quinta-feira, 18 de julho de 2013

IR E VOLTAR


Vou deixar-te, Lisboa, vou regressar à minha terra,
Levo-te comigo no meu coração, com muita tristeza,
Não esquecerei nunca o teu encanto, a tua beleza,
Sei que vou enfrentar uma vida diferente e severa.
Diversa da que vivi contigo em idade adolescente.

Inseguro e enjoado com o balancear do carregueiro,
Vamos rumo ao Sul, reencontrar a terra que deixei
P'ra estudar em Portugal e conhecer suas gentes,
Que desbravaram mares e descobriram paragens
Além mar e que souberam colonizar, sem receio.

P'lo meu rosto deslizam lágrimas, como quilha
De barco que corta as ondas p'ra abrir caminho.
E chegar em trinta dias, sem pressas ao destino.
Perco de vista a Torre de Belém, Cascais, Bugio,
Ao longe a serra de Sintra, deixando o rio Tejo.

Cheguei enfim à minha terra, com promessas
Dum futuro promissor, minha desilusão e dor,
Depois de muito trabalho, sacrifícios e suor,
Património de vulto que construí se perdeu,
Na queimada que lavrou e em que tudo ardeu.

Atravessei novamente o Oceano rumo a norte,
Cheguei d'avião sem vintém, fui mal recebido,
Trataram-me de retornado, tão injustamente,
Que traumatizado sofri um grave acidente,
Estive no hospital internado, terrível martírio.

Longo tempo de convalescença tive de passar.
De muletas, depauperado precisei de trabalhar,
Muitos anos passados até ficar recuperado,
Muitos mais anos pra no meio me reintegrar,
Até finalmente me instalar e ser considerado.

Ruy Serrano, 18.07.2013

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