terça-feira, 30 de novembro de 2021

FARPAS


Lançaram farpas para me ferir,

Eu desviei-me e se perderam,

Consegui assim das impedir.

Tais cruéis farpas  morreram.


Nāo desistiram, outras farpas 

Me lançaram, sem resultado,

Passaram então ao meu lado,

E se perderam nas escarpas.


As farpas já não têm acção.

Perderam força, tão fracas

Se tornaram que já não são 

O terror que eram as farpas.


Farpas são farpas, passaram 

De uso, a missão fracassaram,

Vivemos mais seguros agora,

Por ter chegado a nossa hora.


Ruy Serrano - 30.11.2021







domingo, 28 de novembro de 2021

MÁGOAS


Estas mágoas que me atormentam, 

Sāo de saudade e de ausência 

Sāo da minha impotência

Nāo me sustentam.


Vivo entre a dúvida e uma certeza,

Que nāo me dá confiança,

Resta-me a esperança

De usar de frieza.


São tantas as mágoas geradas

Que provocaram lágrimas 

Amargas e salgadas 

Mal amadas.


Saltitam as lágrimas nos olhos

Como pingos de chuva

A cair aos molhos,

Na face suja.


As mágoas fazem parte deste penar

Que não consigo desprezar,

Por serem rebeldes

E muito reles.


Ruy Serrano - 28.11.2021


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

MÁ FORTUNA…


Má fortuna a minha, sofrer este exílio

Infindo, sem culpa formada, invenção 

Forjada para me manterem afastado 

Por muito tempo, sem ser julgado.


O tempo se encarregará de denunciar

Esta calúnia que me feriu duro golpe,

Para a verdade se conhecer um dia 

Minha má fortuna, minha cruel sorte.


Muita gente, tanta gente se entrega

A este tipo de calúnias que nos fere

Como um cutelo, tal uma vil megera

Que lança seu veneno e se hiberna.


Um dia a verdade vira à tona da vida

Antes da minha partida para o etéreo,

Será tanta coisa deveras esclarecida 

À beira da cova dum certo cemitério.


Já Camões se queixava da má fortuna

Que teve com seus amores frustrados,

Com donzelas presumidas de virgens

Que não passavam de meras vertigens.


Esta má fortuna terá o seu breve fim,

Não havendo mal que assim perdure,

Por ser feita a devida e certa justiça,

Como vencedor duma disputada liça.


Ruy Serrano - 22.11.2021





sexta-feira, 19 de novembro de 2021

IMAGEM VIVA



Guardo comigo a tua viva imagem

De uma deusa do amor, bela flor

Que colhi no meu jardim, em dia

De sol brilhante que se refletia 

No teu corpo roliço e provocante.


És uma visão deste e outro mundo,

Ofuscas tudo que te rodeia, brilho

E encanto dos teus olhos, confesso 

Que fiquei preso a ti, como abcesso

Que criei sem cura, com teu sorriso.


A tua silhueta é a candura da terra

Que te viu nascer num dia brando

De amena temperatura, a quimera

Do tempo real que nāo é engano,

Nem uma simples ilusão de ficção.


Essa memória está bem presente,

Não se perdeu no tempo passado,

No chão fértil germinou a semente

Que produziu fruto bem acabado,

Numa época que não era de seca.


Ruy Serrano - 19.11.2021



 



sábado, 13 de novembro de 2021

MUNDO CORROMPIDO



Neste mundo corrompido  e traiçoeiro,

Sinto-me no meio dum cruel vespeiro,

Em que sou picado a todo o instante,

Não conseguindo ficar dele distante.


Gente que não é gente, é profissional

Dos ataques maliciosos aos incautos 

Que são apanhados neste pantanal

Da vida, vivida com muitos percalços.


Por todo o lado há confrontos e guerra,

Em que morrem muitos desgraçados

Por não se poderem defender, merda

De vida, expulsos e de vez afastados.


Conflitos gerados pelos ambiciosos 

Que andam obcecados pelos bens 

Alheios, para reverterem em proveito

Pessoal, sem darem às balas o peito.


A confusão tomou uma tal dimensão

Que já não há pro mundo salvação,

Está assim o seu fim pré anunciado,

Será o homem de má índole julgado.


Ruy Serrano - 13.11.2021

terça-feira, 9 de novembro de 2021

POESIA ORFÃ


A poesia está de luto, é orfã do poeta 

Que a alimentou com muitos poemas,

Durante anos, até ao fim da sus recta

Final, com muitos e variados temas.


