sexta-feira, 22 de julho de 2011

TRÊS TELEFONEMAS

(INÉDITO)

Em pleno verão, passei a noite quase em vigília, atormentado pela temperatura de cerca de 40º que se fazia sentir no interior da minha casa. Com dificuldade em retomar o sono, veio-me à ideia, manhã cedo, vasculhar a minha agenda antiquária, onde tinha, registados, uns quantos nomes de meus ex-colegas da Escola Comercial dos anos 50.

Durante cerca de 60 anos, perdi o contacto completo com esses meus amigos, por exigências profissionais e familiares. Também tive a limitação imposta pela barreira geográfica do Oceano, quando regressei a África e, posteriormente, o meu desterro para o interior de Portugal com o distanciamento do litoral, absorvido pelos meus deveres profissionais assaz exigentes.

Como eu tinha os nomes completos e locais de residência de então, através da PT, consegui localizar uns quantos. Liguei então para o José Luís, para o José Miguel e para o Rogério. As surpresas foram distintas. O José Luís, a pesar dos seus 76 anos ainda trabalha, pelo que só conseguimos falar às 22H00. Nós compartilhámos da mesma rua e da mesma escola, mas o José Luís não tinha já uma ideia clara da minha pessoa. Fez-me uma série de perguntas para se certificar de que eu era de facto o seu amigo Rui, mas permaneceu com dúvidas. Achava que eu seria mais um vigarista que estava a telefonar-lhe. Despedimo-nos, mas no dia seguinte fui surpreendido com um seu telefonema, dizendo-me que depois de ter pesquisado na Internet, tinha-me encontrado no Facebook, pelo que me pedia desculpa por ter duvidado. Marcámos então um próximo encontro em Lisboa para nos revermos.

Quanto ao José Miguel reconhecemo-nos logo como antigos amigos, mas não conseguimos alongar a conversa porque ele sofre de surdez e o aparelho produzia-lhe ruídos auditivos. Ficou adiada também a nossa conversa para um encontro pessoal.

Depois destas tentativas frustradas de voltar a abraçar os meus amigos, senti-me desmotivado a prosseguir as minhas pesquisas para localizar outros que ainda andarão a penar por este mundo irreal, completamente diferente daquele em que nós vivemos há meio século.

O caso que mais me penalizou, foi o do Rogério. Este era um dos meus melhores amigos. Depois de se ter extinguido a C.N.N (Companhia Nacional de Navegação), onde ele era chefe das reservas de passagens, o Rogério transitou para outra empresa marítima, mas foi de imediato saneado, tendo a sua vida entrado em retrocesso. Deixei de ter o seu contacto. Quem me atendeu de sua casa, foi a sua mulher. Deu-me a triste notícia de que o Rogério havia falecido há cerda de ano e meio. Fiquei ainda mais pesaroso por saber que o Rogério estava ligado ao Museu Ferroviário do Entroncamento e que se deslocou por vários vezes ao Entroncamento e a Tomar, sem nunca o ter reencontrado.

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