a poder confortar.

Queria ter asas para voar,
Uma deusa algures achar,
E com ela namorar.

Queria ter asas para voar,
Ir os meus amigos visitar,
Em qualquer lugar.

Queria ter asas para voar,
Dores dos doentes aliviar,
Sem os curar.

Queria ter asas para voar,
Para mágicas vir encontrar,
E as poder usar.

Queria ter asas para voar,
As montanhas sobrevoar,
O ar respirar.

Queria ter asas para voar,
Os rios para o mar ajudar,
Aonde vão desaguar.

Queria ter asas para voar,
Nos mares poder pescar,
Para a fome matar.

Queria ter asas para voar,
Os campos do ar semear,
E alimentos tirar.

Queria ter asas para voar,
Nas casas pobres entrar,
Para poder ajudar.

Quero ter asas para voar,
Os meninos órfãos mimar,
E amor lhes dar.

Queria ter asas para voar,
Os inimigos poder cercar,
Para os anular.

Queria ter asas para voar,
Para mais rápido chegar,
Ao tudo acabar.

Queria ter asas para voar,
Para quando Lá chegar,
Deus me perdoar.













AS ANDORINHAS


Quando chegam, vindas de longe, trazem mensagens,
As do Sul vêm em busca dos seus amigos conhecidos,
Andaram por lugares distantes, inóspitos e perdidos,
Mas não receiam voar longo tempo em muitas viagens.

Chegam a novas paragens, reencontram seus amigos,
Nos beirais das casas e varandas descobrem abrigos,
Fazendo voos sobre as casas, eufóricas e chilreando,
A todos que as contemplam e admiram, encantando.

Andorinhas apátridas que surpreendem pela coragem
Que mantêm nas suas longas e bastantes migrações,
Voam por continentes e oceanos em várias estações.

Gostaria de viajar com as andorinhas, pura miragem,
Poder voltar à minha terra, rever amigos e a natureza,
De variado colorido e cheiros de África e rara beleza.


LIBERTEI-ME DE TI


Na almofada do teu colo fechei os meu olhos,
O arfar do teu peito, o palpitar do teu coração
Deixaram-me preso a ti com grilhetas de aço,
Fiquei teu prisioneiro, fechado com ferrolhos,
Sujeito aos teus vis caprichos sem compaixão,
Obrigado a ficar no teu castelo enclausurado.

Tua presença era meu consolo, minha estrela,
Davas-me confiança, teus beijos saboreados,
Tão doces que os desejava a todo o instante.
Desgostoso fiquei por me desligares da trela,
Trocando-me por outro de menos predicados,
Foi deveras chocante e de sofrimento bastante.

Hoje sei que a tua traição só me veio ajudar
A recuperar minha liberdade, minha vontade
De me tornar útil e sem de ti ser prisioneiro,
Arranjei outra parceira que me sabe estimar,
Não me restando de ti o mínimo de saudade,
Amar e ser amado com verdade, eu almejo.





PORQUE DEVO ESCREVER


Eu escrevia, escrevia e ninguém me conhecia,
Fiquei sem vontade de escrever,
Porque ninguém me lia.

Continuei a escrever por minha grande teimosia,
Achei que não devia desistir,
Para estar em sintonia.

Escrevo como sei, sinto e vejo os acontecimentos,
Uma grande parte é lida outra não,
São documentos.

Para além de achar que o que escrevo é importante,
Acho que é positivo dar divulgação,
Ao que é interessante.

Ninguém me impede de expressar a minha opinião
Livre, ponderada, objectiva e clara,
Para desfazer a ilusão.

Da prosa passei à poesia porque é mais concisa,
Além de ser de melhor compreensão,
E mais objectiva.

Resta-me conseguir manter o mínimo de inspiração,
Para boas mensagens poder enviar,
Como recomendação.

domingo, 22 de julho de 2012

A AGONIA DE UMA NAÇÃO


Que saudades eu tinha do mar que o fui contemplar,
O sol brilhava nas suas águas e os peixes nadavam,
Tive a sensação que os pescadores fizeram tréguas,
Dando aos peixes tempo para se poderem multiplicar,
Era o que há muito aos homens de bem reclamavam,
Os pescadores assim acharam e entraram em férias.

Fui aos campos ver se as culturas tinham progressos,
Surpreendido fiquei pelas imensas terras por amanhar,
Soube que os agricultores se achavam decepcionados,
Os produtos tão mal pagos, com prejuízos manifestos,
E as terras a pedir descanso para poderem recuperar,
Chegaram a acordo por estarem ambos interessados.

