quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CONTABILISTA - PROFISSÃO DE SOBREVIVÊNCIA

(INÉDITO A PUBLICAR)


Após um acidente de viação violento que me deixou física e psicologicamente traumatizado, ocorrido em Setembro de 1977, deixei de trabalhar como chefe de escritório e responsável pela escrita de uma empresa de Tomar e passei a exercer as minhas funções em regime liberal, como profissional independente.

A minha sobrevivência profissional, de contabilista, para suprir as carências mínimas da minha família, dependia de mais um cliente a juntar à meia dúzia que já tinha conseguido angariar.

Parecia ter sido atendido no meu desejo, por me ter aparecido o tal cliente. Este veio ter comigo para lhe fazer a escrita organizada do seu comércio misto de retalho e revenda de artigos para agricultura e construção. A sua escrita tinha passado de não organizada para organizada que requeria a responsabilidade de um TOC. Não fiquei surpreendido, antes satisfeito, por eu ter sido o escolhido.

Tinha iniciado a minha tarefa da dita escrita, havia apenas cerca de três meses, quando fui objecto da visita de um fiscal das finanças de Tomar, por sinal meu conhecido, que pretendia fazer uma fiscalização à escrita. Como tinha a escrita atrasada um mês, por não ter em meu poder os respectivos documentos, apressou-se a telefonar ao meu cliente, avisando-o que teria de o autuar.

O meu cliente nunca mais me entregou os ditos documentos e retirou-me a escrita sem me dar qualquer justificação. Passado pouco tempo, tive conhecimento que ele não havia pago qualquer coima e que entregara a escrita a um meu colega, amigo do fiscal que me visitou.

Fiquei deveras ofendido com este incidente que serviu para eu, dai em diante, estar mais atento a outras situações que ameaçavam prejudicar-me. Consegui controlar algumas, mas noutras não fui tão bem sucedido, pois eu estava inserido num ambiente concorrencial e de favoritismos. Fui-me firmando através do meu mérito e competência e recorrendo também aos mesmos métodos, pouco ortodoxos, que alguns dos meus colegas utilizavam.

Muitos outros episódios se passaram, que, se fossem por mim relatados, deixariam desacreditados alguns meus colegas e uns tantos fiscais. Todavia, ao reformar-me, fiquei com a sensação e o consolo de ter cumprido, com honestidade e competência, com os meus deveres profissionais. O facto de ter assegurado o serviço de boa parte dos meus clientes durante 15 a 25 anos e de ter o meu cadastro fiscal limpo, são boa prova da minha afirmação.

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