terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

ENCONTROS E DESENCONTROS

É dia do passamento dum familiar,
Todos se reúnem para a despedida,
Maneira tão peculiar que é usada,
Pra lhe prestar a justa homenagem.

Saem da gaveta os fantasmas,
Revivem-se momentos antigos,
Lamenta-se os mortos fugidos 
Deste Mundo, por desistência.

Comenta-se o seu difícil viver,
O modo estranho de morrer,
De repente sem se despedir,
Tudo o que andou a encobrir.

São encontros e desencontros
De vidas trocadas pelo futuro,
Do que ontem já é esquecido,
Por ter sido paraíso perdido.

Pintam-se paredes de negro,
Para tapar as faces tristes
Dos desiludidos dessa ilusão
De viverem como um vulcão.

Já não há esperança, esmorece
A vontade de viver de projectos
Que não passam de intenções,
E causam danos e descrença.

São encontros e desencontros 
Sem história e sem fim, o final
De muitos capítulos vividos,
De ilusões e meros projectos.


Ruy Serrano - 28.02.2018

domingo, 25 de fevereiro de 2018

VIAGEM SEM FIM

Poema dedicado à minha terra Natal.

Viajo na solidão do espaço.
Para te alcançar, tão longe
Estás presente todos dias,
No meu dorido coração.

És a terra que me assistiu
No parto da minha mãe, 
Dia que tanto me marcou 
E me deu tanta satisfação.

Não há sol, nem céu azul,
Nuvens cinzentas surgem,
Tapam o horizonte, negro,
Pastel do quadro de África.

Viajo na solidão do espaço,
A viagem não mais tem fim,
Sensação de não sair daqui,
Pena minha de não chegar.

Vai ser adiado o meu regresso,
A vida sofrerá um retrocesso,
Não consigo inverter o sentido
Da nave que me trás de volta.


Ruy Serrano - 26.02.2018

sábado, 24 de fevereiro de 2018

SOU INTEMPORAL

Venho doutro tempo, sou do actual,
Serei também, do futuro, maduro,
Vivo bem com o tempo, meu amigo,
Está sempre em todo o lado comigo.

Fiz um acordo com o meu tempo,
De o respeitar como bom mentor,
Para me ensinar a viver com amor,
E não entrar assim em  sofrimento.

Sou intemporal, homem do tempo,
Vivi intensamente até o presente,
Passei por muitas tempestades,
De confrontações e dificuldades.

Como intemporal que sou, resisto
À erosão do tempo que provoca
Irreversíveis danos aos homens,
Que se tornam uns lobisomens.

Sou intemporal, assim me tornei,
Desde que me foi imposta a lei,
Que rege a minha própria vida,
Exigindo tudo que jamais queria.

Sou intemporal mas não imortal,
Deus não permite viver os anos
Que eu queria viver no planeta,
Afinal a vida é uma grande treta.

Ruy Serrano - 24.02.2018



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

GOSTAVA DE TE TER...


Gostava de te ter debaixo dos meus lençóis,
Acariciar-te os teus peitos arfantes,
Tocar a tua pele de cetim,
Sentir um frenesim.

Gostava de te ter debaixo dos meus lençóis,
Respirar os cheiros do teu corpo,
Abraçar-te com tal fervor,
Com todo o amor.

Gostava de te ter debaixo dos meus lençóis,
Mexer nos teus compridos cabelos,
Enrola-los nos meus dedos,
Perder os meus medos.

Gostava de te ter debaixo dos meus lençóis,
Viajar pelas nuvens num passeio contigo,
Em sonhos, colado ao teu corpo,
Para não me sentir morto.

Gostava de te ter debaixo dos meus lençóis,
No momento final da minha existência,
Ter a tua companhia, bem perto,
Para conquistar o céu aberto.

Ruy Serrano – 23.02.2018

A VIDA ACONTECE

A vida acontece naturalmente, 
Agarrou-se a mim, com amor,
Vive comigo há imenso tempo,
Trata-me com muito respeito.