Visitei o parque industrial que pensava ainda existir,
Deparei com muitas fábricas fechadas e degradadas,
Gente desempregada, passando dificuldades e fome,
Ninguém faz nada para evitar o descalabro subsistir.
Muitas fábricas desmontadas para serem transferidas,
Deixando o País mais pobre, em completo desnorte.

Percorri as zonas históricas das nossas belas cidades,
Fiquei chocado com as lojas encerradas para sempre,
Com escritos de trepasse e venda, grande desespero,
As cidades perderam a sua vida e amargas verdades
Marcaram toda a gente, com dificuldades e temendo
Terem de partir, passando da cidade para o desterro.

E assim um País, uma Nação entre em pré-agonia,
Com promessas falsas de quem acha que governa,
Sem soluções para os muitos e graves problemas,
Recorrendo a ajudas externas e ficando em sintonia
Com quem explora, com juros altos e impõe miséria.
A doença é grave e prolongada, de maus sintomas.











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À MINHA VOLTA À MINHA FRENTE


Tudo o que me rodeia é secundário e misterioso,
À minha frente o cenário é cinzento e nebuloso,
Os personagens não contam, apenas as acções,
Fico sem ânimo para me abrir a outros corações.

Desconfio de tudo e de todos, não tenho ilusões,
Os factos são evidentes, maiores as ambições,
O mundo perdeu a sua vocação, a sua bondade,
Virou um vulcão, um inferno de muita crueldade.

À minha volta e à minha frente não há horizonte,
Apenas barreiras e trincheiras, para uma guerra
Que irá travar-se entre as forças vivas da Terra.

Sem vencedores e vencidos, despojos num monte,
O mundo ficará para sempre totalmente destruído,
Transformado em escombros sem algum ser vivo.











sexta-feira, 20 de julho de 2012

KOTA JOAQUIM MAIEMBLA


Kota Maiembla me fala da minha casa, do meu quintal,
Daquele tempo, da ginguba por ti torrada,
Das histórias que tu me contavas,
Saudade guardada.

Me fala daquela mangueira grande, das bananeiras,
Dos castanheiros, dos coqueiros, da horta,
Que tu cuidavas com muito amor,
Natureza hoje morta.

Me lembra do curral com porcos, cabritos e galinhas,
Do grande lamaçal quando a chuva era muita,
Da cacimba com água barrenta,
Natural labuta.

Me fala do teu cachimbo que tu fumavas com prazer,
E do cigarro que punhas na boca, aceso.
Não mostravas a dor que sentias,
Eu ficava surpreso.

A dor que sentias sei que era outra, que tu escondias,
Da tua vida não prosperar e melhorar.
Vivíamos ambos condicionados,
Pelo regime de Salazar.

Me fala das nossas comidas saborosas e variadas,
Com que juntos nos deliciávamos,
A muamba com gindungo,
Prato que adorávamos.

Me conta o que ficou por me contar, por falta de tempo,
Dos teus antepassados, da tua vida,
Da tua força, da tua afeição,
Da tua sabedoria.
Te quero do coração agradecer, teres olhado por mim,
Foste sempre meu protector, meu amigo,
Evitavas os castigos de meus pais,
Quando te pedia abrigo.

Maiembla, onde quer que estejas, não mais te esquecerei,
Foi à tua beira que cresci e feliz vivi,
Nos bons tempos da nossa terra,
Como sempre quis.









SABER AMAR


Quem sou eu para ensinar a amar, é pura pretensão,
Amar requere engenho e arte
E coração.

Em jovem tive muitas crises de amor que se dissiparam,
Mas não aprendi com os dissabores,
Que me desiludiram.

Continuei a amar sem ter a certeza de como e quem,
Andei em busca do verdadeiro amor,
Sem ninguém.

As poucas vezes que amei, foram puro passatempo,
As desilusões que sofri foram tantas,
Perdi o meu tempo.

Sei que por ser arte e engenho, é difícil achar o amor,
Ele esconde-se dentro de nós,
Apenas aparece com dor.

Saber amar continua a ser um mistério por desvendar,
Não há amor possível sem se ser amado,
Só serve para martirizar.

As formas de amar são diversas, partem todas do coração,
Há amores de paixão, há os de afeição,
Perdemos a razão.

