quarta-feira, 8 de junho de 2011

DO APRENDER A LER AOS HÁBITOS DE LEITURA

(ARTIGO PUBLICADO EM 01/12/2006,

NA "CIDADE DE TOMAR")

A leitura deve fazer parte dos nossos hábitos diários, tal como o comer, o dormir, os cuidados de higiene, etc.… Talvez que quem não sabe ler almejasse saber fazê-lo para enriquecer o seu conhecimento e cultura. Ao invés, a maior parte das pessoas que sabem ler, por razões várias, não se interessam pela leitura. Este desinteresse foi-se enraizando na maneira de viver das pessoas desde que surgiram os meios modernos mais sofisticados de comunicação e informação. Estou a falar da televisão e da Internet.
Quando se descobriu a escrita, por ser uma novidade, o desejo de aprender a ler era o mesmo que hoje despertam os novos meios audiovisuais de comunicação. Não estava ao alcance de qualquer cidadão a aprendizagem da interpretação da escrita, não só pela escassez de mestres do ensino, mas também por falta de meios para a aprendizagem normal e fácil. Os primeiros profissionais da escrita foram os escribas, passando depois pelos cronistas e poetas e mais recentemente pelos escritores e jornalistas. Toda a produção de escrita se profissionalizou e o seu incremento e desenvolvimento foi de tal ordem que, com mais ou menos qualidade, superou a capacidade de consumo dos leitores mais interessados.
Até meados do século passado, começava na escola primária a adquirir-se o hábito da leitura com o rigor da aplicação das regras gramaticais, dando lugar a uma plêiade de artífices da arte de escrita de elevada credibilidade. O ensino obrigava à leitura, em voz alta, perante o professor e a aula, da lição do dia, que a seguir era analisada gramaticalmente. Utilizava-se obrigatoriamente o dicionário de Português. A geração de então produziu muita literatura e textos jornalísticos de qualidade que certa nova geração está a dar continuidade. Pena é que todo esse trabalho não seja objecto da apreciação generalizada do cidadão. Este tem a sua atenção desviada para notícias fotográficas e aleatórias, estampadas nas revistas, de impacto imediato e atraente, por não querer fazer qualquer esforço de leitura. Por outro lado, não se deve considerar como válida a justificação do custo dum jornal ou dum livro como impeditiva do hábito de leitura. Apenas este se perdeu e com ele extinguiu-se o alimento cultural que enriquece e estimula a vivência do indivíduo. Gasta-se dinheiro com certas extravagâncias sem o retorno que só a escrita pode oferecer ao estímulo do nosso espírito.
Resta-nos a esperança que as novas gerações venham a redescobrir o gosto e a apetência pela boa leitura a fim de, através do enriquecimento do conhecimento e da informação séria, poderem enfrentar, os desafios do futuro, com maior tranquilidade, esgrimindo os seus argumentos válidos para a sua defesa pessoal e da própria sociedade em que se encontram inseridas.

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