terça-feira, 12 de julho de 2011

AS ÁRVORES DAS PATACAS

(PUBLICADO EM 30/01/2009,

NA "CIDADE DE TOMAR")

As “Árvores das Patacas” estiveram conotadas com os emigrados para as ex-colónias, incluindo o Brasil. Era corrente ouvir-se dizer que os colonos tinham descoberto a “Árvore das Patacas”, porque deixavam transparecer uma qualidade de vida melhor que aquela que tinham em Portugal Continental.
Todavia, era completamente desconhecida a vida de sacrifícios e muito trabalho que esses colonos aplicavam na procura constante de melhores condições de vida e progresso das terras que os acolheram. A sua “Árvore das Patacas” era a labuta intensa e profícua no contacto com os bens da natureza e as verdadeiras “Árvores das Patacas” de que me lembro, eram, apenas, entre muitas, o cafezeiro, a palmeira, a bananeira, o coqueiro, a mangueira, o abacateiro, a goiabeira, o cajueiro, o embondeiro, entre outras, que produzem frutos deliciosos e, como inspiração da beleza africana, as acácias, vaidosas das suas flores, a sublime rosa de porcelana ou a misteriosa welwitschia, do deserto do Namibe (Angola), única no Mundo. Os ditos usufrutuários das imaginárias “Árvores das Patacas” foram aqueles que, pelas paragens por onde andaram e se fixaram, ergueram vilas, cidades e países, produto de toda a mais valia da sua vida de trabalho.
Nos dias que correm, as verdadeiras “Árvores das Patacas”, inspiradas naquelas utópicas e míticas árvores de antanho, proliferaram por todo o planeta, tendo-se fixado, as de maior porte, nos offshore, nos grupos financeiros, nas multinacionais e nas Oligarquias dos regimes políticos instalados. As de menor porte também se espalharam pelas classes burguesa e média alta de todo o Universo. Os seus beneficiários enriqueceram à saciedade, imaginando que as ditas árvores eram como que “galinhas de ovos de ouro” inesgotáveis. Todavia, foram bruscamente surpreendidos por uma epidemia que grassou por todas elas, começando nas de maior porte, e atingindo todas as outras. A maior parte delas secou, umas quantas esforçaram-se por se reabilitar mas a maior parte não tem cura possível.
As grandes, médias e pequenas fortunas ficaram fortemente abaladas, sentindo o efeito nocivo da epidemia, tendo a maior parte sucumbido, enquanto que os dois milhões de pobres existentes em Portugal, conscientes da sua marginalidade, assistem ao espectáculo, sem quaisquer receios e arrependimentos, porque a sua vida foi sempre pautada por orçamentos de rigor e escassez de meios. Estes cidadãos são os únicos que têm um sono mais tranquilo por não terem que se preocupar com as tais “Árvores das Patacas”.

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