A vida acontece todos os dias,
Com bons e maus momentos,
Aprisiona-me ao seu capricho,
Convence-me que é o destino.

A vida acontece, é tão natural,
Que se a afastar, será anormal,
Jamais quero contrariar a vida,
Ela me pode transmitir magia.

A vida acontece, desde criança,
Fez de mim homem de carácter,
Incutiu-me amor e a esperança,
Vivendo de sonhos e projectos,

A vida acontece, devo-lhe muito
Do que sou e que me sucedeu,
Rendi-me à vida, sou seu amigo,
Sou fiel como é sempre exigido.


Ruy Serrano - 23.02.2018

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BEIJOS DOCES E AMARGOS

Já saboreei beijos doces e amargos,
Enganado fui pelos beijos recebidos,
Foram diversos os beijos chegados,
Os beijos doces, os mais queridos.

Com tantos beijos aprendi a beijar,
Tanto como foi o princípio de amar,
Hoje já não aceito qualquer beijo,
Só aceito os beijos que eu desejo.

Há beijos doces e amargos, o difícil
É eu avaliar os teus melhores beijos,
Quanto mais eu escolho, maior será
A surpresa, não penso que é maná.

Não é fácil distinguir beijos amargos
Dos doces, estes são assaz meigos,
Os amargos são sempre traiçoeiros.
Os beijos doces, os mais disputados.

Os beijos doces sabem sempre a mel,
Os amargos, mau grado, sabem a fel,
Ficarei assim com os beijos doces,
Os amargos vou ignorar que existem.

Vou lançar os beijos amargos ao mar
Para se juntar ao sal que os levará
Para longe, ficando os beijos doces,
Para eu satisfazer os meus prazeres. 

Ruy Serrano - 19.02.2018


DÓI E NÃO SE SENTE

Esta dor que sei que existe
Mas que não sinto a doer,
É o meu sentir que insiste,
Em me fazer assim sofrer.

Dor que dói e não se sente,
É qualquer coisa diferente,
Do que realmente se vive,
Que é sempre muito triste.

Sei que dói mas não sinto,
Por muito tempo pressinto
Que vai durar esta má dor,
Enquanto sofrer de amor.

Não há amor que resista
A tal dor que tanto me dói,
Nem um beijo pode valer,
Quando é grande o sofrer.

Deixo a dor livre, à vontade
Para ela não me fazer doer
Mais do que me tem feito,
Vingança de amor desfeito.


Ruy Serrano - 19.02.2018

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O SINO DA IGREJA DA ALDEIA

Mais uma vez toca o sino da igreja,
A população fica assim a saber,
Que mais uma alma emigrou
Deixando de vez a aldeia.

Foi o senhor Francisco que se finou,
Sem dizer porque nos deixou,
Terá sido uma má doença,
É dor a sua ausência.

Volta o sino a tocar, com persistência,
Desta vez o motivo é diferente,
É o enlace da Catarina
Uma linda menina.

Em vez de funeral há festa no arraial,
Toda a gente da minha aldeia,
Se diverte com única ideia,
De afastar qualquer mal.

Desta vez o sino toca forte sem parar,
Avisando dum incêndio a lavrar,
Nas encostas das serras,
Restarão só misérias.

Acodem os aldeões com muita água,
São impotentes para combater,
Tão grandes chamas,
É um longo sofrer.

Finalmente os sinos voltam a tocar,
Na procissão de Nossa Senhora,
Pelas graças do seu amar,
Ao pôr termo às chamas.


