quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

POUPANÇAS DESPROTEGIDAS

( Publicado )

Prudêncio é um meu amigo de longa data. Reformou-se há sete anos da sua actividade liberal que exerceu intensamente durante 55 anos. Hoje, ao completar 72 anos, Prudêncio está desencantado e desiludido com a sua estabilidade e sobrevivência, pois, além da sua pensão ser muito abaixo do salário mínimo, as suas fracas poupanças não lhe garantem remuneração acima da inflação.

Em jeito de desabafo, Prudêncio contou-me que, aos 58 anos, determinada instituição bancária o aliciou a constituir um complemento de reforma, com a promessa de que, quando se reformasse aos 65 anos, ficaria com uma pensão vitalícia atraente. Prudêncio aderiu à proposta do seu banco e chegada a idade de reforma solicitou para que lhe fosse estabelecida a sua pensão vitalícia. Esta foi-lhe calculada na base de expectativa de vida por mais 20 anos, pelo que o valor da pensão diluída no tempo previsível de vida seria insignificante, além do Prudêncio correr o risco de falecer antes dos 20 anos e o saldo da sua conta reverter para o fundo de pensão.

.Sentindo-se enganado, achou-se, no entanto, novamente motivado a investir as suas parcas poupanças em certificados de Aforro, por achar que as condições de subscrição na modalidade B lhe garantiriam uma remuneração decente, em virtude dos depósitos a prazo para reformados serem remunerados a uma taxa inferior à taxa da inflação. Qual não foi o seu espanto, como é do domínio público, que os C.T.T., por acção do governo, resolveu alterar as condições remuneratórias dos certificados com prejuízo para os aforradores que investiram de boa fé.

O mais decepcionante e chocante para Prudêncio foi deparar-se com a perversão das regras de jogo de ambas as opções, contrariando as cláusulas que inicialmente tinham sido estabelecidas nos respectivos contratos. Entretanto, o meu amigo Prudêncio desesperado e desorientado, resolveu jogar cegamente na Bolsa de Valores, aproveitando a queda dos valores das acções cotadas, na esperança de que, desta vez, venha a ter sorte com a valorização das acções a médio prazo e poder vir a receber também alguns dividendos, desde que estes sejam distribuídos, contrariamente ao procedimento de determinado banco que não o fez com justiça, iludindo os accionistas com a justificação da necessidade do reforço da Provisão de Créditos Incobráveis (para cobrir dívidas que o banco resolveu perdoar a clientes privilegiados).

A história aqui narrada é verdadeira - embora o nome do personagem seja imaginário -, e é igual à de tantos outros milhares de cidadãos que vêm as suas poupanças desprotegidas, com expectativas legítimas defraudadas por regras anti-sociais. A pergunta que se coloca é simples: então, em quem confiar?!!!

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