domingo, 5 de outubro de 2008

OS ESPOLIADOS

INÉDITO (A PUBLICAR)

Este grupo de cidadãos recebe aqui a designação mais apropriada da sua verdadeira condição e nele estão incluídos os “retornados” e os “refugiados”. A designação de “Espoliados” é a que, com mais propriedade e autoridade, se deve aplicar às pessoas que perderam os seus bens, total ou parcialmente, por incapacidade da Nação Portuguesa ter exercido o seu dever, protegendo os seus bens e as suas vidas da voragem de agressão e apropriação indevida dos seus direitos legítimos por parte de hostes sedentas de pseudo vinganças e enriquecimentos fáceis e imediatos, ilícitos.

Os espoliados, eram brancos, mestiços e africanos e deixaram as províncias ultramarinas portuguesas, rumando a diversos destinos, desordenada e inesperadamente, impelidos pela auto-defesa da sua integridade, deixando, contrariados, os seus bens que não conseguiram pôr a salvo em devido tempo. Esta atitude resultou do facto de terem sentido a ausência efectiva da protecção, que lhes era devida, pela sua própria Pátria que os abandonou literalmente no momento mais crucial das suas vidas.

Os seus destinos foram os mais variados, individualmente, em grupos familiares completos ou desmembrados. Alguns foram para a África do Sul, Rodésias e Namibe, outros para o Brasil, América e Canadá e a maior parte para Portugal “Continental”, país de origem e que representava a matriz da Pátria, tanto para africanos como para colonos e seus descendentes.

Os espoliados que optaram por destino, Portugal Continental, passaram pelas mais variadas situações sócio-económicas, consoante o seu habitat de acolhimento. Uns foram acolhidos por familiares, outros em pensões e residenciais – enquanto durou a ajuda do Estado –, e ainda bastantes que, não conseguindo acolhimento em organizações de apoio aos sem abrigo, se perderam por barracas, pelas estações do metro, pelas ruas, pelos vãos de escada, além dos casos extremos de demência e dos que desistiram de viver.

Os que teimaram em sobreviver abraçaram um calvário que passou a fazer parte da sua vida quotidiana, enquanto a sua presença era considerada como intrometida numa sociedade marcada por uma ditadura opressiva de décadas. A mudança levou tempo a processar-me e passou por os espoliados provarem por actos e palavras que eram pessoas capazes, com qualidades de trabalho, conhecimento e visão indispensáveis para transformarem as mentalidades instaladas. Gradual e progressivamente foram impondo os seus direitos e razões, inculcando um impulso na reactivação da economia e modernização de Portugal.

Ao fim de cerca de três décadas a integração foi quase total, à excepção de um grande número de casos identificados pelo seu desenraizamento abrupto das suas terras natais, que não conseguiram assimilar em pleno, nem parcialmente, as novas micro-sociedades comunitárias onde se instalaram. As famílias identificadas com esta situação, por motivos de fragilidades económico-financeiras e dificuldades de integração, sentiram-se desestruturadas, passando duma classe média para uma classe pobre. Estas circunstâncias não permitiram nem permitem que estes espoliados consigam alguma vez superar os efeitos negativos que lhes causam as realidades actuais dos seus países de origem, cujas políticas viciadas continuam a defraudar as perspectivas legítimas dos seus naturais que ambicionavam a sua libertação efectiva.


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