sábado, 1 de janeiro de 2011

JOAQUIM MAIEMBLA

INÉDITO

Cigarro de forte nicotina, fumado dentro da boca, expelindo de quando em vez o fumo como uma chaminé, era o prazer máximo da vida quotidiana do Joaquim Maiembla. Quando nasci, nos anos 40 do século XX, já o Joaquim era quarentão. Possante, de perfeita compleição física, de rosto oblongo e olhos dóceis, o seu cabelo de carapinha era ralo, já com salpicos brancos.
Joaquim Maiembla foi muito novo trabalhar com meu pai e especializou-se em tarefas que só ele sabia manusear com perfeição. Era ele que torrava a “ginguba” (amendoim) e o café que eram vendidos na loja, em embrulhinhos de funil de papel de jornal, por 5 tostões. Este era também o custo de uma dúzia de bananas que ligava bem com a ginguba bem torradinha. Vendia-se centenas de pacotinhos diàriamente.
O Joaquim, para além de prestimoso e fiel colaborador, era generoso e de extrema bondade, com uma postura de verdadeiro cabindês. Contou-me meu pai que o Joaquim, na sua juventude, pegava com relativa facilidade, de baixo de cada braço, saquetas de 50 kgs. de coconote (caroço do déndém, fruto da palmeira). Eu juntava-me a ele com frequência para ouvir as suas histórias e compartilhar da sua comida africana apetitosa. O Joaquim tornou-se praticamente um membro da nossa família. Fez sempre questão de residir na sua casa, numa aldeia distante de Cabinda.
Todavia, nos últimos anos da sua vida octogenária quis viver o mais perto possível do seu local de trabalho. Construímos, nos arredores de Cabinda, uma casa de madeira com as condições exigidas para uma vida tranquila e concedemos-lhe uma pensão vitalícia. Já em Portugal soube da sua norte, que me deixou muito triste por ter perdido um verdadeiro amigo.

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