domingo, 19 de junho de 2011

SAIR A BARRA DO TEJO EM CONTEMPLAÇÃO



(PUBLICADO EM 30/05/2008,




NA "CIDADE DE TOMAR")




Quem nunca teve a oportunidade de transpor a foz do Tejo rumo ao mar aberto, em busca de novos horizontes, não experimentou a sensação mais imprevisível e sensorial que nos arrebata pela transposição suave de quadro em quadro a paisagem ribeirinha emoldurada pelo acasalamento com a monumentalidade do património histórico.
Não resisto a fazer uma abordagem a este tema por achar que vale a pena os portugueses terem conhecimento e tomarem consciência do orgulho que devem sentir por disporem dum rio de ricas tradições e de relevante importância na projecção de Portugal no Mundo.
Saí a barra do Tejo por diversas vezes, a primeira das quais em 1951, quando regressei a Cabinda, minha Terra Natal, após ter concluído os meus estudos em Lisboa. Depois duma despedida emotiva no cais de Alcântara, instalei-me no beliche do s/s “Rovuma”, navio mercante da C.N.N. Mensalmente, um navio de carga, com 4 a 6 camarotes, fazia viagens directas a Cabinda, com escalas esporádicas por Santo Tomé e Príncipe. A viagem durava 3 a 4 semanas, consoante o estado dos ventos e do mar.
O maior momento da viagem tornou-se para mim inesquecível, porque à medida que o barco sulcava cautelosamente o rio Tejo, para evitar os baixios da foz, eu, postado no convés, debruçado sobre a paisagem ribeirinha, sem me aperceber, sentia-me invadido por sentimentos controversos nostálgicos, por saber que ia deixar Lisboa e por poder dentro em breve rever a minha Terra Natal que eu havia deixado há 6 anos. Sentia-me dilacerado e tocado por uma nostalgia antecipada ao ver perder-se no horizonte o casario colorido e os escassos carros que naquele tempo circulavam, culminando com as silhuetas do majestoso Mosteiro dos Jerónimos e da harmoniosa Torre de Belém. Depois deste baluarte da nossa Epopeia se perder no horizonte, a minha vista acabava por se diluir na torre do Bugio, última sentinela de guarda ao rio Tejo. Após a saída do piloto que levava o navio até fora da foz, um apito estridente assinalava o seu arranque para uma longa viagem até ao Equador. A viagem transoceânica merece um relato pormenorizado numa segunda parte desta crónica.
Esta breve crónica tem a primeira finalidade de apresentar o retrato duma época em que se vivia sem sobressaltos e com garantias mínimas de segurança, permitindo traçar planos futuros com tempo e circunstância, independentemente do regime ditatorial em que se vivia. Como segunda finalidade e a rematar, tem o propósito de lançar um desafio aos turistas portugueses e outros, que demandam as ilhas da Madeira e dos Açores, para gozarem as suas férias, que utilizem a via marítima, a fim de usufruírem de momentos únicos, inebriantes e contagiantes, de contemplação e percepção da carga histórica produzida pela projecção, do rio e de toda a sua envolvente, no Mundo, ao se misturar com o oceano Atlântico.

Sem comentários: