quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DEMOCRACIAS AFRICANAS EM GESTAÇÃO

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É confrangedor constatarmos, ao fim de algumas décadas, desde as independências dos países colonizados, que a maior parte das democracias que neles se instalaram estão ainda em gestação com o sério risco de abortarem por dificuldades de consolidação.

Não é difícil fazer o diagnóstico desta disfunção política, ao analisar em pormenor as causas e efeitos da anormalidade instalada na maior parte dos países africanos. Para que a democracia seja adoptada como modelo político das nações africanas, terá de haver, da sua parte, vontade e neutralidade políticas, em relação aos interesses internos instalados que contam com a conivência e o aval das potências mundiais envolvidas.

Na base desse comportamento sedimentado, estão os recursos económicos inesgotáveis - sobretudo minerais -, desses países, que durante a era colonial não foram exponencialmente explorados, contrariamente, ao que muitas mentalidades progressistas querem fazer crer. Portugal foi a expressão máxima dessa prática, pelo regime de então ser demasiado egoísta e conservador dos seus recursos financeiros, em detrimento do desenvolvimento não apenas do País (europeu), como do País (ultramarino).

Entretanto, após as independências, os territórios africanos colonizados, foram deixados às suas próprias opções políticas, enveredando, na sua maioria, por governos unitários e déspotas, de cariz racista e totalitária. Numa primeira fase deixou de haver “economia de mercado” e “liberdade de expressão”, doutrinas políticas ausentes dos países marxistas, para que as novas políticas pudessem ser implantadas sem contestações e turbulências sociais. Esta situação permitiu que se criasse um núcleo duro ao redor do poder, umbilicalmente ligado por interesses pessoais. À sua volta proliferaram nichos de empresas e grupos poderosos internos e externos que, em regime de parcerias, chamaram a si o exclusivo da exploração intensiva dos recursos naturais - particularmente o petróleo -, e o monopólio de todo o circuito da economia e das finanças, contribuindo para o crescimento económico defeituoso dos países com maiores recursos. Dessa circunstância, resultou aproveitarem para a sua esfera de acção o controlo da maior parte do produto desse crescimento económico que deveria, lógica e justamente, ser repartido pelas populações que, com o seu esforço, participaram, activamente, na produção dessa riqueza, o que não se verificou nem se pratica.

Este processo histórico incontestável deu origem a que os países africanos vizinhos, de determinadas zonas geográficas, se tornassem cúmplices de procedimentos incorrectos - pouco claros e democráticos -, que adoptam, para fazer impor o seu regime antidemocrático redutor do seu livre desenvolvimento, em plena liberdade de direitos dos seus cidadãos. Esta circunstância gera a imunidade ao contágio e propagação de convulsões sociais instaladas para além das suas fronteiras. Por outro lado, é formada, automaticamente, uma barreira ao regresso dos naturais desses países, de molde a evitar que retomem a posse dos seus bens, injustamente nacionalizados.

Enquanto estes regimes persistirem no poder, nunca a democracia funcionará na maior parte de África, correndo o sério risco de muitas democracias claudicarem, com o retrocesso e consequente prejuízo material e social dos seus povos, percursores da existência do Homem na Terra. Ao invés, serão essas populações - permanentemente votadas ao ostracismo -, coagidas a ser-lhes negado o pleno direito, que defenderam denodadamente durante o colonialismo, de poderem usufruir dos avanços tecnológicos civilizacionais, com a consequente melhoria da sua qualidade de vida.

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