sexta-feira, 25 de novembro de 2011

LISBOA SEMPRE REVISITADA

Em um qualquer dia do verão de 2010, tomei o comboio na estação do ramal de Tomar, sem um destino pré-definido. Por razões do meu magro orçamento, apanhei o regional, acabando, inevitavelmente por ir parar à estação Oriente, em Lisboa.

Há longo tempo que não ia à Capital, pelo que me senti confuso e deslocado com o movimento frenético e barulhento da cidade. O meu primeiro impacto emocional foi com o metro, pelo rápido abrir e fechar das portas e a compressão dos corpos dos utentes no seu interior. Nas horas de ponta, se tivesse o azar de ser dos últimos a entrar na carruagem, arriscava-me a ficar estático, como uma estátua, implantado de frente a outro passageiro. Se fosse homem, o sacrifício seria cruel, mas se fosse feminina, a companhia tornava-se mais agradável.

Na estação de destino, surgiu mais um obstáculo. Achei-me num labirinto de entradas e saídas da estação que me deixou bloqueado, sem saber por onde e como sair, parecendo uma barata tonta. Valeu-me um utente que se apercebeu do meu embaraço e me orientou na saída da estação. É confrangedor passar por situações caricatas só próprias de um provinciano afastado das modernidades. Estas sucedem-se meteoricamente, sem tempo para acompanhar. Estou certo que quando retornar a Lisboa, outras modernices me surpreenderão.

Para reinventar os tempos idos, resolvi descer a Avenida da Liberdade a pé. Fiquei deveras decepcionado pela ausência de marcos de referência da avenida, como os Cinemas São Jorge, Tivoli, Condes, Éden, as esplanadas ao longo da avenida e o Parque Mayer. Este era um ponto de paragem obrigatório pela sua animação artística, com os seus ringues de patinagem e de luta livre, as barracas de divertimentos e de petiscos, os teatros e o cinema Capitólio. Era normal cruzarmo-nos com artistas como Vasco Santana, António Silva, Humberto Madeira, Villaret, Madalena Souto, Mirita Casimiro, Laura Alves e outras figuras públicas. Também estranhei as ausências dos cinemas Olímpia, Lisboa e Arco de Bandeira ao alcance da minha fraca bolsa de estudante. Para compensar e meu conforto ainda voltei a saborear a agradável ginja no Rossio, que teima em servir os seus clientes fiéis e que não posso deixar de visitar quando me desloco à Capital.

Ao fim do dia regressei a Tomar para mais uma prolongada ausência de Lisboa. Apesar dos seus vícios modernos, Lisboa conserva a sua frescura e beleza atractivas que nos deixa desejosos de voltar a percorrê-la pelas colinas e vales, pelos seus miradouros e castelo, pelos bairros mais tradicionais e típicos e pelas margens deslumbrantes do rio Tejo.

Sem comentários: