terça-feira, 29 de junho de 2021

POR TERRAS MOVEDIÇAS

Andei por lugares ermos e perigosos,

Pisei terra movediça e mui traiçoeira,

Não me moveu motivos satisfatórios,

Por recear ser vítima duma ratoeira.


Ratoeira que por sorte não funcionou,

No momento derradeiro ela emperrou,

Escapei por um triz de ficar mui ferido,

Quem ficou na ratoeira foi o inimigo.


Inimigo que desistiu de me prejudicar,

Por algum engenho e arte lhe faltar,

Nem para ferreiro ou sapateiro servia,

Um inútil que nenhum bem merecia.


Merecia outro destino, um precipício 

Onde caísse para sumir para sempre,

Tal era a sua inutilidade e desperdício 

Que se tornou um indivíduo demente.


Demente passou a ser toda a sua vida,

Ser errante por fim sem eira nem beira,

Deixou pois de ser quem mais temia,

Nem pra espantalho de feira ele servia.


Ruy Serrano - 30.06.2021


sábado, 5 de junho de 2021

SOFRIMENTO

CONTRADIÇÕES  


Eu queria desgostar mas gosto,

Queria esquecer mas recordo,

Queria saborear, não tenho sabor,

Queria amar mas já não amo,

Queria à minha terra regressar 

Mas tão depressa não regresso,

Queria voltar a ser uma criança,

Mas não tenho bibe, é lembrança,

Queria através do Mundo viajar,

Nāo tenho dinheiro para pagar 

Queria saber perdoar a alguém,

Dúvida a minha, não sei aquém,

Queria regressar à minha terra,

Nāo sei é de quem me espera,

Queria escrever por mais tempo

Poesia e crónicas, peço talento,

Por fim queria mudar o Mundo 

Não passa de desejo profundo.


Ruy Serrano - 06.06.2021

quinta-feira, 3 de junho de 2021

ARCO ÍRIS: PREGÕES DE LISBOA

ARCO ÍRIS: PREGÕES DE LISBOA: Os pregões soltavam-se das vozes das varinas. Corriam as ruas de Lisboa, Velozes e barulhentos, Andavam à toa. Assomavam às varandas e ...

quarta-feira, 2 de junho de 2021

AS MINHAS PERNAS


Tenho vaidade nas minhas pernas,

O seu comportamento é exemplar,

Toda  a minha vida sempre a andar,

Sāo o meu orgulho, amigas eternas,


Em criança abusei das minhas pernas,

Saltava, corria, jogava à bola. pulava,

Ia e vinha da escola bem longe a pé,

Caneladas sofreram bastante severas.


Mais tarde, trabalhei bastante em pé

Na praia, a fazer jangadas e a correr,

Na roça a assistir ao derrube do mato,

Nunca elas se renderam ao fracasso.


Em Portugal só andava a pé, bem cara 

Era a vida para suportar os transportes,

Da Penha de França ao Castelo S. Jorge

E à baixa, tudo calcorreava sem cortes.


Ainda em Portugal depois do 25 Abril,

Para trabalhar muito eu tinha de andar.

Precisava de ganhar a vida tão difícil,

Não fossem as pernas seria impossível.


Tenho orgulho nas minhas boas pernas,

Meu melhor meio de locomoção, veras

Minhas companheiras de vida, sempre

Ao meu lado, com a força de serpente,


Também cuido delas com bons cremes 

E massagens. descansando bastas vezes 

Para as revigorar e ficarem disponíveis,

Para novas  caminhas imprescindíveis.


Ruy Serrano - 03.06.2021