Ruy Serrano - 18.02.2018

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

URBANOS E RURAIS

Crónica

Duas realidades completamente diferentes e antagónicas. Os urbanos vivem espartilhados entre paredes enquanto os rurais vivem livres e ligados à natureza e ao seu habitat. Os urbanos acham-se com privilégios de que os urbanos não podem compartilhar. Assim, as leis são produzidas para favorecer os interesses urbanos, beneficiando dos principais investimentos. Na ruralidade muito pouco é investido, nem incentivado o seu desenvolvimento. Devido a esta dualidade de critérios cada vez é maior o fosso que separa as cidades do campo. Em Portugal este fenómeno é real e em sentido ascendente e o País cada vez mais desorganizado. Como consequência o desenvolvimento uniforme e homogéneo do território deixa de existir, tornando Portugal cada vez mais dependente das ajudas externas.
Estes compromissos custam ao País juros elevados que agravam cada vez mais as tranches a pagar no custo e no tempo. Esta situação tem campo fértil na globalização de que beneficiam os países envolvidos, enquanto Portugal dificilmente retomará a sua neutralidade e normalidade desejadas.

Ruy Serrano
Escritor

14.02.2018

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

PORQUÊ AMAR.?!!!

Se me trás tanto sofrimento,
Porque hei-de amar tanto,
Que deixo de ser santo,
E sofro com este tormento.

Porquê amar perdidamente,
Se não recebo nada em troca,
Apenas um amargo desalento,
Que tanto assim me toca.

Tento deixar de amar,
Não consigo, minha sorte,
O amor é mais forte,
Nunca mais o vou deixar.

O amor tantas vezes me enganou,
Que eu cada vez mais amei,
Não sei porque não o deixei,
Destroçado, assim me deixou.

Porquê amar, pergunto eu,
Nem o amor me responde,
Acha que nunca recebeu,
O que lhe devia em troca.


Ruy Serrano - 13.02.2018

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

ESTAS COISAS DA VIDA

Tudo o que me acontece na vida
É inevitável, é a minha sina,
São coisas da vida que acontecem
E com o tempo desvanecem.

Nāo queria que tivessem acontecido,
Nāo é que esteja arrependido,
É apenas achar que fui injustiçado
Por não me achar culpado.

Estas coisas da vida, boas e más,
São tempêros da minha vida,
Que fazem falta para eu suportar
As amarguras do meu amar.

Estas coisas da vida fazem falta,
Não saberia viver sem elas,
Brincadeiras com a minha malta 
Quando havia escapadelas.

Tenho saudades das coisas da vida,
Vivi com elas como amigas,
Andei de braço dado com as coisas
Que me ofereceram magias.

Estas coisas da vida são inevitáveis,
Nasceram e vivem comigo,
Vão morrer quando se cansarem.
Sem elas ficarei sozinho.

Ruy Serrano - 12.02.2018



sábado, 10 de fevereiro de 2018

AVENTUREIRO


Sou um aventureiro,
Ando por este Mundo,
Em busca do vespeiro
Do que é vil e absurdo.

Vesti a minha couraça,
Pra do pior me proteger,
Nenhum mal quero sofrer,
Não aceito uma mordaça.

Sou um aventureiro,
Irei percorrer oceanos
E mares já navegados,
Por nossos marinheiros.

Espero dobrar o Equador
Para retornar à minha terra,
E rever tudo que lá deixara,
Em momentos de mui temor.

Vesti-me de aventureiro,
Para passar disfarçado
E não vir a ser caçado
Numa qualquer ratoeira.

Ruy Serrano – 10.02.2018



domingo, 4 de fevereiro de 2018

A FORÇA DO AMOR


Sinto-me atraído pela força do amor,
É tão forte que não lhe resisto,
Não sei dizer-lhe que não,
Toca o meu coração.

Com o amor sou mais feliz e seguro,
Sei amar a vida doutro modo,
Estou agora mais maduro,
Do amor sou devoto.

Enquanto viver saberei amar a sério,
Como Jesus me pediu ao nascer,
Não serei nunca um galdério,
Nem que tenha de sofrer.

Com o amor escrevo minha bela poesia,
Que dedico aos meus amigos, 
Tenho a vida como amiga,
E família de queridos.

Espalharei o amor que tiver de sobra,
Não odiarei a minha sogra,
Viverei a dar atenção,
Com dedicação.

Amarei os meus inimigos como amigos,
Quero que se convertam
Para que ainda sejam
Pessoas de bem.


Ruy Serrano - 05.02.2018