A idade é uma verdadeira lição de amor que se aprendeu,
Embora sem segurança e sem remédio,
Foi um engano, nada me deu.

O Amor maior e mais puro, é o Amor dedicado a Deus,
É Amor de entrega total e devotado,
Não é de fariseus.











quarta-feira, 18 de julho de 2012

MARIA


Não és apenas mais uma Maria entre tantas,
Lembra-te que Maria, é Nossa Senhora,
Maria é o nome de muitas Santas,

Deves ter orgulho em chamares-te Maria,
És mulher do povo e do Mundo,
Tens uma grande mais-valia,

Se eu fosse mulher gostaria de ser Maria,
Teria muitas companheiras comigo,
Nas lides do meu dia-a-dia.

Maria é a minha mãe e a minha mulher também.
Ainda um dia uma estátua mandarei erguer,
Por só terem praticado o bem.

Não existe no Mundo nome mais digno que o vosso,
São de mulheres honradas e laboriosas,
Com um currículo glorioso.

A maior de todas as Marias é a mãe de Jesus Cristo,
Todas as Marias são suas fiéis seguidoras,
Mantêm seu fiel e digno registo.











DEIXAR DE SORRIR E DE CHORAR


Deixei de sorrir, também já não sei chorar,
Foram bastantes as lágrimas derramadas,
Que perdi a vontade de sorrir e até amar,
Com oportunidades da vida abandonadas.

Minha expressão tornou-se dura, enrugada,
Perdeu a frescura doutros antigos tempos,
Não sorrio, não choro, só sobram lamentos,
Não quero transmitir minha vida sacrificada.

Os motivos são bastantes e tão misteriosos,
Que não têm explicação para me afectarem,
Só sinto que servem para me prejudicarem.

Já não posso desejar projectos ambiciosos,
Fiquei sem vontade e tempo, perdi o sorriso,
Já não tenho lágrimas, apenas resta o siso.

DESCOBRIR A POESIA


Ando na procura incessante de encontrar versos
Que minha fantasia imagina colher com abraços,
Para os acariciar e lhes adicionar meus afectos,
E poder divulgar aos meus leitores fieis e certos.

A poesia que escrevo é sentida e muito sincera,
Relata grande parte da minha prolongada vida,
São exemplos da coragem e enorme empatia,
Que crê no futuro promissor e não desespera.

Meus versos são muitos, de diversos sentimentos,
Cantam verdades, revelam mentiras, são actuais,
Encerram histórias, algumas falsas, outras reais.

Os meus versos têm magia e lindos momentos,
Há quem os aprecie e os que lhes são adversos,
Não desisto de escrever os meus bonitos versos.





segunda-feira, 16 de julho de 2012

QUANTO MAIS MADURO MELHOR


Dizem que o vinho quanto mais maduro melhor é,
Acho que não sendo vinho também estou melhor.
Não tenho muito graduação, tenho bom paladar,
Não sou caro, sou de preço médio, como o café,
Minha marca está registada e tem nota superior,
Nunca estará à venda, mas podem encomendar.

Não participo em concursos, detesto publicidade,
Conquisto o mercado com o meu valor e mérito,
Quem me conhece, sabe bem aquilo que valho,
Nunca fui cínico, invejoso, nem tenho maldade,
São públicas as minhas qualidades, sou discreto.
Sou como uma carta perdida, tirada do baralho.

Gosto de ser consumido por meus apreciadores
Que me elogiam meus inquestionáveis atributos,
Continuo na procura da minha melhor cotação,
Dentro e fora do mercado nacional e arredores,
Por estar melhor, mais maduro, exijo estatutos
Para me dar coragem e ter melhor valorização.








domingo, 15 de julho de 2012

VAI DEVAGAR



Para começar é bom lembrar que a tua mãe
Levou sete meses para á luz de poder dar.
Portanto, não esqueças nunca, vai devagar

Quando começares a estudar, vai devagar,
Não queiras uma licenciatura para mostrar.

Quando pensares em namorar, vai devagar,
Podes perder tua amada, é bom não arriscar.

Se te achares apto a casar, então vai devagar.
Faz bem a tua escolha de quem levar ao altar.

Quando tiveres um emprego, vai devagar.
Não podes subir na vida sem muito trabalhar.

Sempre que penses criar amigos, vai devagar.
Há poucos amigos verdadeiros para encontrar.

