quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

ÁRVORES NUAS FOLHAS SECAS

 

Tenho pena das árvores do meu bairro,

Ficaram despidas sem as suas folhas

Secas que caíram e foram com o vento

Para longe, fugindo ao ardor do orvalho.


Pobres árvores, inocentes e sem mácula,

Foram vítimas do outono que as agrediu

E as deixou nuas, à mercê do mau tempo,

Que se fez sentir, cobarde e sem lei, fugiu.


Os passarinhos perderam os seus ninhos,

Migraram para paragens bem mais longe

Muito a sul onde o tempo é bem quente,

O frio e granizo não chega nem se sente,


Os plátanos riem-se e gozam o panorama,

Por manterem a sua folhagem bem verde,

Acham-se a elite da natureza, com chama

Que não se apaga, embalados numa rede.


A natureza é assim caprichosa e ardilosa,

Usa do seu poder sobrenatural e faz mal

A quem se intromete no seu forte reduto,

Criando um profundo e perfeito aqueduto.


Ruy Serrano - 17.02.2021





terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CONFISSÃO

 Eu me confesso, sou pecador,
É tarde, já não há retrocesso,
Vivo com este pesar e tal dor,
Que me criou grande abcesso.

Abcesso que cresceu sem cura,
Ando há muito nesta aventura,
Queria mudar de vida, é tarde,
Tenho sido um grande cobarde.

Cobarde queria eu deixar de ser,
É uma vergonha porque passo,
Futuro perigoso tenho a temer,
É um temível e cruel percalço.

Percalço que não posso evitar,
Embora eu tente ainda afastar,
O futuro dirá o que devo fazer,
Para com consciência morrer.

Ruy Serrano - 16.02.2021







segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

SOFRIMENTO INDOLOR

Tenho rugas no meu rosto,

Agulhas no meu coração,

Os meus olhos ofuscados

Com os nossos pecados.


Pecados que não perdoo,

Por serem muito graves,

Guardo comigo as chaves

Para eu evitar teu suborno.


Suborno que fica mui caro,

Não há dinheiro que pague,

Ficar afogado num charco,

Sem futuro, feito num traste.


Traste e sem nenhum futuro,

Apesar de ser mais maduro,

Nāo há milagre que resolva,

Sinto-me preso a uma corda.


Corda que não sei desapertar,

Sofro com este longo penar,

Não tenho solução, é grave,

Estou hirto como uma trave.


Trave que sustenta meu lar,

Receio que possa desabar,

Ficando ferido para sempre,

E passar a ser um demente.


Demente é doloroso e cruel,

Ficaria com mau sabor a fel.

Terei de usar de habilidade,

Pra evitar tamanha maldade.


Ruy Serrano - 01.02.2021