sábado, 12 de setembro de 2009

CONTABILISTA, PROFISSÃO DE FÉ E DE RISCO


Publicado na "Cidade de Tomar", em 04/09/09

Perante casos frequentes de perdas prematuras de profissionais qualificados da minha classe profissional, não posso remeter-me ao silêncio, quando me apercebo, pela própria vivência e por relatos e desabafos de colegas, que a profissão de contabilista, para além de não ser valorizada, é exercida com muita entrega e fé e elevado grau de pressão e risco.

Estou convicto que muitos dos que se derem ao trabalho de ler esta minha crónica, não a tomem muito a sério, achando que há algum exagero, mas os factos são indesmentíveis na defesa da minha tese. A nossa profissão congrega cerca de 80.000 profissionais, obrigatoriamente membros da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, considerada a maior instituição profissional de Portugal.

Não obstante estarmos protegidos por algumas regalias concedidas pela nossa Câmara, as regras e o rigor deontológico a que estamos sujeitos são bastante exigentes, implicando penalidades, no caso de quaisquer infracções. As nossas responsabilidades já ultrapassaram as puras funções contabilísticas e passaram a abranger a co-responsabilidade com os nossos clientes em actos de pura gestão administrativa e fiscal, que vai brevemente estender-se ao cumprimento das obrigações junto do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. A própria aplicação do Plano Oficial de Contabilidade vai sofrer uma profunda remodelação a partir de 2010, por uniformização e imposição da UE com novo Plano que vai obrigar à substituição do software actual. Esta fase vai coincidir com a passagem da nossa Câmara a Ordem, o que vai acrescer as nossas responsabilidades.

Também a Administração Fiscal tem transferido para os TOC, a responsabilidade da disponibilidade imediata da maior parte da informação para efeitos de controle e fiscalização tributária, cujo incumprimento, por qualquer circunstância ou factores imponderáveis, dará lugar a coimas a que os TOC não poderão escusar-se perante os seus clientes.

Por último, perfilam-se os clientes, de características muito diversas, a maior parte desorganizados e fragilizados por estruturas deficientes e sem fundos de maneio, exercendo a actividade empresarial de improviso e sujeitos à concorrência feroz das grandes superfícies. Estas deficiências são transferidas para os TOC que se vêm obrigados a ser imaginativos e infalíveis nas mais diversas soluções. Inversamente, as remunerações dos TOC não são proporcionais e compatíveis com o seu trabalho e as suas responsabilidades inerentes.

Estas e outras considerações que ficaram por enumerar, levam-nos a concluir que não compensa aos Contabilistas sacrificarem-se por uma demasiada dimensão das suas tarefas e da carteira de clientes, agravando o stress e a ansiedade perante a permanente vigilância que as escritas de sua responsabilidade impõem, não lhes valendo sequer a Fé perante os sérios riscos de saúde a que ficam expostos.

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