Antes de te meteres na política, vai devagar.
A política não é para todos, é para parasitar.

Antes de teres um filho pensa, vai devagar.
Hoje é muito difícil um filho puderes criar.

Se quiseres escrever o que gostas, vai devagar.
Escolhe temas sinceros, naturais para divulgar.

Se pensas alguma religião abraçar, vai devagar.
Deixa de pecar e aprende a respeitar e a rezar.

Para viajares, escolhe o destino e vai devagar.
Não te esqueças do ditado que há ir e voltar.

Só não voltarás quando morreres, vai devagar.
Tens tempo de chegar até Deus para te julgar.









VERÃO SURPREENDENTE


O verão chega tão discreto e cauteloso
Que mal aquece e por vezes arrefece,
Já não é o Verão normal, surpreende,
Aparece sorrateiro, até mais manhoso.

O Verão já não aquece o nosso corpo
Nem a nossa alma e já não reconheço
A vocação, e seu mistério desconheço.
O aparecimento do Verão é um aborto.

O Verão é muito mais curto e distante,
Cortou relações com a Terra, zangado,
Passou a mal agradecido e despeitado.

Foi a Terra a única culpada e vil tratante,
Desrespeitou o Verão com os incêndios,
Secas, fome e miséria, com dispêndios.





sexta-feira, 13 de julho de 2012

AS QUATRO FASES DA LUA


Perguntei à Lua o que fazia ela lá tão alto,
Ela respondeu-me que observava a Terra,
Para se certificar como eram os homens,
Pois lhe apetecia experimentar um salto,
E confirmar o que lhe parecia ser miséria,
Greves, guerras e recorrentes desordens,

A lua nova esconde-se para se defender
Das curiosidades dos terrestres que vêm
Nela um planeta virgem a ser explorado.
A lua recusa-se, não quer cortejada ser,
Sabe que os homens ainda nela mantêm
Interesse, intenso e agressivo, declarado.

Passa pela fase crescente para disfarçar
O receio da Terra aumentar sua vontade
De a invadir e a desflorar com violência.
Deixa que a Terra descubra sem a violar,
Os encantos e mistérios da sua mocidade,
Para manter a sua virgindade e inocência.

Vendo que a Terra não desiste, fica cheia
De claridade, convidando os namorados
A se beijaram e abraçarem com a sua luz,
A Terra não se apercebe da Lua matreira,
Que pretende ver os humanos humilhados,
Com cenas ousadas, obscenas e seus nus.

Para evitar uma invasão da Terra vingativa,
A Lua se resguarda e mergulha no escuro,
Retirando à Terra as malévolas intenções
De a desflorar e escravizar para toda a vida,
Guardando os seus segredos com um muro
E a ameaça da ira e explosão dos vulcões















OS TEUS OLHOS



Quando os teus olhos se cruzam com os meus,
Aceleram as palpitações dos nossos corações,
Teus olhos profundos e doces, são sensações,
Rendo-me à tua mercê com a bênção de Deus.

Os teus olhos revelam entrega e tranquilidade
Que me dás como teu legado e cumplicidade,
Mostram-me os caminhos mais certos a seguir,
Para dos perigos e das armadilhas poder fugir.

Sei que os teus lindos olhos só me vêm a mim,
E os meus te vêm como minha única protectora,
Fiel, generosa, minha amiga e grande senhora.

Lindos olhos tens tu que eu adorarei sem fim,
Por serem únicos e eu ardentemente desejar
Que abram o caminho para nos levar ao altar.








A MINHA FRONTEIRA


Tracei uma linha na vida, que é a minha fronteira,
Fiquei entre paredes com os meus companheiros,
Os livros, as revistas, o artesanato, como toupeira
Que se mete no seu buraco para evitar atropelos.

Do meu reduto, observo todo exterior e o Mundo,
Sou surpreendido com a profunda transformação,
Que o Mundo sofre no dia-a-dia, com a revolução
Que o destrói peça por peça até ficar moribundo.

Dentro da minha fronteira, mantenho-me afastado,
Não ouso tomar partido por nada nem por ninguém,
A indiferença é a que na neutralidade me mantém.

A minha fronteira é curta e bastante blindada,
Ninguém a invade nem a sua dureza arromba,
Apenas destruindo-a com uma potente bomba.





quarta-feira, 11 de julho de 2012

SEDE DE AMOR


Tenho a boca seca e amarga, os lábios gretados,
A respiração ofegante e os olhos mergulhados
Em lágrimas de desespero por não me beijares,
E passares tão longo tempo sem me abraçares.

