domingo, 26 de fevereiro de 2017

O ESCLAVAGISTA, O COLONO, O COLONIALISTA E O GLOBALISTA

     Antes de me debruçar sobre a explanação do presente tema, passo a esclarecer porquê e             como achei necessidade de o fazer. No momento actual da conjuntura mundial, como                 cidadão responsável e sentindo-me aríete do sistema instituído, recorri à minha própria               memória e vivência e à memória tradicional que me foi transmitida por meu pai e por                 anciãos       Assim, passo a referir-me a cada um dos personagens do tema em questão, que         tiveram e t            manifesta influência no relacionamento com os povos, hoje países ex-             colonizados:

1 – O Esclavagista pode ser definido como mercador-mercenário, quer por iniciativa própria quer a soldo de países europeus, liderados por Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Portugal, empenhados na exploração da escravatura. Esta era exercida por imposição, em parceria com os régulos do litoral africano, com predominância nas zonas do Equador e dos Trópicos e prolongou-se até finais do século XIX, altura em que a mesma foi abolida. Até aí os entrepostos de mercados de escravos funcionavam no litoral por onde eram canalizados milhares de negros, vindos do interior de África para seguirem rumo a mercados receptores do Brasil e Américas Central e do Norte. Os mercadores-mercenários utilizavam barcos no exercício do seu comércio e eram móveis, fixando-se por curto espaço de tempo apenas nos pontos mais estratégicos. A sua principal moeda de troca de bens de consumo e moeda eram as criaturas humanas seleccionadas pela sua melhor compleição física e boa saúde aparente;
2 – O Colono preencheu o lugar do Esclavagista, numa perspectiva diferente de convivência com os indígenas. Como os vários dicionários definem, Colono é “agricultor, cultivador, cultor e lavrador” e eu acrescento, “permutador”. Depois do apaziguamento das populações, o colono, de um modo geral, oriundo de famílias remediadas e pobres europeias, emigrou, por necessidade, para vários pontos do Globo, mas principalmente para África. A sua acção abrangente, foi exercida no comércio, na indústria, na agricultura e em diversos domínios de profissões liberais. Destaca-se o comércio de permuta, em que o colono, a viver em condições precárias e de privações, trocava bens de consumo ocidentais por produtos coloniais.
Todavia, a sua vida não era tão próspera como o seu trabalho justificava, pois dependia umbilicalmente duma outra figura com poder e posição financeira preponderantes: o “Colonialista”. Esta ligação tinha a cobertura do regime colonial imposto pelo Estado para garantir a perpetuidade da política colonial instituída.
Por esta razão o colono era um vassalo do colonialista, pois este funcionava como regulador e controlador da acção do colono que tinha necessidade de entregar às empresas colonialistas os seus produtos coloniais aos preços por estes fixados. As principais marcas de bens de consumo também eram exclusivas destas empresas que os distribuíam, por rateio e a seu belo prazer, pelos colonos. Estes, por sua vez, desdobravam-se em esforços e começavam o seu dia de trabalho de madrugada para se deslocarem ao interior, por estradas de terra e lama, dificilmente transitáveis, para fazerem as suas permutas. Por outro lado, os colonos tinham difícil acesso ao crédito bancário que dependia de uma única instituição bancária estatal. Também não lhes era reconhecido a eles e seus descendentes o direito a ocuparem lugares públicos, por serem considerados cidadãos de 2ª categoria. Os Colonos foram, a todos os títulos, verdadeiros missionários da civilização ocidental e construtores das actuais nações, sem mais-valias próprias relevantes. Ainda está por escrever a verdadeira história do “Colono”, que, por falta de ousadia ainda não foi feito, estando eu próprio empenhado em fazê-lo, tomando por exemplo a vida real de meu pai, que considero ter sido um Colono Valoroso, como foi reconhecido pelo grau de comendador com que foi distinguido.
3 – Finalmente, temos a figura do Globalista, ligado à Globalização. Esta foi a principal causadora da eliminação da Colonização, para servir os interesses das Superpotências e das Elites africanas do poder. Acabou por absorver resquícios colonialistas (a submissão e a corrupção) e esclavagistas (a traficância de crianças, de órgãos humanos, da prostituição, de estupefacientes, etc.) para reforçar a sua acção minadora das sociedades africanas. Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, “A globalização acarreta um crescente perigo de repercussão a nível mundial de crises regionais”. Na realidade, os Países responsáveis pela Globalização (E.U.A., Rússia, Inglaterra, Alemanha, França, China, Japão, Índia e Brasil) estão a dominar os países economicamente mais frágeis, fazendo sentir os seus efeitos nocivos em África. Aqui, a globalização estendeu os seus tentáculos às explorações mineiras de petróleo, diamantes, etc.) e agrícolas (cana-de-açúcar e palmeiras – óleo de palma). É nesta área que os investidores globalistas, ao serviço dos seus países, mais arriscam, abordando empresas agrícolas e os governos locais africanos para adquirirem o máximo de terrenos aráveis para o cultivo de biocombustíveis, a fim de obterem energias alternativas ao petróleo.

