domingo, 21 de março de 2010

A CANOA


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A canoa é uma pequena embarcação africana, preferencialmente utilizada na pesca artesanal, em águas muito próximas da costa. É de construção rudimentar pelo escavar de um tronco, de madeira exótica leve e resistente. A canoa tem tradição em toda a Costa africana, referindo-me, muito particularmente ao reino do N´Goio, hoje conhecido por Cabinda, onde surgiu uma lenda que nos sensibiliza pela sua origem e significado.

Em tempos muito recuados, de há séculos, os povos africanos estavam muito virados para o interior dos seus territórios e do próprio continente, onde se abasteciam dos seus bens alimentares, consumindo particularmente caça, tubérculos e fruta, além das pequenas culturas das suas lavras. Não tinham, portanto, uma relação muito aberta com o mar.

No reino do N´Goio, certo dia, uma mulher casada, de nome Micaela, cometeu adultério. Reuniu o conselho da aldeia e o soba (chefe supremo da aldeia) resolveu puni-la, mandando atá-la a um tronco de madeira flutuante, e abandonando-a no mar largo, fora da baía. O homem, com quem ela cometeu o delito, desapareceu e nunca mais foi visto.

Passados largos meses, Micaela apareceu na baía dentro do mesmo tronco, em forma de canoa e a remar. O facto foi tomado por todos como vontade dos Deuses que, para além de a terem salvo, puseram nas mãos daquela gente um instrumento que poderia introduzi-los na pesca. O soba voltou a reunir o conselho e resolveu perdoar Micaela e o seu amante. Uma dúvida no entanto ficou no ar: não teria sido o amante que teve a ideia de cavar o tronco e entregar o remo a Micaela para se salvar? Dele nunca mais houve notícia. Para perpetuar o nome “canoa”, o soba ditou que a partir daquele momento a baía passasse a chamar-se “Baía das Almadias”. O navagedor Ruy de Sousa ao aportar ali com as naus portuguesas, pela primeira vez, em 1491, ficou surpreendido com o número elevado de canoas (almadias) que navegavam na baía.

Desde então, o povo do N´Goio e todos os outros limítrofes passaram a construir as suas canoas e a dedicar-se à faina piscatória. Os cabindeses tornaram-se uns pescadores exímios, o que representou uma mais valia importante, pois passaram a fornecer peixe aos barcos que demandavam a costa de Cabinda para se abastecerem também de frutas e água, além de fazerem permuta de outros produtos coloniais por bens de consumo europeus.

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