Ficou a poesia sem rumo, por o poeta

Ter falecido quando estava no apogeu,

E fazia poesia para todos os leitores,

Seus fiéis e os principais admiradores.


Anda a poesia à deriva, não encontra

Ninguém que a queira, todos acham

Que agora não passa de uma montra

Vasia sem versos com alguma chama,


É triste a poesia ser orfã, tão imatura

Ainda era! que não chegou a adulta,

Largo futuro ela teria se a sua vida

Tivesse o poeta como companhia.


O poeta que se finou, ficou tāo triste

Por não ter acabado os seus poemas

Que a poesia reclamava para brilhar 

Com a luz viva, colorida de encantar.


Ruy Serrano - 09.11.2021


 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

TROPICALÍSSIMO


Este sentimento profundo que tenho,

Faz parte da minha natureza tropical,

Durante estes longos anos mantenho

A imagem viva do que era tão natural.


Ter nascido nos trópicos é uma sorte,

Que não pertence a todos, só a gente

Como eu, que sofreu com o desnorte,

Apesar de ser alguém que se ressente 


Tropicalíssimo é como me sinto, quero

Continuar a sê-lo enquanto ainda viver,

A ninguém eu na realidade considero

Ter o direito de tropical pretender ser.


De tropical herdei eu muitos atributos,

Os hábitos, os costumes e os sabores,

A amizade, o carinho e saber respeitar

O idoso, com o seu exemplo de amar.


Apesar de viver bem longe do trópico

Que me viu nascer a algumas décadas, 

Mantenho as características herdadas

E me foram transmitidas por profetas.


Ruy Serrano - 08.11.2021



sexta-feira, 5 de novembro de 2021

LISBOA MEU AMOR


Tenho de ti mil ciúmes, trocaste o meu amor,

Por estrangeiros e aventureiros, sem valor,

Cobriste o céu de nuvens que te levou a luz,

Tudo em ti é centenário, tens o que me seduz.


Tuas colinas, miradouros, ruelas e encostas

Sāo o teu encanto quando enfim adormeces

Depois dos fados se fazerem ouvir por vozes

Do Marceneiro e Amalia nos retiros típicos.


Até o Tejo tu ignoras, o melhor companheiro 

Que tu sempre tiveste, quando tua paixão

Passou a um amor incondicional, o primeiro,

Que tiveste na tua vida de alma e coração.


Por ti também me enamorei, na juventude 

Que contigo passei, quando eu estudava 

Nos anos cinquenta, na tua bela quietude

E sem te confessar o quanto te adorava.


Enfim, depois da tua traição, te perdoo,

Desde que me recebas carinhosamente,

Quando voltar ao teu colo e finalmente

Eu deixar de ser cego e um mero parolo.


Lisboa, Lisboa, faz ouvir os teus pregões

Que animam os teus bairros e dão vida

Aos teus utentes, grita com teus pulmões

Coisas saborosas que são tua mais valia.


Ruy Serrano - 05.11.2021


O QUE EU FUI E JÁ NÃO SOU


Triste realidade da minha vida sofrida 

Que na idade jovem era bem libertina,

E que hoje está manietada pela idade

Que me condiciona, de pura fealdade.


Em jovem as vistas largas e projectos 

Eram a minha obsessão permanente,

Afoito e muito crente do meu sucesso

Ia à luta com coragem, sem insucesso.


Raramente perdia, seguro eu estava 

Do êxito das minhas veras hipóteses

Para isso não desistia e muito lutava 

Não era incomodado pelas atrozes.


Hoje tudo mudou já não me reconheço,

Sou outro, o inverso do que era dantes,

Sou aprendiz desta vida, sem sucesso,

As metas a atingir estão mui distantes.


Tudo me custa a fazer, é por obrigação

Que me esforço para levar por diante,

A minha epopeia cruel, pura maldição 

Que me martiriza a todo cruel instante.


A minha tábua de salvação é a escrita,

Que foi benção que então  me chegou,

Com inspiração para escrever poesia

E crónicas, minha riqueza e mais valia.


Sou outro, não tenho dúvidas, agora

Reaprendo tudo, com forte vontade 

De vencer, pra isso não perco a hora,

Contando de todos alguma bondade.


Rui Serrano - 05.11.2021