sábado, 15 de setembro de 2012

POSTAL DE CABINDA DOS ANOS 30 A 50 DO SÉCULO XX - O BARCO DO PUTO





Era dia de festa em Cabinda. Chegava o barco do Puto. A criançada corria para o alto do morro do Palácio para ver o barco a crescer para a baía. Destacavam-se, por ordem, os mastros, seguidos das chaminés e por último o casco. Acabava por fundear a umas largas milhas de terra por falta de calado.

Os sinos do palácio e da capitania, repenicavam, saudando a chegada do navio. Fazia mais de um mês que não havia correio nem mantimentos do Puto. A garotada, na qual eu me incluía, descia numa corrida desenfreada a rua Ruy de Sousa ao longo da granja e dirigia-se para a ponte para ver os batelões acostarem à ponte cais. Começava a descarga do correio e dos bens alimentares, com prioridade para os frescos, constituídos por sardinhas e carapaus, bacalhau, legumes, frutas, queijo da serra, castanhas, etc.

O desembaraço alfandegário era célere e por vezes prolongava-se pela noite, até estar concluído. Os produtos de frigorífico eram normalmente rateados pelos clientes para serem todos contemplados. Depois desta azáfama que agitava a vida normal da cidade, durante a permanência do navio, seguia-se a rotina dos dias calmos de trabalho e convívio entre a população.

Este é um postal da vida de Cabinda dos anos 40 e 50 que eu usufrui, com felicidade, na minha meninice e parte da adolescência, na companhia dos meus amigos e da minha família e que acho merecer a pena aqui reproduzir.

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