sábado, 26 de agosto de 2017

BREVE VISITA

Crónica

Volvidos dezasseis anos, voltava a pisar ansioso a minha terra. Sentia-me órfão e ignorado. Via rostos e olhos curiosos a observar-me como eu fosse um estranho intrometido. Estranha sensação a minha pensar que aquela era a minha terra de nascença. Passei pelo controle do aeroporto perante a indiferença dos agentes que nem deram importância ao meu apelido de Serrano. Tomei um carro com mais dez passageiros e rumámos a Cabinda.
Passámos por ruas irreconhecíveis pois nem o nome tinham a identificá-las. Quando passei pelas minhas casas, senti-me ultrajado e infeliz por não poder entrar no seu interior e dizer-lhes quanta saudade sentia de tão prolongada ausência. Tinha a sensação de se ter erguido um muro intransponível que me privava de interagir com aquelas construções de cimento a que eu dera vida. 
Os amigos e colaboradores que deixei estavam reduzidos a meia dúzia, pois a maior parte tinha sucumbido de modo estranho e já não pertenciam ao número dos vivos. As viúvas envergando panos pretos, viviam tristes na companhia de seus filhos que não tinham ideia de quem eu era.
A minha estada foi curta e o regresso bastante penoso. Deixou-me com a sensação estranha de ter feito uma incursão por uma terra de fantasia e incaracterística, pertença ilegítima dos senhores do poder e do dinheiro. Pela minha afinidade àquela terra que já não me pertence materialmente, mas que ainda é minha emocional e moralmente, não consigo apagar a sua imagem da minha memória. Deus a proteja e aos seus filhos inocentes.


Ruy Serrano - 27.08.2017

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