domingo, 28 de agosto de 2011

MILITARES PORTUGUESES PATRIOTAS

(INÉDITO A PUBLICAR NO SEMANÁRIO

"CIDADE DE TOMAR")

Tenho-me eximido a abordar assuntos fora do âmbito generalista, mas não posso deixar de fugir à regra para tratar deste tema patriótico e oportuno, aproveitando o encorajamento que me transmitiu o meu ilustre amigo e escritor Luíz Fonseca Gonçalves, através dos seus artigos que vem publicando neste mesmo jornal.

São muitos os militares portugueses patriotas, mas quatro nomes ressaltam do meu imaginário a quem pretendo aqui deixar o preito da minha homenagem, relembrando os seus nomes para evitar que sejam esquecidos. Refiro-me mais concretamente ao Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia, ao Coronel Júlio de Araújo Ferreira, ao General António da Silva Osório Soares Carneiro e ao General António da Silva Cardoso.

Estas quatro militares, a par da sua brilhante folha militar, foram portugueses de grande integridade moral e cívica que dignificaram com firmeza e total convicção patriótica, o nome de Portugal. Tive a oportunidade de os conhecer pessoalmente, à excepção do General Silva Cardoso que ainda espero conhecer. Vou a seguir tentar fazer uma resenha do historial de cada um destes militares:

O Tenente-coronel, Maggiolo Gouveia, era alferes miliciano, em Cabinda, quando o General Soares Carneiro comandava, com o posto de capitão, a Companhia de Caçadores ali destacada. Ambos tiveram uma acção meritória no apoio às populações num momento muito sensível pós eclusão dos primeiros acontecimentos subversivos, em 1961/62. Não havia armamento suficiente para distribuir pelas populações para poderem defender as suas famílias completamente desprotegidas.Transposta a fase difícil, graças à índole pacífica das populações autóctones, creio que o então alferes Gouveia foi destacado em serviço para Timor, enquanto que o capitão Soares Carneiro seguiu a sua trajectória em Angola, a que me referirei mais adiante.

Já em Timor, o alferes Maggiolo Gouveia atingiria o posto de Major, comandando em Díli o Batalhão ali destacado. Teve a fatalidade de se confrontar com o movimento independentista “Fretilin”, de ideologia comunista. A sua oposição àquele movimento, levou-o a ser crucificado, juntamente com um milhar de prisioneiros da Fretilin. Foi fuzilado às ordens do comité central deste movimento entre 09 e 15/12/75. Este acto bárbaro, levou o bispo de Díli, José Joaquim Ribeiro comunicar o triste acontecimento à esposa do malogrado militar, em carta de 10/03/76, em que declarava: “neste vale de lágrimas”, deu a vida pela Fé e pela Pátria, morreu como um autêntico cristão, como um homem inteiriço, como um militar de têmpera…”Posteriormente os seus restos mortais foram trasladados para Portugal, onde lhe foi prestada, tardiamente, justa homenagem.

O General Soares Carneiro, depois de ter estado em Cabinda, como capitão, fez um percurso normal e exemplar, de militar, até ser nomeado secretário-geral do Governo-geral de Angola, aquando do 25 de Abril. O Governador-geral era, à data, o Engº Fernando Santos e Castro. Este apresentou a sua demissão e Soares Carneiro ficou a exercer, posteriormente, o governo de Angola, até à nomeação do novo Governador-geral, pelo Conselho da Revolução Foi candidato presidencial em 1980, com o apoio da Aliança Democrática, tendo perdido as eleições com cerca de 40% dos votos. Posteriormente, foi Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, durante o governo de Cavaco Silva. Foi agraciado com a grã-cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, é oficial da Ordem de Aviz e é comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Nasceu em 25/01/1928, em Custóias, Portugal e se não falto à verdade, creio que ainda é vivo. Os dois últimos militares que guardei para o fim, são dois Tomarenses:

O Coronel Júlio de Araújo Ferreira, nasceu na cidade de Tomar e faleceu em 20/09/1995, com 90 anos. Desconheço a sua data de nascimento. A sua carreira militar foi em progressão contínua, mercê do exercício dos seus cargos com competência e eficiência. Conheci-o em Cabinda, como Governador do Distrito e posteriormente visitei-o aqui em Tomar. Conheci então a outra faceta do Coronel Araújo Ferreira, ligada à Caça. Ele foi um exímio caçador, senão o maior caçador português de todos os tempos, tendo exercido esta modalidade com paixão e muita dose de humanidade, Caçou nos locais mais diversos do território português, por onde passou em missões de serviço, e foram suas presas, elefantes, hipopótamos, rinocerontes, gazelas, leopardos e toda a espécie de caça miúda Teve a amabilidade de me oferecer, com uma dedicatória pessoal, o seu último livro, sobre a caça, intitulado “A Caça…uma saudade”

Por último, quero citar uma figura pela qual nutro uma especial simpatia e admiração: é o General António da Silva Cardoso. Nasceu, em 03/02/1928, na Pedreira, sede da freguesia do concelho de Tomar, aonde ainda reside. Depois de um longo percurso militar brilhante, a sua carreira culminou com o ingrato desempenho do cargo de Alto Comissário e Governador interino do Estado de Angola. De 28/01/75 a 02/08/75. As suas funções foram de curta duração porque herdou do seu antecessor, Rosa Coutinho, uma situação minada pela linha esquerdista desejosa de tomar de assalto, a qualquer preço, o poder da Administração do Estado de Angola.

Bastante desgastado e desiludido com a situação desagregadora de Angola, regressou a Portugal, onde ocupou sucessivos cargos provisórios até à sua reforma em 1991. Recebeu inúmeros louvores e foi agraciado com cerca de duas dezenas de condecorações nacionais e estrangeiras. Também tive o ensejo de ser contemplado com a sua oferta, com dedicatória, do seu livro “Angola – Anatomia de uma Tragédia”. Neste livro, o General relata-nos a odisseia do desempenho das suas funções altamente difíceis e contrariadas pelos elementos subversivos da ordem e respeito que se impunha e era exigível para uma Paz multirracial duradoura e que conduziu à situação da guerra pós-independência que havia de durar cerca de 30 anos.

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