quarta-feira, 29 de março de 2017

CIDADÃOS E PESSOAS

Crónica

Tornou-se muito vulgar e moda tratar os cidadãos por pessoas. Fico com a ideia que o propósito deste tratamento advém de se pretender distinguir as pessoas dos animais, embora as pessoas também sejam conduzidas em rebanhos pelos seus pastores ao serviço dos seus donos. Nega-se assim o direito que essas pessoas têm de ser consideradas cidadãos.
Num regime democrático pleno, há lugar à cidadania exercida livremente pelos cidadãos que lhes permite fazerem as suas escolhas preferidas. Assim, em todos os actos de candidaturas a lugares políticos e públicos, deveriam as propostas partir dos cidadãos para os elegerem e não o contrário em que são os auto candidatos que se propõem a si próprios como actos consumados.
Deixa assim do cidadão poder participar da discussão de temas de relevante importância. Esta é a razão principal por que a democracia não funciona, impossibilitando a aplicação prática e eficaz das leis e directivas mais apropriadas. Como consequência final dá-se o colapso total da organização e progresso do País com difícil e longo período de reversão.


Ruy Serrano – 29.03.2017

quinta-feira, 23 de março de 2017

MULHER DOS MEUS PECADOS

Por ti pequei, tornei-me teu escravo,
Quando por ti me apaixonei, agravo,
Que me tomou de assalto e me fez
Teu satélite, e minha honra desfez.

Mulher dos meus pecados, tentação
Que me agrilhoou às tuas correntes,
Do falso amor que me propuseste,
Sem nada de verdadeiro que preste.

Obcecado fiquei e enamorado estou,
Não consigo afastar o vício do amor
Que me criaste, tão ruim alimentaste,
Com tua sagaz sedução que criaste.

Mulher dos meus pecados amargos,
De seios tentadores e provocadores,
De lábios de púrpura carnosos e mel,
Alma vil com coração mordaz, de fel.

Mulher dos meus pecados sem conta
E medida, insaciável por toda a vida,
Afasta-te de mim, deixa que eu viva,
Para revelar minhas dores e queixas.

Ruy Serrano - 25.03.2017

UM PEÃO DA SOCIEDADE

Esta sociedade a que eu pertenço,
Usa-me como um simples peão,
Para se divertirem à minha custa,
Fazendo-me rodar sem coração.

De tantas voltas dar, estou gasto,
Mas ainda resisto ao rodopiar,
Não me dou por nada vencido,
Inda irei resistir por mais tempo.

O fio um dia vai partir de gasto,
E eu me libertarei do sacrifício
A que tenho sido assim sujeito,
E deixarei de rodar como peão.

Assistirei ao julgamento final
Dos que me trataram tão mal,
Passarão a ser eles os peões
Duma sociedade de aldrabões.

Ruy Serrano - 24.03.2017

quarta-feira, 22 de março de 2017

EU SOU EU PRÓPRIO

Sou eu próprio, igual a mim mesmo,
Não sei nem quero ser outra pessoa,
Vim ao Mundo para praticar o bem,
Quero ser livre, não quero ser refém.

Por vezes caí em tentações e pequei.
Disso me arrependi e me penitenciei,
Foram amores enganosos que perdi,
E dos quais mais tarde me arrependi.

Hoje mais que nunca sou eu próprio,
Não confio em falsas amizades, sou
Igual a mim mesmo e não me tento
A ser aquilo que querem que eu seja.

A vida não me permite leviandades,
Exige de mim que diga só verdades,
É o que tento fazer com os poemas
Que escrevo e dedico aos amigos.

Sou e serei igual a mim para a vida,
Até a morte me levar para algures,
Nada do que imaginava eu previa,
Sei que não serei outro, serei eu.

Ruy Serrano - 23.03.2017


sábado, 18 de março de 2017

VOAR BAIXINHO

Voo baixinho, não muito alto,
Para evitar ser um alvo fácil,
De uma bala perdida, mortal,
Por me acharem um anormal.

Não pretendo voar muito alto,
A minha queda seria violenta,
Se insistir em subir no espaço,
Por algo que não me sustenta.

Vou continuar a voar baixinho,
Mesmo perdendo notoriedade.
Sei que a reação da sociedade,
Será condenar-me em surdina.

Voando baixinho, posso admirar
O que se passa na Terra secreta,
Dominada por pessoas da treta,
Que se dedicam a nos fazer mal.

Por não ser ambicioso, vou voar
Baixinho, voando devagarinho,
Para alcançar o meu fofo ninho,
E sem dificuldade nele pousar.

