quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A ÚLTIMA VIAGEM DE BARCO


Da amurada do barco, fiquei a contemplar a cidade,
Que me vira nascer há muito tempo,
Acenei-lhe pela última vez,
Com meu lenço branco.

As lágrimas corriam-me pelo rosto para se perderem,
Nas águas do mar azul que brilhava,
E a minha mente baralhava,
Por já me sentir ausente.

O barco levantou ferro e fez-se ao mar aberto e infindo.
Um travo amargo na boca e a dor
No coração dilacerado,
De difícil cura.

Ficaram na terra que me vira nascer, os meus sonhos,
Desfeitos por indivíduos estranhos,
Que surgiram do nada,
E me expulsaram.

Mais uma vez deitei meu olhar derradeiro à minha terra,
Queria gravar na memória bem viva,
A imagem do farol e das árvores,
E do vasto casario.

Lá bem longe ainda vislumbrei os telhados de meus prédios,
Que foram diminuindo de real tamanho,
Com minha saudade aumentando,
E nada restando.

O barco entrou no mar alto, sofreu forte e grave tempestade,
Esteve várias vezes em vias de naufragar,
Quem naufragou acabou por ser eu,
Que não mais me encontrei.

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