domingo, 12 de junho de 2011

OS MABECOS E O CHIMPAZÉ

(PUBLICADO EM 06/04/2007,
NA CIDADE DE TOMAR)


Esta história situa-se na década de quarenta, num local algures da África equatorial, duma ex-colónia portuguesa. Os seus 5 protagonistas estiveram envolvidos numa situação dramática, que acabou por ter um desfecho feliz, com vencidos e vencedores.
Corria o ano de 1943, quando, numa madrugada húmida e quente, Fernando e seu filho João se deslocavam numa velha camioneta, a povos (aldeias) do interior, para fazerem a permuta de bens com as populações locais. Fazia parte da comitiva o ajudante da viatura, afro-descendente, de nome, Ezequiel, de 32 anos de idade. Fernando, era um colono, emigrado de Portugal, no início do século passado, contava 45 anos e dedicava-se ao comércio e indústria. Seu filho João tinha 8 anos e frequentava a (antiga) 3ª classe. Com a cumplicidade do pai e contra a vontade da mãe, faltava mais uma vez às aulas para fazer companhia a seu pai.
Nessa noite havia chovido copiosamente, como é característico da época pluviosa. A estrada, inteiramente de terra, estava repleta de buracos e lama, o que obrigava a precaverem-se com correntes para os pneus. Ao fim do longo percurso duma planície, onde o piso por sinal era bom, a estrada penetrou na floresta, deixando de se ver o sol avermelhado que se erguia majestoso e imponente, no horizonte. A camioneta resfolegava rolos de fumo, produzidos pela elevada temperatura da água do radiador, ao iniciar a escalada duma subida de cerca de 25º. Esse esforço dispendido, foi compensado pelo arrefecimento do motor na descida subsequente que culminava numa ponte de paus dum pequeno riacho, de águas cristalinas. Ao meio da descida, não obstante a perícia experiente de Fernando que conduzia a viatura, esta acabou atolada nos trilhos fundos da estrada empapada de lama
Imediatamente, Ezequiel tratou de pôr em execução a sua técnica habitual de socorro, montando o macaco por baixo da viatura para, elevando-a, permitir a colocação, no trilho, de alguns ramos de palmeira e, nas rodas traseiras, as respectivas correntes. Enquanto accionava a descida do macaco, a dobra das calças, da perna direita, ficou presa nas estrias do macaco. Foi precisamente, neste momento, que, da floresta, irrompeu uma alcateia de cerca de 25 “mabecos” (lobos africanos que vivem na África Central). Cresceram em direcção a Ezequiel, que, se debatia, desesperadamente, para se libertar do macaco. Fernando e seu filho João, que se haviam refugiado no cimo da carga, estavam estarrecidos com a situação delicada de Ezequiel, sem nada poderem fazer. Limitavam-se a gritar e acenar com os braços, na tentativa frustrada de afugentar os mabecos, sedentos de sangue.Como por milagre, surgiu da floresta, um Chimpanzé robusto (primata habitante das florestas da África litoral e central), que tomou posição entre Ezequiel e os mabecos. Estes preparavam o cerco àquele que já imaginavam ser a sua próxima vítima, servindo-se das suas ferozes e avantajadas mandíbulas para o estraçalhar. O Chimpanzé, fazendo-se valer da sua compleição física, ergueu-se imponente e autoritário, levantando os braços esguios e compridos. Começou a agitá-los, formando círculos bruscos no ar, acompanhados de rugidos ameaçadores que ecoavam pela floresta. Esta cena prolongou-se por bastante

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