sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O ESCLAVAGISTA, O COLONO, O COLONIALISTA E O GLOBALISTA

PUBLICADO

Antes de me debruçar sobre a explanação do presente tema, passo a esclarecer porquê e como achei necessidade de o fazer. No momento actual da conjuntura mundial, como cidadão responsável e sentindo-me aríete do sistema instituído, recorri à minha própria memória e vivência e à memória tradicional que me foi transmitida por meu pai e por anciãos africanos nascidos no último quartel do século XIX (1875/1900), com quem tive o privilégio de conviver, na minha terra Natal, a partir dos anos 40, do século passado, para recuperar muita informação oral que me permitiu tirar as minhas conclusões.

Assim, passo a referir-me a cada um dos personagens do tema em questão, que tiveram e têm manifesta influência no relacionamento com os povos, hoje países ex-colonizados:

1 – O Esclavagista pode ser definido como mercador-mercenário, quer por iniciativa própria quer a soldo de países europeus, liderados por Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Portugal, empenhados na exploração da escravatura. Esta era exercida por imposição e em parceria com os régulos do litoral africano, com predominância nas zonas do Equador e dos Trópicos e prolongou-se até finais do século XIX, altura em que a mesma foi abolida. Até aí os entrepostos de mercados de escravos funcionavam no litoral por onde eram canalizados milhares de negros, vindos do interior de África para seguirem rumo a mercados receptores do Brasil e Américas Central e do Norte. Os mercadores-mercenários utilizavam barcos no exercício do seu comércio e eram móveis, fixando-se por curto espaço de tempo apenas nos pontos mais estratégicos. A sua principal moeda de troca de bens de consumo e moeda eram as criaturas humanas seleccionadas pela sua melhor compleição física e boa saúde aparente;

2 – O Colono preencheu o lugar do Esclavagista, numa perspectiva diferente de convivência com os indígenas. Como os vários dicionários definem, Colono é “agricultor, cultivador, cultor e lavrador” e eu acrescento, “permutador”. Depois do apaziguamento das populações, o colono, de um modo geral, oriundo de famílias remediadas e pobres europeias, emigrou, por necessidade, para vários pontos do Globo, mas principalmente para África. A sua acção abrangente, foi exercida no comércio, na indústria, na agricultura e em diversos domínios de profissões liberais. Destaca-se o comércio de permuta, em que o colono, a viver em condições precárias e de privações, trocava bens de consumo ocidentais por produtos coloniais.
Todavia, a sua vida não era tão próspera como o seu trabalho justificava, pois dependia umbilicalmente duma outra figura com poder e posição financeira preponderantes: o “Colonialista”. Esta ligação tinha a cobertura do regime colonial imposto pelo Estado para garantir a perpetuidade da política colonial instituída.
Por esta razão o colono era um vassalo do colonialista, pois este funcionava como regulador e controlador da acção do colono que tinha necessidade de entregar às empresas colonialistas os seus produtos coloniais aos preços por estes fixados. As principais marcas de bens de consumo também eram exclusivo destas empresas que os distribuíam, por rateio e a seu belo prazer, pelos colonos. Estes, por sua vez, desdobravam-se em esforços e começavam o seu dia de trabalho de madrugada para se deslocarem ao interior, por estradas de terra e lama, dificilmente transitáveis, para fazerem as suas permutas. Por outro lado, os colonos tinham difícil acesso ao crédito bancário que dependia de uma única instituição bancária estatal. Também não lhes era reconhecido a eles e seus descendentes o direito a ocuparem lugares públicos, por serem considerados cidadãos de 2ª categoria. Os Colonos foram, a todos os títulos, verdadeiros missionários da civilização ocidental e construtores das actuais nações, sem mais-valias próprias relevantes. Ainda está por escrever a verdadeira história do “Colono”, que, por falta de ousadia ainda não foi feito, estando eu próprio empenhado em fazê-lo, tomando por exemplo a vida real de meu pai, que considero ter sido um Colono Valoroso, como foi reconhecido pelo grau de comendador com que foi distinguido.

3 – Finalmente, temos a figura do Globalista, ligado à Globalização. Esta foi a principal causadora da eliminação da Colonização, para servir os interesses das Superpotências e das Elites africanas do poder. Acabou por absorver resquícios colonialistas (a submissão e a corrupção) e esclavagistas (a traficância de crianças, de orgãos humanos, da prostituição, de estupefacientes, etc.) para reforçar a sua acção minadora das sociedades africanas. Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, “A globalização acarreta um crescente perigo de repercussão a nível mundial de crises regionais”. Na realidade, os Países responsáveis pela Globalização (E.U.A., Rússia, Inglaterra, Alemanha, França, China, Japão, Índia e Brasil) estão a dominar os países economicamente mais frágeis, fazendo sentir os seus efeitos nocivos em África. Aqui, a globalização estendeu os seus tentáculos às explorações minerais petróleo, diamantes, etc.) e agrícolas (cana-de-açúcar e palmeiras – óleo de palma). É nesta área que os investidores globalistas, ao serviço dos seus países, mais arriscam, abordando empresas agrícolas e os governos locais africanos para adquirirem o máximo de terrenos aráveis para o cultivo de biocombustíveis, a fim de obterem energias alternativas ao petróleo.
Estima-se que já tenham sido cedidos ou vendidos 5 milhões de hectares em todo o continente africano, uma área correspondente a mais de metade do território de Portugal. Este fenómeno priva a maior parte da população rural de explorar a agricultura, base essencial e ancestral da sua subsistência, fomentando a pobreza e a consequente indignação e protestos, como recentemente aconteceu em Moçambique e que poderá repetir-se, contagiando os países africanos (Parte desta informação foi extraída da revista “Visão, nº 914).

Esta é a minha perspectiva que resulta da comparação entre estas figuras, que precipitará uma crescente assimetria entre o estado económico-financeiro dos países dominantes e os dominados, aumentando os índices de pobreza, das doenças, da iliteracia e inevitavelmente, das ondas migratórias das populações carenciadas, perseguidas e expulsas do seu habitat que deixarão de reunir as condições mínimas para a sua sobrevivência.

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