Ruy Serrano - 18.03.2017

segunda-feira, 13 de março de 2017

AS ÁRVORES DAS PATACAS



As “Árvores das Patacas” estiveram conotadas com os emigrados para as ex-colónias, incluindo o Brasil. Era corrente ouvir-se dizer que os colonos tinham descoberto a “Árvore das Patacas”, porque deixavam transparecer uma qualidade de vida melhor que aquela que tinham em Portugal Continental.
Todavia, era completamente desconhecida a vida de sacrifícios e muito trabalho que esses colonos aplicavam na procura constante de melhores condições de vida e progresso das terras que os acolheram. A sua “Árvore das Patacas” era a labuta intensa e profícua no contacto com os bens da natureza e as verdadeiras “Árvores das Patacas” de que me lembro, eram, apenas, entre muitas, o cafezeiro, a palmeira, a bananeira, o coqueiro, a mangueira, o abacateiro, a goiabeira, o cajueiro, o embondeiro, entre outras, que produzem frutos deliciosos e, como inspiração da beleza africana, as acácias, vaidosas das suas flores, a sublime rosa de porcelana ou a misteriosa welwitschia, do deserto do Namibe (Angola), única no Mundo. Os ditos usufrutuários das imaginárias “Árvores das Patacas” foram aqueles que, pelas paragens por onde andaram e se fixaram, ergueram vilas, cidades e países, produto de toda a mais valia da sua vida de trabalho.
Nos dias que correm, as verdadeiras “Árvores das Patacas”, inspiradas naquelas utópicas e míticas árvores de antanho, proliferaram por todo o planeta, tendo-se fixado, as de maior porte, nos offshore, nos grupos financeiros, nas multinacionais e nas Oligarquias dos regimes políticos instalados. As de menor porte também se espalharam pelas classes burguesa e média alta de todo o Universo. Os seus beneficiários enriqueceram à saciedade, imaginando que as ditas árvores eram como que “galinhas de ovos de ouro” inesgotáveis. Todavia, foram bruscamente surpreendidos por uma epidemia que grassou por todas elas, começando nas de maior porte, e atingindo todas as outras. A maior parte delas secou, umas quantas esforçaram-se por se reabilitar mas a maior parte não tem cura possível.
As grandes, médias e pequenas fortunas ficaram fortemente abaladas, sentindo o efeito nocivo da epidemia, tendo a maior parte sucumbido, enquanto que os dois milhões de pobres existentes em Portugal, conscientes da sua marginalidade, assistem ao espectáculo, sem quaisquer receios e arrependimentos, porque a sua vida foi sempre pautada por orçamentos de rigor e escassez de meios
Estes cidadãos são os únicos que têm um sono mais tranquilo por não terem que se preocupar com as tais “Árvores das Patacas”.
    
Ruy Serrano – 13.03.2017

TEUS OLHOS TRISTES

Teus olhos tristes não me enganam,
São olhos de quem sofre por mim,
Não te quero ver sofrer tanto assim,
Afasta os males que te atormentam.

Vou esquecer os teus olhos tristes,
Lembrar esses teus lindos matizes,
Que embelezam teus lindos olhos,
Como ramos de flores aos molhos.

Quero ver teus lindos olhos a sorrir,
Afastando a tristeza para bem longe,
P'ras profundezas das constelações
Das estrelas perdidas no Universo.

Verás que o sorriso dos teus olhos,
Iluminará a terra com a sua beleza,
Dando mais vida, vigor e subtileza
Às cores vivas dos nossos sonhos.

Ruy Serrano - 13.03.2017

UMA CERTA LISBOA

Aquela Lisboa de antanho, já não existe,
Era a minha Lisboa, minha vida vivida,
Que recordar me dá prazer, não desisto,
Hoje é uma outra Lisboa, é desvirtuada.

Era a Lisboa dos ardinas e das varinas,
Dos pregões, dos fados e guitarradas,
Cidade por que me apaixonei e beijei,
Recebendo o abraço das suas colinas.

Colinas sete que eu adorava desfrutar,
Quando ao castelo subia pra espraiar
Meu olhar pelo casario até ao Rossio,
E a minha vista se perder no seu rio.

Era uma certa Lisboa, muito diferente,
Da Lisboa D'hoje, da verdade ausente,
Tornou-se cosmopolita, sua perdição,
Deixou de ser Lisboa do meu coração.

Uma certa Lisboa como a de antanho,
Deixou de existir, tem maior tamanho,
Invadiu o Tejo, poluiu o ar e as águas,
Deixou-me triste, com muitas mágoas.

Uma certa Lisboa passou ao turismo,
Deixou de ser a Lisboa dos pregões,
Dos fados e das guitarrada, um hino
Ao passado que foi de má fé invadido.

Uma certa Lisboa que eu adolescente,
Tomei nos meus braços e me seduziu,
Jamais olvidarei seus beijos ardentes,
Que trocávamos com amor e carinho.

