quarta-feira, 24 de outubro de 2007

UMA CASA DE ADOBE COM TELHADO DE ZINCO


(INÉDITO - REAL)



1966: Ano marcante para a história da colonização de Cabinda com a transição abrupta para a era neocolonozidora. Até metade do 3º quartel do século XX o processo de colonização de Cabinda decorreu com normalidade. A partir daquele período instalou-se um desequilíbrio total na vida sócio-económica daquele território. É a relação desta realidade com os agentes participantes neste processo que pretendo aqui evidenciar, contribuindo, com o meu modesto testemunho, para um melhor esclarecimento do conhecimento público.

Cabinda, após os Tratados assinados com a Coroa Portuguesa - o último dos quais no dia 1 de Fevereiro de 1885 – entrou numa economia de mercado familiar, de progresso lento, mas firme, eficaz e em paz. Os colonos portugueses que substituíram os estrangeiros – franceses, holandeses e ingleses, dedicados à prática do comércio esclavagista -, introduziram uma filosofia humanista de inter-relação de valores pessoais e profissionais, com as comunidades locais, iniciando uma nova etapa de povoamento.

Os colonos instalavam-se nos locais distantes da sede do Concelho - sujeitando-se a carências de toda a espécie -, interessando-se pelos problemas das populações e incrementando a permuta de bens coloniais por bens de consumo. Esta permuta era justa, por ser concorrencial, não permitindo a especulação em prejuízo dos permutadores dos bens coloniais, como alguma propaganda fez constar. Por falta de espaço, mas não por ser irrelevante, deixarei para outra oportunidade a abordagem da participação, no mesmo processo, da Igreja, do Estado e dos Colonialistas.
A verdadeira colonização, pacífica, estava a ser feita pelos colonos. Entretanto, com a chegada dos americanos a Cabinda, para iniciarem, em força, a exploração do petróleo, todos os outros recursos económicos, à excepção das madeiras exóticas, passaram a ter um interesse relativo. A entrada, tentadora, dos Petrodólares, seduziu os agentes económicos, entre os quais eu próprio me incluo, como posso a seguir exemplificar.

A chegada a Cabinda, das várias companhias petrolíferas envolvidas no processo de exploração do petróleo, provocou vários desequilíbrios, entre os quais entre a oferta e a procura de habitações. Eu fui imediatamente contactado por uma empresa libanesa de “catering” para alugar a minha residência por uma renda de valor 750% acima do normal. Através de um contrato de 2 anos, transferi-me da minha residência para uma outra: uma casa de adobe, coberta a zinco, sem forro, situada a 500 metros do centro da cidade. Para aí fui viver com a família, alvo de críticas das pessoas mais preconceituosas que se distanciaram da nossa convivência. Passados 3 meses estas mesmas pessoas estavam a alugar as suas casas por rendas superiores a 1.000% em relação à normalidade, reatando cinicamente a sua convivência.

Este fenómeno tornou-se de efémera duração, por ter sido um presente envenenado que os novos colonizadores proporcionaram aos Cabindeses incautos. A única finalidade foi provocar a inflação do custo vida de toda a população de Cabinda, desequilibrando o seu nível e fragilizando expectativas futuras. Esta situação instalou-se, mantém-se e manter-se-á, com o sacrifício e prejuízo notórios dos naturais, residentes e seus descendentes, tendo-se tornado uma barreira para o recomeço da sua vida normal. Extrair o máximo das riquezas de Cabinda, privando-a de usufruir das mais-valias geradas, é a política que os novos colonizadores seguem com determinação e firmeza.

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