domingo, 5 de outubro de 2008

O TOCADOR DE FLAUTA

INÉDITO

Ao fazer o meu passeio matinal higiénico a pé, nos subúrbios de Tomar, fui surpreendido por um som harmónico e melodioso de um instrumento que não me era estranho e que vinha do interior de uma casa térrea, modesta. Interrompi a minha marcha e dispus-me a desvendar o mistério, batendo à porta daquela casa. Deixei de ouvir o som e fui surpreendido pela silhueta de um homem de estatura média, esquálido e de pele trigueira e rugosa que me questionou: “o que é que pretende desta casa?”

Eu apenas lhe respondi cordialmente: “fui atraído pelo som mágico de uma flauta. Era o senhor que a tocava, tirando-lhe esses acordes tão melodiosos e afinados?” Ele retorquiu afirmativamente, esclarecendo que era ele e que o fazia para afastar maus pensamentos e recordar momentos de felicidade que acasalado viveu com sua defunta mulher. Ela chamava-se Benedita e quis o destino cruel que um tumor cancerígeno a levasse prematuramente para o outro Mundo.

Foi uma viagem sem retorno de Benedita que enclausurou para sempre em sua casa, Mestre Inácio, calceteiro, de profissão, tão bom a fazer calçada à portuguesa como exímio a tocar flauta. A primeira por amor à profissão e a segunda por amor eterno à sua mulher.

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