quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O CARRO DE BAMBU DOS MEUS SONHOS

INÉDITO
Decorria a década de 40, do século passado, em Cabinda, minha Terra Natal. Tinha eu 8 anos e vivia a Época Natalícia numa permanente expectativa do abrir das prendas. Estas eram deixadas pelo Pai Natal ao fundo da chaminé, por onde descia durante a noite. Eu mal dormia a pensar que, no dia seguinte, seria surpreendido pelas prendas por Ele deixadas no meu sapato.
Naquele ano, recebi um carro de bambu. Esta prenda era um luxo: uma carrinha aberta, de fabrico artesanal de bambu (planta tropical de colmo lenhoso e flexível). As outras prendas eram mais de utilidade do que para brincar. Por isso, senti-me duplamente feliz por ter o carro que ambicionava para competir com os meus amigos. O carrito era puxado por uma nsinga (nome indígena sinónimo de fio, cordel).
Carregava o meu carrito com pedras, pedacitos de madeira areia e latas de sardinha com água que transportava para construções hipotéticas. Aos 11 anos, já na idade pré-adolescente, quando embarquei para a Europa, carregava o meu carro com sonhos. Estes eram puros e acalentavam-me esperanças de poder realizá-los. As molas do carrito chegavam a vergar com o peso dos sonhos que eram muitos. Durante os 3 anos que tive o carrito, consegui competir com os meus amigos com relativo sucesso.
Os anos foram passando, trouxe comigo parte dos sonhos, mas a maior parte ficou dentro do carro que eu não trouxe comigo. Alguém se apoderou do meu carro e se serviu dos meus sonhos para os concretizar, impedindo-me de ser eu a realizá-los. Hoje, não tenho o carro comigo, mas tenho um brinquedo que se coaduna com a minha idade que é um computador. Com ele brinco, viajo, percorro o Mundo, pesquiso, relaciono-me, enfim, dou uma nova dimensão à minha vivência diária.

1 comentário:

Margarida disse...

E é bom saber e sonhar que o sonho comanda a vida. Que bonito o seu texto. Guida