Ruy Serrano - 13.03.2017


A CANOA

CRÓNICA LENDÁRIA

A canoa é uma pequena embarcação africana, preferencialmente utilizada na pesca artesanal, em águas muito próximas da costa. É de construção rudimentar pelo escavar de um tronco, de madeira exótica leve e resistente. A canoa tem tradição em toda a Costa africana, referindo-me, muito particularmente ao reino do N´Goio, hoje conhecido por Cabinda, onde surgiu uma lenda que nos sensibiliza pela sua origem e significado.
Em tempos muito recuados, de há séculos, os povos africanos estavam muito virados para o interior dos seus territórios e do próprio continente, onde se abasteciam dos seus bens alimentares, consumindo particularmente caça, tubérculos e fruta, além das pequenas culturas das suas lavras. Não tinham, portanto, uma relação muito aberta com o mar.
No reino do N´Goio, certo dia, uma mulher casada, de nome Micaela, cometeu adultério. Reuniu o conselho da aldeia e o soba (chefe supremo da aldeia) resolveu puni-la, mandando atá-la a um tronco de madeira flutuante, e abandonando-a no mar largo, fora da baía. O homem, com quem ela cometeu o delito, desapareceu e nunca mais foi visto.
Passados largos meses, Micaela apareceu na baía dentro do mesmo tronco, em forma de canoa e a remar. O facto foi tomado por todos como vontade dos Deuses que, para além de a terem salvo, puseram nas mãos daquela gente um instrumento que poderia introduzi-los na pesca. O soba voltou a reunir o conselho e resolveu perdoar Micaela e o seu amante. Uma dúvida no entanto ficou no ar: não teria sido o amante que teve a ideia de cavar o tronco e entregar o remo a Micaela para se salvar? Dele nunca mais houve notícia. Para perpetuar o nome “canoa”, o soba ditou que a partir daquele momento a baía passasse a chamar-se “Baía das Almadias”. O navegador Ruy de Sousa ao aportar ali com as naus portuguesas, pela primeira vez, em 1491, ficou surpreendido com o número elevado de canoas (almadias) que navegavam na baía.  
Desde então, o povo do N´Goio e todos os outros limítrofes passaram a construir as suas canoas e a dedicar-se à faina piscatória.

Os cabindeses tornaram-se uns pescadores exímios, o que representou uma mais-valia importante, pois passaram a fornecer peixe aos barcos que demandavam a costa de Cabinda para se abastecerem também de frutas e água, além de fazerem permuta de outros produtos coloniais por bens de consumo europeus.

Ruy Serrano – 13.03.2017


quarta-feira, 8 de março de 2017

MULHER

SENDO O DIA DE HOJE, O DIA INTERNACIONAL DA MULHER, PRESTO A MERECIDA HOMENAGEM ATRAVÉS DESTE POEMA

MULHER

És Rainha do Mundo, és diferente em tudo,
Tu existes para dominares o homem,
Que sem ti não seria nada.
Irradias beleza e tens virtudes,
Teus olhos, teu cabelo, teu rosto, teu corpo,
São o que de mais perfeito Deus criou,
E que o Homem mais desejou.

És companheira inseparável e dedicada,
Mãe afeiçoada e confidente,
És a timoneira do lar, no meio da tempestade,
Segues o rumo mais indicado,
Levas o barco a bom porto,
Salvas a tripulação de naufrágio.

O Mundo sem ti, não faria sentido,
O Homem ainda mais se odiaria,
Tornar-se-ia animal selvagem,
Andaria errante pelo Mundo,
À tua busca, ansiando por te encontrar,
Logrado, acabaria por desesperar.

Ruy Serrano  - 08.03.2017

domingo, 5 de março de 2017

TOMAR O LADO BOM E O LADO MAU

É sempre difícil falar de Tomar pelo muito respeito que me merece. Todavia é por esse respeito que lhe devo, que me acho com o a obrigação e o direito de exteriorizar o que sinto pelo pulsar da nossa cidade.
Como todos os centros urbanos, Tomar tem o seu lado bom e o seu lado mau. Do lado bom estão os cidadãos anciãos e os poucos seniores e jovens mais atentos às realidades de Tomar; as tradições e costumes; a gastronomia; os monumentos e todo o património histórico, etc. Do lado mau, estão os cidadãos sem motivações e ambições; os bem instalados, mas dependentes; os jovens e os seniores desinteressados no evoluir positivo da sua cidade; o abandono da cidade por parte das entidades, sobretudo da autarquia; as promessas não cumpridas; o consumismo em detrimento do investimento; o abandono notório e escandaloso da economia citadina, com o encerramento de muitas superfícies comerciais e unidades industriais.
Do lado bom, são os anciãos que têm maior disponibilidade de espírito de participação com os seus artigos de opinião sempre oportunos acerca das realidades com que se confronta a nossa cidade.
Do lado mau, é a constatação da ausência da maior parte dos seniores e da totalidade dos jovens da vida social citadina, ao deixarem de pugnar pelos verdadeiros valores na construção de um futuro mais promissor para si e suas futuras famílias. Antes pelo contrário, a sua maior predisposição é para se entregarem a uma vida fútil, de diversão, artificial e sem ambições.
Enquanto permanecer o lado mau de Tomar, jamais haverá progresso, antes sim retrocesso, num grau assustadoramente crescente, sem reversão à vista. Apenas lamento que o meu contributo se resuma apenas a um ou outro artigo de opinião que já se torna fastidioso tanto para mim como para os eventuais leitores.

Ruy Serrano - 06.03.2017