Estima-se que já tenham sido cedidos ou vendidos 5 milhões de hectares em todo o continente africano, uma área correspondente a mais de metade do território de Portugal. Este fenómeno priva a maior parte da população rural de explorar a agricultura, base essencial e ancestral da sua subsistência, fomentando a pobreza e a consequente indignação e protestos. Esta é a minha perspectiva que resulta da comparação entre estas figuras, que precipitará uma crescente assimetria entre o estado económico-financeiro dos países dominantes e os dominados, aumentando os índices de pobreza, das doenças, da iliteracia e inevitavelmente, das ondas migratórias das populações carenciadas, perseguidas e expulsas do seu habitat que deixarão de reunir as condições mínimas para a sua sobrevivência. Portugal é um dos países que mais foi afectado por este fenómeno e que terá dificuldades em se livrar dos tentáculos deste polvo que é a Globalização.

Ruy Serrano – 01.03.2017

      

sábado, 25 de fevereiro de 2017

DEMOCRACIA E PARTIDOCRACIA

Desde o tempo em que eu em África, por ter votado a favor de Humberto Delgado, fui impedido pela PIDE de exercer, em Cabinda, minha terra Natal, funções directivas em organismos de relevante importância, como a Câmara Municipal, o Grémio das Madeiras, a Associação Comercial, o Radio Clube de Cabinda e tantos outros, que prometi a mim mesmo não mais abordar assuntos de natureza política. Todavia, como continuo a ser um cidadão atento aos episódios que se prendem com actos políticos, aproveito a minha disponibilidade para comentar com a minha própria opinião.

Li num blogue sem identificação, a definição perfeita dos dois termos antagónicos.que servem de título a esta crónica. "Em democracia os partidos são instrumentos dos cidadãos", enquanto "Em partidocracia, os cidadãos são instrumentos dos partidos".
De facto, é uma realidade esta interpretação e é por esta circunstância que nunca em Portugal haverá uma política justa e consertada em prol do desenvolvimento do país.
Embora hajam governantes e autarcas eleitos, não representam genuinamente os cidadãos, dado terem sido propostos pelos partidos a todos os cidadãos, sem outra opção de escolha. Enquanto que, se a democracia funcionasse em pleno, seriam os cidadãos que de livre vontade influenciariam os partidos com as suas propostas livres para os diversos lugares elegíveis, contando com cidadãos não comprometidos ideologicamente.
Por outro lado, é recorrente ouvir certos candidatos dizerem que são sensíveis às "pessoas" e não aos "cidadãos". Esquecem-se que "pessoas" é o termo que nos distingue dos animas, enquanto que "cidadãos" é o termo que nos reconhece o exercício da cidadania. E é esta que deve ser levada em conta para enriquecimento da democracia.
Ao aproximarem-se novas eleições autárquicas, já estão a ser esboçadas as listas dos nomes escolhidos pelos partidos para serem postos à votação sem alternativas de opção. Estes candidatos deveriam avançar com as suas propostas de ideias de obras e melhoramentos, sem compromisso, apenas para o eleitorado ficar mais esclarecido.
Pena que assim não seja, deparando-nos com "o mais do mesmo", razão porque a autarquia de Tomar tem deixado os seus eleitores frustrados pela ineficácia das suas gestões consecutivas, apesar da alternância dos partidos na Presidência.
Este fenómeno conta com o beneplácito de certos meios de comunicação que dão cobertura à propaganda eleitoral das listas das suas preferências. E assim ficam de fora cidadãos válidos com preparação técnica e isentos, com grande amor à terra onde residem, que poderia ocupar com êxito lugares chave das autarquias.

Espero que esta minha crónica contribua para uma reflexão dos cidadãos do concelho de Tomar, no sentido de ponderarem o seu sentido de voto no nome da pessoa candidata, abstraindo-se do partido. Saiba que senão votar favorece os maiores partidos, enquanto se votar num partido mesmo pequeno, está a reduzir a votação dos partidos maiores e a aumentar a dos partidos mais pequenos.

