segunda-feira, 24 de agosto de 2020

BRUMAS DA MEMÓRIA

Fui buscar às brumas da minha memória 

O que guardei daquelas terras de história

Escrita com o meu suor nos dias tórridos,

Em que ia com meus amigos aos tordos.


Tempos de maldade inocente de miúdos 

Que passavam seu tempo a se divertirem

Sem olharem de que modo e com quem,

Por se julgarem assim homens e alguém.


As brumas da memória não são já claras,

Mas ainda guardam as gemas dos ovos

Que se partiram por brincadeira, as taras

Eram tantas que até produziam gemadas.


Nos rios de águas correntes e cristalinas,

Mergulhava e nadava como as sardinhas 

Que fugiam para não serem capturadas

E sobre carvão em brasa serem assadas. 


Velhos tempos, bons momentos, brumas 

Que se desfizeram com o tempo passado,

Por outros capturado e muito mal tratado,

E tudo se diluiu como marés de espumas.


Ruy Serrano - 24.08.2020


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

VIDAS CRUZADAS

Neste labirinto da vida, cruzam-se vidas,

Jamais se conhecem e trocam palavras,

São vidas moucas e cegas, desmedidas,

Cabeças ocas, resistentes a marteladas. 


Vidas cruzadas são tantas e sem futuro,

Que os homens de amanhã desconfiam

Se terão alguma hipótese, fruto maduro

Que acabará por cair no chão algum dia.


Passam umas pelas outras e ignoram

Sua existência, são egoístas, pensam

Apenas em si e nunca na comunidade,

É um grande disparate, triste realidade.


Continuam as vidas a circular em falso,

Sem um destino previsto, ao Deus dará,

Confiadas na sorte que nunca chegará,

O tempo que lhes resta está esgotado.


Vidas cruzadas sāo para banir da vida,

Só lhes interessa pois viver o dia a dia,

Estão fartas de viver bastante isoladas,

Não querem nunca ser vidas cruzadas.


Ruy Serrano - 21.08.2020


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

PERDI O MEU SORRISO

Não sei qual o motivo

Porque perdi o meu sorriso,

Só sei que ao me ver ao espelho,

Não é em mim que me revejo.


Tinha um tão belo sorriso,

Que as moças eu cativava,

Sentia prazer em sorrir,

Para o meu ser descobrir.


Não sei o que aconteceu,

Que o meu sorriso feneceu,

Hoje o meu sorriso é amargo,

Sabe-me a fel, tem mau travo.


Tento às vezes um novo sorriso,

Vejo que sorrir não consigo,

A vida carregou o meu semblante,

É para mim um total desencanto.


Não sei quando voltarei a sorrir 

Como nos velhos tempos,IR

São tantos os contratempos,

Que outro sorriso vou descobrir.


E a sorrir fecho estes versos,

Para me sentir compensado,

E continuar bem inspirado

Sorrindo com olhos ternos.


Ruy Serrano - 20.08.2020



domingo, 16 de agosto de 2020

ALMA IRREQUIETA

Sinto minha alma irrequieta,

Não sei porquê nem de quê,

Só sei que ela não sossega,

É como se fosse uma vela.


Vela de chama acesa viva,

Arde dentro do meu peito,

Não se apaga ao meio dia,

Continua acesa a seu jeito.


Jeito que apanhou de noite,

Ao ficar acesa tanto tempo,

Foi tomada por vil cansaço,

Passou a um couto pedaço.


Pedaço de vela passou a ser,

Teve vida curta, já não dá luz,

Acabou por fim por morrer,

Sua chama não mais reluz.


Alma inquieta que não dorme,

Está desperta por boa causa,

Não me quer pois abandonar,

Ferida má que temo não sarar.


Ruy Serrano - 18.08.2020


domingo, 9 de agosto de 2020

OITO QUADRAS SOLTAS

Nada é meu, nada me pertence,

Só me tenho a mim próprio,

Sigo sempre em frente,

Sou bastante sóbrio.


É uma ilusão pensar que temos

Quando não é nada nosso,

O que mais queremos,

É ser muito devoto.


Enquanto o sol não desaparece,

Eu lhe rogo uma prece,

Para me aquecer,

Até eu morrer.


A lua cheia quer competir com o sol,

Dando-me luz durante a noite,

Cobrindo-me com o lençol

Para não ouvir o coiote.


Não guardo rancores nem vinganças,

Sou pessoa de boas esperanças,

Desde que seja respeitado

Por mim tão desejado.


Vou roubar-te um beijo tão disputado,

Esperando ser por ti perdoado,

Beijo tão doce e meigo,

Meu melhor ensejo.


És o ultimo amor da minha longa vida,

Não vou a tempo de ter outro,

Os anos já dão para o torto,

Não é o que eu merecia.


Ruy Serrano - 09.08.2020