Teu corpo, teus cabelos, teu odor, teu perfume,
Chegam-me em nuvens trazidas pelo ar e vento
Que vem do sul para me dar ânimo e sustento,
Até me tomares nos teus braços, meu vil ciúme.

As noites são longas, de sonhos bem profundos,
Com a tua esbelta silhueta, formosa e desejada,
Que não troco por qualquer sereia mais ousada.

O meu amor, o palpitar do meu coração, infindos,
Só a ti eu desejo tomar nos meus braços meigos
E encher-te de muitas carícias e eternos beijos.



PALAVRAS SEM FREIO


Soltam-se as palavras sem freio e a trote,
Correm pelas pradarias da política,
Discursam para os otários
Dizem disparates vários.

Meu povo, meus carneiros, querido rebanho,
Vou proteger-vos no vosso curral,
De quem vos quiser fazer mal,
Enquanto eu me amanho.

Este ano é de sacrifícios, tenham paciência,
Irão passar fome e muitos desgostos,
Mantenham-se nos vossos postos,
É preciso crença.

Crença que será a tábua de salvação prometida,
Quando já não houver mais comida,
E sobrarem os restos da Pátria
Traída.

As palavras sem freio continuarão sem freio
Escutadas e seguidas com submissão,
Como mandam as regras
Da comissão.

Com punição e tanta restrição, virá a hibernação,
Que perdurará durante longo tempo,
A menos que comece a soprar
Bom vento.









VIRAR DE PÁGINA


Virei mais uma página da minha longa vida,
Abri nova página em branco, para escrever
O que a vida ainda me poderá surpreender,
De bom e de mau, é oportunidade perdida.

Já me resta pouco para anotar na página
Que agora abri, pois tudo que aconteceu,
Já não volta a acontecer, a fé esmoreceu,
Tudo vai ser apenas uma simples rotina.

Cansei-me de escrever páginas sem fim,
Nada lucrei com tanto esforço e trabalho,
Apenas me senti mais velho e enganado.

Recuso-me a escrever mais contra mim,
Não pouparei quem me quiser ofender,
Saberei com razão e senso me defender.





segunda-feira, 9 de julho de 2012

OS HOMENS SÃO ANIMAIS E OS ANIMAIS SÃO HOMENS


Depois de bem conhecer os homens e os animais,
Tirei conclusões surpreendentes e bastante reais,
Os homens deixam muitas vezes de ser humanos,
E os animais tomam quase a forma de espartanos.

Enquanto os homens iludem, os animais são leais.
Os homens ambicionam ser muito ricos, os animis
Desejam apenas receber alguma comida e guarida.
Os homens recebem em troca, uma vida protegida.

Benditos animais que os homens trazem por perto,
Eles são mais humanos que os seus protectores,
Confundem-se com dos homens, os seus valores.

Valores que o homem se recusou a dar como certo,
Por ser ambicioso, não repartir e colher só para si,
Tudo o que os animais sempre o ajudou até aqui.









PLANÍCIE BELA SEM FIM


Aquela planície parecia não ter fim,
Tanto caminhei que então deparei,
Com dispersos morros de salengo,
Plantados na planície só para mim,
Pintados de ocre que surpreendeu,
Tudo o que ambicionei e mantenho.

Aquela planície imensa e solarenga,
Despertou-me deliciosas vontades
De erguer uma cubata e nela viver,
Com companheira em quarentena,
Desse bom tempo tenho saudades,
Dessa bela mulher a imagem manter.

Meu desejo é de voltar aquela planície,
Para reviver aquele tempo de sonho
Em que assistia ao desfile dos animais,
E o tempo deixava de ser uma chatice.
Assim a vida não era peso medonho,
Era algo que me recordava meus pais.











SURFAR NO MEU IPAD


Apanhei o vício de surfar no meu amigo IPAD,
Vou para onde me levam as ondas dos versos,
Que escrevo com inspiração e de ânimo leve,
Navegando em mares das areias dos desertos.

Cada grão de areia é um verso que escrevo,
Na parede de granito da minha rijeza lápide,
Que perdurará no tempo como um escravo,
Do seu fiel dono para a eterna posteridade.

Escrevo versos para mim e para os amantes
Da poesia que pinta a vida de belos quadros,
Por todos lidos e relidos e muito apreciados.

