terça-feira, 5 de julho de 2011

PESSOAS E COISAS

(PUBLICADO EM 31/10/08,

NA "CIDADE DE TOMAR")

É cada vez mais evidente que as pessoas se confundem com os objectos de uso diário. Por ironia, essa interacção é accionada pelo próprio homem que passou a escravo do progresso das novas tecnologias. São estas, através das máquinas – seus agentes de acção -, que dominam o ser humano.
Se atentarmos na nossa vida quotidiana, verificaremos que as decisões que tomamos se direccionam sempre no sentido oposto a uma aproximação humana e racional ao nosso próximo. Essa relação é frequentemente interrompida pela interposição dum objecto ou duma máquina que se apodera da nossa vontade e liberdade. Para ser mais conclusivo, cito a nossa viatura, o nosso computador, o telefone, o cartão de Multibanco, o televisor, o fogão, a máquina de lavar louça, o microondas, o esquentador, etc. Poderia alongar-me numa lista interminável de aparelhos e objectos de que somos escravos e dependentes.
Ficando este fenómeno apenas pela relação homem/máquina, não haveria a perigosidade de se perder a identidade humana. Infelizmente, o que há a temer, é o facto do homem estar a assimilar, inconsciente e gradualmente o domínio do objecto sobre o humano, passando a tratar-se mutuamente, como se fossem simples objectos. Assim, o comportamento humano para com o seu próximo deixou de ser pacífico e assumiu uma permanente confrontação de egoísmos e ambições que transcendem o normal e razoável, enveredando pelo domínio materialista. Podemos sintetizar esta relação em duas envolventes que se tornaram como prioridades para muita gente : a “ganância e a corrupção”.
Este procedimento tem uma grande dimensão nos interesses que se prendem com o aproveitamento das riquezas terrestres, minerais, agrícolas, florestais e a breve prazo dos oceanos e do espaço, que transcendem a capacidade de regeneração natural desses recursos, por serem ultrapassados os limites desejáveis. Como consequências profundamente nefastas, existem milhões de deslocados, de carenciados, de portadores de doenças epidémicas condenados à extinção prematura que passaram a ser tratados como simples “coisas”-
Depois da análise fria deste fenómeno real e presente, fazemos a seguinte pergunta: se Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque razão amamos as coisas e não as pessoas?!!! Enquanto esta mentalidade doentia subsistir, continuarão a haver crises sociais permanentes e cíclicas, com sérios e graves prejuízos para as classes desprotegidas, em prol das mais favorecidas que enriquecem ilegal e impunemente.


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