Ruy Serrano - 24.02.2017

domingo, 19 de fevereiro de 2017

TOMAR CIDADE OU ALDEIA? ANORMALIDADES CITADINAS

Sou uma pessoa atenta aos acontecimentos citadinos que não me surpreendem, antes confirmam tudo o que penso por antecipação. Tanta coisa acontece fora da normalidade, que encontro dificuldade em interpretar, compreender e aceitar tais acontecimentos.
Começo por me referir a um incidente lamentável relacionado com a poda de árvores na nossa cidade de Tomar. Cito o caso particular da minha rua em que uns quantos funcionários camarários iniciaram a poda de umas três árvores do passeio junto à Escola Santa Maria dos Olivais, deixando por podar mais de uma dezena de árvores daquele passeio e passando para o passeio oposto dos prédios. Aqui, iniciaram a poda da única árvore ali existente, situada a uma vintena de metros do meu prédio. Depois de a podarem até meia altura, acabaram por a cortar pela base. Este facto anormal deixou a maior parte dos residentes desgostosos, por ficarem privados da sombra das folhas que a cobriam na primavera. Não foi dada qualquer explicação sobre esta medida radical, pois a dita árvore ainda este outono tinha perdido uma imensidade de folhas de cores diversas vivas, o que demonstrava estar com bastante vitalidade. Pela própria base se pode verificar que a árvore não estava debilitada nem doente, e que prometia manter-se viva mais umas dezenas de anos para além das quatro dezenas da sua existência. Desconheço o nome desta espécie, constatando apenas que largava alguma resina que incomodava alguns residentes,  proprietários de viaturas que estacionavam sobre o passeio por baixo da arvore para, ironicamente as protegerem do sol intenso do verão.
Outro facto inexplicável é a roda do mouchão situada no rio Nabão estar parada. Poderá alegar-se não ter o rio caudal suficiente nesta época do ano para a movimentar. Todavia, dado que é um ex-libris de Tomar, deveria estudar-se um processo que imprimisse á água a força necessária para a fazer rodar.
Em termos de valores arqueológicos, está por recuperar o fórum romano existente entre a Rua Amorim Rosa e o cemitério municipal que tem um projecto executado em parceria pelo arquitecto Rui Serrano e a Dr.a Professora Salete. Seria um polo de atração de turistas que de visita a    Tomar, teriam interesse em conhecer, tal como acontece em Braga, com um projecto semelhante.
Muito importante seria o arranjo da Várzea Grande, espaço amplo desaproveitado que é a porta de entrada de Tomar, para quem chega de comboio ou camioneta. Este espaço permitiria o estacionamento ordenado de dezenas de viaturas que hoje se amontoam a esmo.

O que mais me impressiona para quem vive ou visita Tomar, é verificar que o complexo da levada, ao longo da Rua Everard, que foi meticulosamente recuperado por um técnico qualificado, então vice-presidente da câmara de Tomar, estar praticamente inaproveitado. Aqui poderia concentrar-se todo o espólio artístico e de memória de Tomar, desde os tempos mais recuados da sua existência que é de cerca de 9 séculos.
Muito mais poderia aqui acrescentar, mas o espaço redatorial não o permite, ficando para outra oportunidade abordar outros casos, como do parque de campismo, do estádio municipal e do bairro improvisado dos ciganos.
Entretanto deixo aqui um desafio aos partidos que concorrerem às próximas  eleições autárquicas de 2017 para incluirem nos seus programas estas propostas de bastante interesse para a nossa cidade.

Ruy Serrano - 20.02.2017

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NAMORADOS E ENAMORADOS PARA SEMPRE

Neste tempo conturbado de incertezas,
A nossa certeza é que seguimos a par,
Durante estes cinquenta e oito anos,
Indiferentes a todos e quaisquer danos.

Momentos bons e maus vividos, passam
Por nós sempre cúmplices, ultrapassados,
Com a nossa união sólida, incontestável,
Que perdurará por toda a vida, inevitável.

Estes anos que passaram foram benditos,
Deram filhos, netos e bisnetos queridos,
Que são a razão da nossa união e prazer,
De mais anos passarmos, é nosso dever.


Usufruir da família e dos prazeres da vida,
São os nossos desejos por muitos mais anos,
Com  muita saúde e a estabilidade merecida,
Para chegarmos ao fim do caminho, unidos.

Ruy Serrano - 14.02.2017



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

EM JEITO DE DESABAFO

Mal cheguei, vou partir,
Não sei para onde,
Não quero ficar onde estou,
Pertenço a outro lugar,
Tenho de o encontrar,
Foi onde tudo ficou.

Perdi o rumo e a rota,
Já não há barcos que me levem
Só há aviões ultra rápidos,
Que atravessam os ares,
Longe dos mares,
Onde não posso viajar.

Já não há aeroportos e cais de embarque
Como os de antigamente,
Em que a família se despedia
Sem saber por quanto tempo,
E as cartas chegavam de mês a mês,
Com notícias atrasadas.

Não posso viajar pelo ar,
Porque a minha bolsa é magra,
Mal dá para a fome matar,
Nem vícios posso ter,
Só jornais para eu ler,
E não morrer ignorante.

Ruy Serrano - 13.02.2017