Os versos que escrevo são belos e delirantes,
São o meu viver, a minha devoção, o palpitar
Duma vida que persiste e se recusa a acabar.





sexta-feira, 6 de julho de 2012

ENTRELINHAS


Gosto de escrever entrelinhas, deixando a resposta,
Aos mais evoluídos que as assimilam,
Com melhor sentido de raciocínio,
Por ser o seu domínio.

Nas entrelinhas que escrevo, ficam coisas por dizer,
Deixo a quem as lê, melhor interpretar,
O que me custa dar a conhecer,
A quem as quere conhecer.

Muito há nas entrelinhas que devia ser conhecido
Por todos os que da vida têm dúvidas,
São verdades e não mentiras,
Meras sensaborias.

Escrevo muito nas entrelinhas, o que não posso dizer,
Ficam coisas verdadeiras escondidas,
A aguardar melhor oportunidade
Para ser novidade.

Todos os escritores escrevem entrelinhas notícias
Que não são oportunas para divulgar,
Podem ser traiçoeiras e apunhalar
Quem as utilizar.

Hoje mais que nunca as entrelinhas são muitas,
Toda a gente anseia por as conhecer,
Mas não manifestam interesse,
Querem apenas esquecer.









quinta-feira, 5 de julho de 2012

O MEU BANHO DE CHUVEIRO HÁ 60 ANOS


Nunca mais me esqueço do meu banho de chuveiro,
Era uma odisseia que requeria perícia,
O chuveiro era um balde com cordel
Que eu puxava.

Enchia o balde de água barrenta da nossa cacimba,
Misturava-lhe umas gotas de criolina
Para matar as pulgas matreiras,
Que se escondiam

A temperatura da água era tão quente que lavava
Com sabão azul e branco, sem esforço,
Deixando macio o meu corpo,
E a pele acetinada.

Depois do banho limpava o corpo com toalha turca,
Que de tanto transpirar, outro banho
Apetecia voltar a tomar,
Por muito suar.

Durante o banho cantarolava alto com o olhar atento
No balde pendurado, não fosse o cordel partir
E o balde em cima de mim cair,
Sempre temendo.

Das brincadeiras com terra e muitas das vezes, lama,
O banho era uma perfeita barrela,
Demorava mais que o tempo
Do apagar de uma vela.

E assim eram os meus banhos todos os fins do dia,
Que era obrigado a tomar, contrariado,
Refilando e por vezes chorando,
Para ficar bem lavado.




O MEU QUERIDO ARTESANATO


O meu artesanato está sempre vivo e presente,
É diverso, divertido e meu amigo,
De bonito recorte, de preto vestido,
Está sempre comigo.

A peça mais valiosa é uma Deusa formosa,
De olhar doce, rosto fino, pescoço
Longo, cabelo ao alto apanhado,
Deixa-me apaixonado.

Ao seu lado, vigilante, observador e atento,
Um homem de ar austero e zelador,
Protege a minha Deusa
Da sua beleza.

Uma mulher também se perfila na mesma fila,
Tem o cabelo entrançado e atado,
Sorri para a Deusa, embevecida,
Sua bela filha.

Duas crianças alegres e de sorriso doce e feliz,
De tranças finas, descendo das cabecitas,
Saltam à corda junto aquela imagem,
Que é a sua amada mãe.

Mais distante um caçador, com sua presa às costas,
Vem a chegar da caça ao veado,
Caça para não ser caçado,
É bem aguardado.

Um pensador com as mãos, cobrindo as têmporas,
Pensa concentrado por mim e por todos,
Recebe e transmite mensagens,
Que vêm doutras paragens.

Três figuras polémicas, simbolizam o surdo, o mudo
E o cego, com outros sentidos mais apurados,
Não sabendo porque foram castigados,
Dos sentidos privados.

O meu artesanato é rico de humanidade e fidelidade,
Não me abandona e eu também desejo,
Que continue comigo a viver,
Para minorar meu sofrer.




terça-feira, 3 de julho de 2012

DA JANELA DO MEU QUARTO


Por trás da cortina do meu quarto, está a janela,
Que à noite namora a lua e de dia a secreta rua.
Afasto a cortina e espreito pela janela já aberta,
Respiro o ar do dia que chegou, depois da lua.

Obcecados pelo tempo da manhã que lhes foge,
Os matutinos correm e os carros parecem voar
Já vão atrasados para seus destinos, bem longe,
Desprezando os peões que arriscam atropelar.

