terça-feira, 4 de outubro de 2011

OS CASAIS E AS QUATRO ESTAÇÕES

(INÉDITO)

O dia era primaveril. Floresciam as árvores com todo o esplendor dos matizes das suas folhas. Grupos de jovens namorados, com a cumplicidade dos bancos do jardim, ou transitando pelas veredas, entrelaçavam-se em abraços e beijos, perdidos e achados em voluptuosidade e prazer. Viviam momentos únicos das suas vidas.

Em pleno verão, aquecidos pelos raios solares, a subida de temperatura proporcionou-lhes momentos tórridos de intimidades e carícias compartilhadas com sofreguidão e egoísmo. A maturidade das suas vidas aguçou-lhes o libido e o desejo., estimulando-lhes a vontade insaciável de não perderem esses momentos deliciosos.

Com o cair da folha, chegou o Outono. Arrefeceram os ânimos e surgiram as alergias. Alergias que afectaram os sentidos e tornaram-se sentimentos mais impermeáveis. Os anos também se tinham multiplicado e começaram a despontar alguns cabelos brancos e rugas indeléveis. As crises pré-anunciadoras da meia-idade esmoreceram as atitudes, as acções e o relacionamento, acompanhando a temperatura mais baixa da estação.

As manhãs frias e os dias cinzentos assinalaram a chegada do inverno.Os espíritos deprimiram-se e os corpos tornaram-se mais tensos e pesados. Tenderam a recolher-se ao aconchego do seu lar. Penetrou nas suas vidas a televisão. O convívio e os carinhos passaram então a ser partilhados com os seus netos e bisnetos. Estes assumiram o prolongamento das suas vidas e irão assegurar a renovação da árvore genealógica da família.

(esta crónica pretende descrever a trajectória da vida dos casais, através das diferentes fases das suas vidas, inseridos nos ambientes próprios das quatro estações, à margem do contexto socioeconómico e financeiro da crise actual)

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