quarta-feira, 9 de junho de 2010

O CERCO DE LISBOA

INÉDITO

Contrariamente ao que poderão estar a imaginar, o título desta crónica não trata de qualquer dos cercos que o nosso Rei Fundador de Portugal fez á cidade de Olissipo. Serve simplesmente para poder deixar bem patente a imagem que Lisboa tem hoje em relação às transformações que sofreu nas sucessivas épocas que atravessou.

Pelos compêndios de história damos conta dessas diferentes fases da vida social, económica e cultural de Lisboa. Eu apenas posso referir-me ao período que vai dos anos 40 do século passado até aos dias de hoje, por dele ter um conhecimento perfeito. Naquele tempo havia um reduzido número de veículos motorizados e percorria-se a cidade a pé, usufruindo dos costumes e tradições citadinos, como os pregões, os ardinas, as ruas a cheirar à água das lavagens matutinas, os carros eléctricos, os polícias sinaleiros, etc. Era bom e agradável percorrer lugares emblemáticos como a Praça da Figueira, a Praça da Ribeira, a Feira Popular, o Parque Mayer, a Estufa Fria, os museus, os teatros e cinemas de bairro, a beira rio e outros lugares de culto. Lisboa era uma cidade livre, onde se respirava ar puro e dava gosto viver.

Tenho evitado ir a Lisboa por se me sentir aprisionado numa cidade padronizada por conceitos de elevado consumismo, em que imperam vícios e a utilização indiscriminada e abusiva do carro. Conduzir e estacionar um carro em Lisboa é uma odisseia. Não se vislumbra uma brecha para estacionar o carro em zonas preferencialmente residenciais e a condução torna-se perigosa e requerer artes de mestria e profunda concentração, não se evitando de quando em vez de sofrer ofensas obscenas e ameaças de agressão. Todas as referências genuínas de Lisboa foram substituídas por carros, alguns de alta cilindrada, por centro comerciais, recintos de diversão nocturna, bairros de prostituição e doping, roubos e assaltos frequentes, etc.
Pela abordagem muito generalista que fiz, concluímos que Lisboa voltou a ficar cercada, mas agora pelos seus próprios habitantes – residentes e visitantes -, que a materializaram e descaracterizaram para satisfação dos seus prazeres imediatos e incontrolados. Há que ressuscitar

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