Da janela do meu quarto, assisto ao espectáculo
Que a manhã agitada me oferece, sem bilhete,
Não quero apanhar boleia, rejeito ser foguete.

Fecho a janela, saio à rua, evito ser obstáculo,
Sigo o passeio, seguro, tranquilo e confiante.
Espero chegar ao meu destino, bem distante.








DO ALTO DA MONTANHA


Subi ao alto da montanha, perdi a vista, ganhei o horizonte,
O novelo desenrolou, a linha esticou,
Puxei pela ponta e veio uma andorinha
Presa pela asa, coitadinha.

A minha andorinha, piava assustada, pediu-me guarida,
Protegia-a entre os dedos, afaguei-a,
Ela acalmou e ao meu ouvido sussurrou,
Quando enfim sossegou.

Revelou-me segredos que me trazia de longe, de África,
Boas notícias, em sonhos imaginadas,
Da família e dos amigos que lá deixara,
Tudo o que ambicionara.

De paisinho passei a avozinho, respeito e muito carinho,
Reencontros dos desencontros que o tempo
Consumiu em lume brando,
Feliz ressurgimento.

Diluído na voragem do tempo, o passado já não existe,
Apenas o presente e o futuro subsiste,
Na almofada das noites perdidas,
Com agrado vividas.

Preso às lianas que me laçaram o corpo e os movimentos,
Respiro o ar quente e húmido da floresta,
Que me trouxe a andorinha
Felicidade a minha.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A MINHA CADELINHA A MINHA DONA


Sinto e pressinto que a minha cadelinha é minha dona,
Sou eu que lhe obedeço, é ela que me orienta,
Leva-me ao sabor da trela,
Pelo caminho dela.

É ela que me leva ao parque, contorna o passeio e a relva,
Recebe piropos e festas dos seus muitos amigos,
Lança-me olhares de desafio,
Para meu martírio.

Tornou-se vaidosa mas muito zelosa da minha segurança,
Protege-me dos canídeos que nos perseguem,
Ladra e os afasta para longe,
Como eu fosse um monge.

Minhas palavras são por ela entendidas e embora obedecidas,
É ela que toma as principais iniciativas,
Faz propostas por brandos latidos,
Por mim compreendidos.

Sinto e pressinto que a minha cadelinha é minha dona,
Ela está sempre atenta à recolha do meu correio,
Toma conta de mim durante o dia em casa,
A sua fidelidade é clara.

Nunca se vai deitar no seu ninho, se eu ainda estiver acordado,
Só se deita, quando eu a levo ao seu cantinho,
Faço-lhe uma festa, ela lambe-me as mãos,
Recebo as suas bênçãos.

Cada vez mais me convenço que a cadelinha é minha dona,
Por isso a trato com meiguices e o devido respeito,
Para sermos sempre sinceros amigos,
E enfrentarmos os inimigos.


ESPERANÇA PERDIDA



A rua acabou ali, perdeu-se na calçada,
Restaram as lojas fechadas,
Os passantes seguem noutra onda,
Onda que rebentou na praia,
Saboreou a areia.

Sigo sem destino, os pássaros voam alto,
Eu cá em baixo estou limitado,
Faltam-me asas para voar,
Estou sem rumo, a brisa arrefece,
O sol desaparece e escurece.

O sono fugiu-me, seguiu o rasto dos pássaros,
Abandonou-me abraçado ao travesseiro,
Minha tábua de salvação,
Nas ondas revoltas do mar bravio,
Da vida que eu desconfio.

A noite foi longa, pareceu não ter fim,
Fui rolo de massa, rolando nos lençóis,
Senti-me pão mal cosido,
O forno arrefeceu comigo,
Fiquei perdido.

UMA RUA QUASE PERFEITA



Gostava de morar numa rua imaginária,
Em que as pessoas se dessem todas,
Fossem leais, amigas umas das outras,
Deixassem de levar uma vida solitária.

Gostava de morar numa rua diferente,
Uma rua de convívio e de intimidade,
De sorrisos e amizade não aparente,
Com árvores, jardins e autenticidade.

Não quero pensar que os meus vizinhos
Vão deixando a minha rua por motivos
De doença ou por muitos anos vividos.

Espero que a minha rua me dê motivos,
Para viver nela mais anos com alegria,
Convivendo com sã amizade e energia.